Capítulo 12

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  Guardei cautelosamente o papel debaixo do colchão, tal qual como ele estava, e saí do quarto. Desci vagarosa e silenciosamente as escadas com medo da reação da minha Tia. Ter-se-á ela apercebido que eu chegara ?

  Passei pela sala e confirmei a ausência dela no sofá, bem como a do copo com água na pequena mesa.

  O barulho vinha da cozinha, e deduzi que ela estivesse a fazer algo para o almoço, o que despertou a minha fome adormecida há doze horas. Estivera tão nervosa, e a lidar com tantas situações difíceis que me limitara a ignorar o desconforto que sentia na minha barriga.

  Avistei a minha Tia, de costas para mim, a fazer talvez algum trabalho que envolvesse as mãos e uma faca, devido ao movimento dos seus ombros e ao barulho de algo a ser cortado sem piedade.

 - Tia? - Pronunciei, cortando o clima de suspense que me rodeava.

  Ela saltou de surpresa, virando-se rapidamente, com os seus olhos a fitarem-me de puro espanto.

 - Martha? - ela quase gritou, lembrando-me a mim mesma do meu próprio nome.

  Sorri, com o feliz (mas estúpido) pensamento de que ela sabia da minha existência.

 - Eu cheguei à uma hora, tia. Bati à porta, e como ninguém a abriu, eu decidi entrar, mas surpreendi-me por encontrar a senhora deitada no chão com um copo partido ao lado, e com os medicamentos espalhados - introduzi, fazendo notar na minha voz que eu estava nervosa em relação ao que se tinha passado, e verdade seja dita : a minha Tia não parecia nem um pouco preocupada com o que eu lhe dissera.

  Um sorriso iluminou o seu rosto, e tal coisa eu pensava nunca vir a acontecer, e agora que aconteceu, não foi assim tão mau. Há quanto tempo ela não falava com alguém?

 - Oh, não te preocupes querida. - ela falou, enquanto lavava as mãos e punha os pedaços de cenoura no grande tacho que se encontrava a aquecer ao lume. - Acontece muitas vezes ao dia. - O quê ? - Só que eu hoje acordei no sofá e não num sítio onde adormecera umas horas antes.

  Ela avaliou a minha cara antes de continuar, sem ainda ter perdido o sorriso na cara.

 - Eu sofro de Narcolepsia. Adormeço a qualquer altura do dia sem poder controlar. Eu tomo medicamentos, mas não é o suficiente para impedir de acontecer. Umas quatro a seis vezes ao dia, dura pouco. Mas é mais frequente quando durmo mal a noite. - Terminou, acabando de esmagar pedaços de abóbora, e juntando-os de seguida aos bocados de cenoura no grande tacho.

  Depois de eu ter absorvido os pontos mais importantes daquela conversa, e das perguntas na minha cabeça já não serem tantas, falei-lhe do quarto que já adoptara como sendo meu, o que ela não contrariou, confirmando que era mesmo esse que me estava destinado.

  Passámos o almoço a falar sobre gostos literários, uma conversa que nunca pensei a vir ter com ninguém, pois raramente partilhava coisas íntimas. E para mim, as minhas únicas leituras eram coisas íntimas. Não queria saber da opinião de ninguém em relação a elas, assim como também não comentava acerca das leituras de ninguém, não só por falta de conhecimento, mas também por ser uma exploradora caloira no campo da opinião e do argumento.

  A seguir ao almoço, a minha Tia insistiu em ser ela a lavar a loiça, opondo-se à minha oferta de ser eu a executar o trabalho. Sentei-me no velho sofá a pensar como seria a Universidade Primária... já amanhã. A minha Tia voltou 10 minutos depois.

  Não a querendo ofender por ela se isolar e não buscar nada ao exterior, disse-lhe que eu poderia ir à cidade para lhe fazer umas compras, o que ela aceitou ainda um pouco receosa.

  Fiz uma lista das coisas que ela me foi ditando, e ocorreu-me perguntar-lhe o nome. "Tia" não era propriamente confortável.

 - Helena - ela disse com um sorriso, os seus olhos pretos a brilhar -, mas trata-me por Eilan - abreviou ela, e eu sabia muito bem do que ela se estava a referir. A Sacerdotiza de Avalon retrata a história de uma figura com o mesmo nome que a minha Tia. Terá ela o dito de propósito ? O brilho nos olhos dela dizia-me que sim.

  Depois de tudo esclarecido, saí de casa com uma nota na mão. Uma nota de cinco, pensei. Engoli em seco, enquanto andava por uma estrada que já percorria há uns minutos.

  Estava um pouco receosa e relutante em saber da existência da palavra "pão" na minha lista de compras e de uma nota de cinco na minha mão direita. Será uma simples coincidência? Acabara por não ser...

I Found You (An Harry's Fanfic) em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora