Capítulo 23

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  O que acontecera, simplesmente aconteceu, faz parte do passado. E todos sabemos que não se pode mudar o passado. Porém, ele pode-nos mudar. E Louis parecia afetado pelo seu distante e secreto passado, o que de certo modo também me afetava. E afetou, pela sua ausência num período importante do meu crescimento.

  Contudo, estava prestes a descobrir o que se passara e a acabar finalmente com aquele ar pesado à minha volta e de Louis, que se fechava em si próprio, aumentando a dor minúscula no meu coração. 

  Ainda duvidava da sobrevivência supostamente impossível de Louis, apesar de ele estar bem à minha frente, a respirar. Reparando bem, ele parecia ofegante. De nervosismo, talvez. Era possível que fosse difícil para ele revelar-me a verdade. Eu merecia sabê-la, e penso que ele compreendia isso. 

  Não tínhamos entrado outra vez no Castelo, seguíamos o caminho que dava para as colinas de Mendip, e com seguinte para a casa da minha Tia. Eu permanecia calada, à espera que Louis iniciasse a sua tão ansiada explicação, e dei-lhe o tempo que provavelmente ele necessitava. E confesso que nunca tive de esperar tanto tempo na minha vida, embora tivesse sido apenas uns vinte minutos.

  Já estávamos a uns próximos dez metros da acolhedora casota em que eu agora residia, o que despoletou em mim uma onda de felicidade que se alastrou por parte da minha cara, fazendo este pensamento surgir em mim com um sorriso. Simples, mas notável. A pouco e pouco, ele desapareceu, pois Louis passara pela casa e continuava a andar. E com ele, andava também eu. Confiei nele, sabendo que estava decidido em chegar a um sítio que obviamente conhecia, desprezando a possibilidade de andar à toa.

  Avistei um miradouro, com muitas árvores que balançavam com o famoso vento que percorria a toda a hora as colinas de Mendip, e um afetuoso banco convidava a nos sentarmos, apreciando uma bonita vista e uma boa conversa. E umas esperadas revelações.

  Louis sem avisar sentou-se no banco, esperando que eu também o fizesse. Sentei-me a seu lado, respirando o delicioso aroma que se encontrava no vento, que provavelmente o trazia lá de longe. Quem sabe, de flores. Porque estou a mentir? Talvez de Harry ou Zayn.

- Chama-lhe de milagre, mas a bala não me atingiu o coração. - Ele matou o silêncio, assim como a  minha curiosidade. Porém, ainda era difícil de acreditar.

  Olhei para Louis, que estava pálido, talvez mesmo gélido.

 - Tu estiveste morto nos meus braços. - Disse-lhe o que me dizia a mim própria durante estes nove anos, fazendo-me acreditar que não havia retorno.

 - Não estás a perceber. - Louis olhou-me, profundas rugas na sua testa.- Eles fizeram aquela merda, mas ajudaram-me.

 - Eles? Foi o outro que te alvejou. - Disse-lhe, das imagens já um pouco apagadas pelo tempo na minha cabeça.

 - Mas nem todos ajudaram. Foi o que me alvejou que ajudou. Mas não me explicou porque o fez. - Louis movimentava as mãos numa tentativa de demonstrar também por gestos o quão difícil aquilo se estava a tornar.

 - O teu corpo... desaparecera. - Disse-lhe, relembrando a asneira que tinha feito. Comecei a sentir lágrimas a formarem-se nos meus olhos, mas não as deixei vencer. Ainda não.

 - Eu... desapareci? - Louis questionara-me, vendo que tinha também que lhe revelar algo.

 - Quando... foste alvejado, - reuni as forças para lhe contar o que muito me arrependia de ter feito.- E te abracei, vi que estavas morto. - Olhei-o nos olhos para verificar como a pouco e pouco ele reagia.- E encontrava-me tão vazia e perdida, sem saber o que fazer. - Respirei fundo, estava a conseguir.- Eles tinham-me deixado ali, contigo, e ninguém apareceu para ajudar, apesar de muito provavelmente terem ouvido o tiro.- Engoli saliva para tirar o seco que se fazia sentir na minha garganta, e de seguida, respirei fundo. - Eu pensei que tinha de, obviamente, chamar a mãe e o pai. 

 - O que me fizeste? - Louis perguntou, assustadora e surpreendentemente adivinhando o que acontecera.

 - Louis, tens de perceber. - Comecei a desculpar-me, a força na minha garganta a começar a desaparecer com o medo que aparecia paradoxalmente em Louis.- A casa era longe, e tu eras pesado para o meu corpo de criança. Eu não te podia arrastar até casa. E pior, morto.

 - Tu deixaste-me? - Louis gritou, levantando-se bruscamente do banco, o meu olhar seguindo o corpo com fúria de Louis, e fazendo lágrimas começarem a percorrer ambas as nossas faces.

 - Fui a correr para casa dos pais, deixando-te onde foste alvejado. - Expliquei, com medo que ele não me pudesse compreender.

 - Porque me deixaste? - Louis defendia o seu ponto de vista com garra. mas eu não percebia. Que queria ele que eu fizesse ?

 - Tu estavas morto. - Defendi - Quem iria te roubar ?

 - Contudo, fizeram-no não foi? - Ele contra-atacou, ganhando.

 - Eu não estava à espera. Os pais não estavam à espera. Foi uma surpresa para nós quando chegámos ao local e não te vimos, só vendo a nódoa de sangue no chão, e um rasto de sangue que desaparecia um pouco mais à frente. - Expliquei algo que provavelmente ele não sabia, ganhando assim terreno nesta conversa.- Ninguém estava à espera.- Repeti.

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora