Capítulo 46

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Capítulo perdido

  Niall jurava que algo de escuro se escondia por baixo das mentiras que Liam lhe costumava dar quando desaparecia sem dizer nada, quer quando estavam apenas eles os dois, a desfrutar de uma tarde preguiçosa, abraçados no sofá a ver algo que passasse na televisão sem sequer prestar atenção, quer quando estavam todos juntos, à exceção de Martha.

 - Deus sabe lá onde está e o que está a fazer essa rapariga - Mas Niall rapidamente arrependia-se, não só pelos olhares tristes que os outros rapazes lhe confiavam mas mais pela culpa que sentia por não poder fazer nada para aliviar Martha da dor que pudesse estar a sentir, ou da ausência da dor, visto que o pseudopsicologista, disse ele, " que será mínima no coração da rapariga jovem, pois as nossas sessões de terapia cuidarão de a fazer esquecer do sucedido, não se preocupem ".

 - Já decidiste o que vai ser o jantar? - Atualmente, o som da porta da casa a fechar e a voz de Liam soou pelas paredes da divisão em que Niall se encontrava, com o velho livro de receias da avó do rapaz por quem ele se apaixonou, que sempre preferia receitas com produtos naturais "àquel's queles hoje'ndia fazén", e a vontade de seguir a tradição, fez o rapaz de olhos amendoados convencer os outros viventes da casa.

  Mas Niall estava sério, e não eram beijinhos e abraços e muito menos a promessa de uma noite escaldante que o iria fazer desistir da conversa que ele queria ter com Liam, naquele exato momento em que o mesmo rapaz já começara a utilizar os seus dotes para melar ao rapaz loiro, sem mesmo saber o que estava para vir. 

  Liam finalmente entrou pela porta da cozinha, reparando imediatamente que algo no ar que rondava o seu parceiro, estava errado.

 - Precisamos de falar - Niall esforçou-se para não rolar os olhos quanto às suas próprias palavras, porque eram muito rodadas em todos os casais, e ele prometeu-se que quando chegasse aquele momento ele diria algo diferente e menos direto. No fim, não foi isso que acabou por acontecer.

  Foram essas três simples palavras que fizeram Liam atirar a mala tira-colo da Universidade para um canto indefinido da cozinha, sem qualquer preocupação quanto ao seu destino. Mas percebendo que não havia muito que discutir, pois depois do grande acontecimento ter dado lugar muitas semanas atrás, não havia mais nada que eles pudessem ter feito para mudar o dia-a-dia para melhor.

  Liam avançou até à mesa, do lado oposto de que Niall se encontrava, ficando a fitá-lo de frente, e deixou cair o resto dos traços de sorriso que portava na sua face, e, nervoso, agarrou o tampo da mesa esperando que Niall não notasse o quão brancos estavam os nós dos dedos.

 - Não vais negar nada do que eu disser, apenas confirmar ou responder - Liam alterou o peso que punha no seu pé esquerdo, e usou-o no direito. Engoliu em seco. Niall estava mais sério do que alguma vez Liam poderia pensar.

 - O que andas a esconder? Ou o que não ME andas a dizer? Eu pensei que já tinhamos ultrapassado a fase dos segredos - Podia, também, ter saído mais inteligente. Mas Niall nunca teve jeito com palavras e não seria naquele momento que elas iriam fluir filosoficamente e contornar a situação, de modo a torná-la boa e sem ninguém sair chateado por ser confrontado.

  Niall começou por ter essas dúvidas, definidamente, no dia em que falaram com Martha, e Liam chegara atrasado, mais uma vez. Essa situação espetou um desconforto muito incómodo no fundo do estômago de Niall, e a partir daí ele não deixou de pensar nas evidências.

 - Tu vais ficar muito zangado - Liam explicou, calmo, embora Niall soubesse que essa era apenas a definição exterior de um Liam muito nervoso em situações idênticas. Foi difícil comunicar as notícias a Martha sobre Harry, mas naquele momento também estava a ser difícil ter aquela conversa.

 - Vou. - Niall confirmou com a cabeça e com uma palavra muito firme.

 - Mas sei que saberás o motivo. Sabes o motivo, não precisas de estar ao corrente das notícias cá de casa. - Harry. A situação era Harry. Niall sentiu suores frios, e viu que também Liam tinha sentido o mesmo, tal foi o tremer do seu corpo a anunciá-los e à pele de galinha que preenchia aos braços e nucas de ambos.

  O silêncio estabeleceu-se à sua volta, e Niall partiu do princípio que Liam ou ía direto ao assunto, que ele tinha uma pequena ideia do que seria, ou então, o que ele muitas vezes fazia, e provavelmente naquele exato momento, que era explicar e dar voltas ao jardim antes de chegar, por um labirinto, à fonte, o problema.

  Liam, que parecia estático tal como Niall, excepto que os olhos do primeiro estavam fixos na mesa enquanto que os do rapaz loiro olhavam Liam, momentaneamente moveu o braço esquerdo, que, com a mão, pescou algo guardado no bolso de trás das calças do rapaz moreno e musculado, até pousar o conteúdo em cima da mesa, à frente de ambos.

 - Lembras-te quando fizemos Zayn beijar a Martha? Para a fazer esquecer d- - Era preferível não dizer o nome. Ambos o sabiam. Ambos sabiam que maioritariamente o nome do rapaz era proibído de pronunciação desde que todos se reuniram para discutir os eventos não-tão-normais que ocorriam na casa, com conhecimento dos rapazes, que decidiram não meter Martha naquilo. Harry estava mais perto deles do que eles pensavam, e menos saudavelmente do que eles viriam alguma vez a tê-lo de perto.

  Niall acenou com a cabeça, a cara pálida pela vista do maço de cigarros à sua frente que era consumido, matando a pouco e pouco, o homem, que ele amava, à sua frente. O pensamento fê-lo, mais uma vez, estremecer.

- Muito antes de ele realmente realizar o plano, foi quando comecei a lidar com a situação à minha maneira. Não te consigo pedir desculpa, não porque não esteja arrependido de te fazer preocupar, com razão, mas porque... parece errado - Liam continuou, e Niall notou a quebra nas palavras finais que ele pronunciara, e sabia que a situação era preocupante não só porque Liam estava a fumar, mas sim porque Liam estava a sofrer, e escolheu uma forma ligeiramente diferente de se massacrar. Literalmente falando.

  Liam cobriu a face com as suas duas mãos, e isso foi tudo o que levou para Niall contornar a mesa para o apertar entre os seus dois braços. Liam não estava a chorar, como ele pensara, mas a sua cara, agora descoberta das grandes mãos, que apertavam a cintura de Niall, tinha uma expressão muito parecida à do mesmo sofrimento. 

 - Eu amo-te - As palavras não foram ditas, mas Liam sabia que elas estavam presentes entre os lábios que Liam e Niall juntavam.

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora