Capítulo 47 - Epílogo

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  Martha tremeu pela falta de roupa que tinha, ali, à frente de Harry. Ela não se preocupava muito com o seu bem-estar, naquele momento, para ser honesta. Não naquele momento. Nunca naquele momento.

  Estava um pouco de vento, o suficiente para mover cada pedacinho de relva no chão, e a mesma quantidade para abanar as árvores e as suas folhas, presas nos seus longos ramos. Mas o céu apresentava um azul triste, como ela, e a cada minuto um tom mais escuro, de acordo com o anoitecer. Martha não prestava atenção a isso. Não naquele momento. Nunca naquele momento.

  Ela antecipara que quando aquele momento chegasse houvesse, como nos filmes, uma música  de fundo calma, triste, de partir o coração, para provocar sensibilidade nos visualizadores e, embora parecesse que também estivessem a ouvir, nos atores. Mas ela não estava a ouvir nada, só o sussurro da aproximação de uma noite violenta no vento que passava pelos seus ouvidos e resto do corpo. Martha não sabia o que fazer. Não sabia o que pensar, em palavras, para si própria. Se fosse essa a ideia, ela estaria, pelo menos, a rezar; o que mais sentido fazia, naquele momento.

  Ao princípio, quando ela ali chegara, caíra desolada em frente à lápide. Como não podia? A dor era suficiente para partir o seu coração já despedaçado, e nunca em toda a sua vida ela desejava que isso acontecesse literalmente. Que o seu coração ficasse rasgado, porque os músculos não se podem realmente partir, e que ela morresse instantaneamente pela hemorragia interna, ou pela paragem de coração; não importava realmente. Apenas com a condição de que a dor parasse, que o mundo parasse, que ela pudesse, até, regressar atrás e refazer tudo, momento por momento, mesmo com as dores anteriores do passado, tudo incluído. 

  Depois de estar por momentos infinitos, ou até um minuto, talvez 5 horas, Martha nunca poderia dizer ao certo, ali ajoelhada no chão, depois desse tempo, foi o suficiente para despertar algo nela. Não foi nada lógico, não, pelo menos, para uma pessoa como ela, que começara aos berros e berros para um pedaço amolgado de pedra que assinalava a presença de um corpo morto, um a dois metros abaixo de si, na terra. Não, não "um corpo", mas Harry. Harry, o seu Harry.

 O mesmo Harry com quem ela desejara passar muitas mais noites agarrada, em silêncio, porque as palavras nunca eram de muito uso entre eles os dois, para quê palavras? Nada de palavras. Só a presença um do outro, na mesma cama, pele a pele, até roupa a roupa, mas juntos. Juntos é que importava. E não seria, nem era, e muito menos será, o mesmo, ela ajoelhada à frente do corpo de Harry, já não vivo, porque a palavra sinónima era demasiado errada.

  Harry não estava nem nunca estaria morto fisicamente à volta de Martha, porque mesmo quando ele estava vivo, embora pudesse estar noutro quarto ou muitos metros afastados, Harry estava sempre presente nela. A colónia, que os outros rapazes tentavam ignorar, presa às suas camisas e camisas de noite, o sorriso na sua cara sempre que se referiam ao rapaz, uma simples menção do seu nome e já o sorriso vinha a léguas. O sumo preferido de Harry, sempre pronto à sua espera na mesa da cozinha. Até o fantasma de Harry, embora ele já estivesse morto muito antes de ela começar a trabalhar, presente, a protejê-la, a relembrá-la que ele ainda estava muito vivo.

  Mas os outros rapazes, se não acreditassem se ela lhes explicasse, seriam estúpidos. Sim, eles definitivamente eram estúpidos. Estúpidos por mandarem-na para um pseudonãoseiquê, estúpidos por marcarem consultas para a fazerem (e fizeram) esquecer da dor da perda do rapaz que estava morto, e ela ter sido consequentemente enganada. Mas é claro que eles lhe disseram, mais uma vez. Como não podiam? 

  Martha estava a sofrer e eles não podiam vê-la assim, desamparada, ignorante ao facto da morte de quem ela amava, embora esse tivesse sido o primeiro plano, porque não havia outra escolha. Mas agora, que ela sabia de todos os acontecimentos em consciência: de Harry sempre ter tido aquele cancro maligno no coração e ela nunca ter descoberto até ao momento que foi submetida em sessões que lhe apagaram essa memória, e depois, quando a voltaram a informar, de Harry ter morrido, num dia em que ela nem estivera em casa, e quando a ela chegou, foi recebida por caras destroçadas e informadas da perda, até que Martha ficara desamparada e os rapazes decidiram que seria o melhor ela ser vista por especialistas, e apartir desse momento fora história.

 - Não, eu não quero fazer nenhuma operação. - Harry explicara a todos os rapazes, numa noite em que se tinham reunido para discutir o acontecimento, pois Harry viera a ter sangramentos súbitos e muitos mau-estares - Eu quero viver a minha vida o tempo que Deus me deu para fazer tal.

  Até que chegara o seu dia, e Niall chorara agarrado ao corpo de um Harry muito pálido e com lábios roxos, que quisera realizar a vontade de Deus e não a dos seus amigos.

  Martha já tinha chorado, muitos meses depois de ficar com nova pelas sessões, o suficiente por cima da sua campa, e mais nada ela poderia deixar. As flores, que ela colhera no caminho para lá, jaziam por baixo do nome de Harry e da sua data de nascimento-morte. Também o papel amachucado que Martha viera a receber pelas mãos de Liam, que dissera que o encontrara dentro de um livro que, não sabia ele como (ele sabia como), estava por baixo da almofada da cama do sótão; agora, porém, estava, de novo, dobrado na sua original forma e deixado como presente em cima da cama de flores e relva que tapava o para-sempre-em-descanso corpo de Harry. O Harry que ela amou, mesmo não sabendo, o Harry que ela ama, que deixou dor e lágrimas, e o Harry que ela sempre amará, embora apenas em pensamentos e memórias, e arrependimentos de não poder ter aproveitado quando podia, a sua presença.

  Matha respirou, numa inspiração sonora e expiração silenciosa, o ar da noite jovem que nascia no céu e ao seu redor, relembrando-lhe que era a hora de voltar para casa.

  Martha não olhou para trás, no caminho para ela. Martha sabia que não podia olhar para trás.

  O vento veio e foi, mais forte, convencido que a noite era sua, e, na curiosidade, abriu o papel que jazia na relva, dobrado apenas em um, fazendo visíveis as palavras nele escritas, para o que quer e quem quer que as quisesse ler, embora apenas uma criatura, para quem elas estavam dirijidas, percebesse o enorme significado por de trás delas.

  "Sei que pensas que foste tu que me encontraste. Mas acredita, amor. No fim, fui eu que te encontrei."

  Isto é o fim :) 

  Foi a minha primeira fic, e estou muito grata por todo o apoio que vocês me deram, embora não o sabendo! Tanto em comentários, como em votos e até mesmo o número de visualizações sempre a aumentar, deram-me motivação para continuar, e, por fim, acabar este meu trabalho :)

  Há avisos que, mesmo muitos de vocês podendo não ligar ou importar, sinto que devo fazer!

  No capítulo em que é explicado como Louis foi, falsamente, morto, a ideia não é verdadeira! Não tenho nenhum conhecimento médico ou de qualquer outro tipo de que a bala com veneno seja, de facto real, e se assim fôr, é pura coincidência!

  Noutro ponto, houve livros que me inspiraram e me motivaram para a construção e criação desta fanfic, e para curiosidade e interesse, deixo a lista em baixo:

O Braço Esquerdo De Deus - Paul Hoffmann

Um Passado Para Esquecer - Penny Jordan

 Oníris: A Dádiva Dos Deuses - Rita Vilelaa

A Sacerdotisa de Avalon - Marion Zimmer Bradley

Ruta Sepetys - O Longo Inverno

  Apenas isto.

  Para quem quisere ler mais das minhas obras, e falar comigo:

  Wattpad - @rutesofia

  O meu tumblr - rutegomes.tumblr.com

  Um final muito obrigada :)

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora