“Já se interrogaram o quanto vale uma vida humana?” Naquela tarde, a do meu irmão valeu apenas uma nota de cinco.
Na parede de xisto da sala, o relógio de metro e meio marcava as dez para as quatro duma linda tarde de Primavera. O meu irmão estava deitado no chão de madeira encerado que a minha mãe tanto cuida todos os sábados, pontualmente.
Enquanto meu irmão se entretinha a tentar ler o jornal do dia anterior, eu estudava a lição e fazia os deveres desse dia. Tarefa fácil para mim pois nunca tivera dificuldades em literatura e escrita.
Sorri ao ver rugas na testa do meu irmão, as sobrancelhas numa posição em que raramente as via. Culpa das palavras, pensei. O meu irmão ainda não sabia ler.
Inesperadamente, ouvia a minha mãe do seu quarto a gritar o meu nome, seguido pela ordem de ir buscar pão para quando o pai chegar. Lancei um olhar suplicante ao meu irmão para que ele viesse comigo. Ele entortou a boca pelo aborrecimento de se levantar e ter de andar meio quilómetro até à aldeia.
Enquanto deixava os seus pensamentos em conflito, fui ter com a minha mãe para buscar uma nota, quando vi a imagem familiar dos seus olhos rodeados por sombras bem acentuadas, marcas das suas noites mal dormidas e pelas suas preocupações constantes.
Depois de receber a nota e de tê-la guardado no meu pequeno bolso dos calções, ouvi-a a avisar-me para ter cuidado e voltar depressa.Desci à sala onde se encontrava o meu irmão no mesmo sítio, mas já levantado e com uma expressão mais animada, andando sem parar para o nosso longo caminho destinado à aldeia.
A terra batida debaixo da sola dos nossos pés estava quente, tentando encontrar na pele dos nossos pés a suplicante frescura da chuva do rigoroso Inverno. As árvores abanavam com a mais leve brisa da primavera, deixando passar finos raios de sol por entre as folhagens, iluminando o nosso sombreado caminho, como luzes de lanternas a dançarem no chão castanho.Ouvia-se o cantar de um pássaro que eu desconhecia, e que chamou a atenção de meu irmão. Ele olhou para mim, reparando que eu observara os seus olhos a passearem pela paisagem à procura do pássaro. Sorri para ele, observando os seus pequenos mas vivos olhos azuis que brilhavam à leve mas existente luz da tarde da Primavera. Soubesse eu que seria a última vez que o via sorrir.
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A.N.:
Não sou muito adepta de fazer notas de autora, ou de comunicar com os meus leitores (em parte porque não sei como fazer ou o que dizer), mas quero agradecer a todos e a cada um de vós por usarem um pouco do vosso tempo a lerem esta minha primeira fic. Desde já, alcançei as quase quatro mil visualizações e os 140 votos :) Por isso, muito obrigada a todos! Quero, também, que saibam que tenho uma nova fic, que coloquei no link externo. Não se sintam envergonhados ou com medo de falarem comigo por mensagens, estou cá para quem quiser!
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I Found You (An Harry's Fanfic) em Português
Fanfic" I was lost. 'Till I found you." © rutesofia