Capítulo 9

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 Abri os olhos e reparei como os raios de sol invadiam a maior parte do já familiar compartimento.

 A senhora idosa já não se encontrava onde eu a antes vira, mas ao contrário dela, Zayn estava presente. Estendido sobre o longo comprimento do banco, a sua mão direita servia de almofada, e a sua esquerda pousava delicadamente sobre a sua tapada barriga.

Pensei que estivéssemos quase a chegar a Inis Witrin, devido ao movimento constante de pessoas com os seus pertences no corredor comum.

  Acordar Zayn talvez fosse boa ideia, tirando o receio de ele poder reagir mal à minha ação. Decidi arriscar, levantando-me do banco ao qual eu adormecera sentada, estalando vários ossos, em queixa à dorida posição.

  Zayn parecia um boneco de cera perfeito, eu não encontrava nenhuma imperfeição no seu jovem rosto. Até mesmo a aparente sujidade contribuía para o fazer mais bonito. Tinha as densas pestanas sossegadamente pousadas no topo das morenas bochechas. A boca ligeiramente entreaberta, com os lábios a tremer discretamente ao ritmo da sua respiração. O seu cabelo estava selvagemmente despenteado, o que lhe dava o seu habitual, mas para mim recente, ar atraente.

  Devagar, pousei a minha mão no seu ombro, inclinando-me para ele.

 - Zayn? – Disse, enquanto o abanava levemente. Ele continuava adoravelmente adormecido, e até metia dó acordá-lo, mas tentei novamente, falando mais alto e abanando-o com mais força.

 - Ei, Zayn – Falei, enquanto ele abria os olhos e me mirava, um pouco envergonhado pelo meu gesto.

 - Bom dia – Zayn pronunciara com um leve sorriso, sentando-se e passando os seus dedos por entre os seus cabelos.

 - Bem, parece que estamos quase a chegar. O Niall? – O meu olhar procurava-o inutilmente pelo minúsculo compartimento, na escapatória de ter de dizer algo ao Zayn acabado de acordar.

  Zayn levantara-se e foi para o banco ao pé da janela, abrindo-a, e já acendera um cigarro quando começou a falar.

 - Deve ter ido à casa-de-banho do comboio. Nada mais. – Explicou, expirando uma doce baforada. – Bem, também pode ter ido pensar na vida. A dele não anda propriamente bonita.

  Deu a sua última passada no cigarro e fechou a pesada janela, sentando-se à minha frente de seguida.

  Também lhe faleceu um familiar? – Merda. Eu disse “também”?

  Olhando-me surpreso, mas não ofendido, Zayn franziu os lábios entre si, dando passagem a um silencioso suspiro momentos depois.

 - Oh, não. Nada disso. Foi só uma traição. – Zayn ainda voltou a olhar para as suas mãos antes de continuar a falar, e a fitar-me. – É, sabes … num dia, eles estavam felizes. Pelo menos Niall estava. Muito. – Fez uma pausa antes de continuar, pensando nas próximas palavras – Noutro, ela disse-lhe que tinha ido ver as estrelas, numa noite, com um amigo seu. – Desta vez, deu um longo e sonoro suspiro, e era notável que as palavras a serem ditas já estavam bem preparadas – Mas a menina esclareceu o Niall de que eles chegaram a ver as estrelas duma forma diferente da que tinham planeado.

  A minha boca abrira-se num enorme “O” e os meus olhos esbugalharam-se como nunca.

  Tentei dizer algo. Mas o que poderia eu dizer?

 - Niall chorou muitas noites depois dessa revelação. O que não parece credível. Ele é tão aparentemente forte. – Zayn disse, fazendo-me acreditar que eu nunca deveria me apaixonar, porque eu perderia muita coisa.

  Ele não me deixou continuar a pensar, pois falou de novo.

 - Sabes o que é … Num dia pensares o quão sortuda és por ter alguém que te faz feliz pelo simples facto de estar contigo, e convences-te a ti própria de que a vossa relação vai funcionar, que não queres mais ninguém a não ser ele. E no dia a seguir percebes que tens estado errada o tempo todo, e que ele te trocou por alguém que nunca o vai amar como tu o fizeste. – Desviei os olhos das minhas mãos e olhei profundamente Zayn, surpreendendo-me por ver lágrimas timidamente escondidas nos seus olhos. – E depois… - Elas perderam a timidez e rolaram pela triste face de Zayn – vês-te sem rumo. Porque essa pessoa era a tua razão para tudo. Os teus dias passam a cinzentos. A própria fome perde o apetite. – As lágrimas deram lugar a soluços e a mais lágrimas, deixando de haver lugar para quaisquer palavras.

  Zayn também deve ter passado pelo mesmo. Perdi a vergonha e abracei-o forte, dando-lhe o meu ombro para ele se livrar das dolorosas lágrimas e para a minha camisa se livrar da sua eterna secura.

  Ele apertou-me sem medos, e aproveitou a única e primeira oportunidade de apoio que lhe estava a ser dada, e que eu duvidava que alguma vez lha tivessem oferecido.

 - Dói tanto … – Ele soluçou, apertando-me. Talvez estivesse a fazê-lo para eu compreender o que o seu coração sentia. Eu compreendi o que é perder alguém de quem se adora.

  Respondi-lhe com mais um aperto, que o fez certamente sentir bem nos meus acolhedores braços.

  Era triste saber o quão ele estava vulnerável e não saber o que fazer ou dizer para ele parar de chorar.

  Sentindo os seus cabelos nos meus dedos enquanto os massajava, permitia a Zayn deitar a sua cabeça no meu ombro, o que o acalmou de certa forma.

  Eu tinha perdido Louis, mas nunca sofrera de uma traição ou de um terrível desgosto amoroso. E ao observar os olhos fechados de Zayn e sentir a sua já calma respiração no meu pescoço, fez-me prometer algo a mim mesma. “Algo que não é difícil”, assim pensei. Nunca me vou permitir apaixonar por ninguém.

   Semanas depois, quebrei a minha própria promessa. E estava errada. Tão estupidamente errada.

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora