Capítulo 3

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  Acordei de mais um pesadelo. O mesmo pesadelo que se repetia todas as noites desde aquele dia de há 9 anos.

  A minha mente não se esqueceu de nenhum pormenor, o pesadelo permanecera fiel à maneira como realmente acontecera. A única diferença é que eu não poderia ter evitado o inevitável. 

  Mas agora? Agora sou nada no nada. Pois levaram os meus melhores companheiros. Dois anos depois de perder o meu irmão, o meu pai viera a falecer. Aconteceu no Inverno, numa noite tremendamente chuvosa, aquelas em que são tão frequentes as derrocadas e os deslizamentos de terra. Meu pai, Eduardo, Ed para os amigos, conduzia uma das muitas carroças puxadas por bois carregadas com mantimentos, destinados às lojas da nossa aldeia, vindos da cidade mais próxima, a grande Inis Witrin (a atual Glastonbury).

  Ed concentrava-se em desviar das pedras já arrastadas dos montes enormes de terra de 10 metros incrivelmente quase verticais, quando por infeliz acidente um enorme calhau embateu na carroça de meu pai, fazendo-a rebolar desfiladeiro abaixo, por entre rochas pregadas às rochas e um rasto de sangue pregado a sangue, providenciando a morte de meu pai e dos bois.

  Fechei os olhos e respirei calmamente, na tentativa de afastar essas memórias que persistem em continuarem gravadas na memória. Com a vontade contrariada, levantei-me dos meus velhos e poeirentos cobertores para verificar pela terceira vez o conteúdo do meu saco. Era o Dia da Partida. Como que por obrigação, relembrei-me da minha última conversa com a minha mãe, e de alguma forma, na altura, desejei que nunca tivesse chegado o momento. 

  Com a morte de Ed e de meu irmão, ela não teria condições para nos sustentar às duas. Assim, nesse dia, teria de partir para casa duma tia afastada, para que cuidasse de mim até à maioridade, altura em que eu já me poderia governar e ir para a Universidade da cidade. Esta acolhia meninos e meninas como eu, que tinham tutores sem possibilidades de pagar a Universidade frequentada pelos filhos de nobres e trabalhadores ricos, proprietários de grandes terrenos, senhores feudais de grande importância.

  A Universidade Primária era um sítio que acolhia rapazes e raparigas da minha classe social, que tinham uma preparação dos 16 aos 18 anos antes de entrarem para a verdadeira universidade.

  Com um último suspiro de despedida ao meu velho mas querido espaço, o qual eu dormia na cama de palhas com meu irmão; Passei pela porta entrando na sala onde se encontrava a minha mãe. Podia quase jurar que ela tinha uma lágrima no canto do olho esquerdo. Eu era a última coisa importante que ainda lhe pertencia, antes de passar pela entrada de casa e começar a dirigir à estação de comboios.

  Agora, eu só me pertencia a mim própria. E talvez à sorte. Aquela que nunca veio a chegar.

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora