Capitulo 1

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Tentei tantas vezes ser amada, mas entendi com o tempo, que o amor não é para todos. Alguns de nós nascemos para não serem amados e eu fui uma delas.
Desde muito cedo, ainda na adolescência, procurei ser amada, mas não consegui. Os homens com quem me relacionei foram paixões momentâneas, daquelas que nos fazem ficar totalmente irracional, mas no fim, eram só casos. Não porque eu queria que fosse assim, mas porque se enjoavam de mim.
As vezes me pego pensando. "Será que sou tão horrível assim, para que nenhum homem assuma algo por mim?"
O ciúmes machuca, sufoca e destrói e minha insegurança me faz ser possessiva, obsessiva e louca. Todos estes relacionamentos, me fizeram ser o que sou hoje, fria e obcecada por liberdade.
Trabalho como alfabetizadora, dedico minha vida a ensinar a adultos a ler e escrever, muitos amigos dizem que sou louca de escolher uma profissão que paga tão pouco e não é respeitada hoje em dia.
O que posso dizer? Sou uma louca que prefere ganhar pouco, mas que adora o que faz. O brilho que vejo no olhar de alguém que nunca pôde estudar, mas que com determinação e força de vontade, finalmente consegue juntar uma sílaba e compreender que com esta mesma sílaba pode montar uma palavra, é recompensador, faz a diferença em meu mundo. Tudo faz sentido.
Meu último relacionamento, não foi nada agradável, me acostumei a terminar. Isso já não faz mais diferença, tento não me apegar, mas minha ânsia por formar uma família é tão grande que acabo sofrendo até quando não me apaixono.
Joaquim, era intenso e até carinhoso em alguns momentos, mas isso não evitou que me traísse por diversas vezes.
Esquecer Joaquim não foi tão difícil, mas sofri por saber que perdi mais uma oportunidade de conseguir uma família.
Por desespero resolvi colocar um anúncio no jornal, mas não esperava ter uma resposta.
Acordei no domingo, para ler o anúncio. Corri até a varanda e peguei o jornal, quando o abri, fui aos classificados, passei os olhos e me arrependi.
" Mulher trinta e cinco anos, acima do peso, morena clara, olhos esverdeados, 1.66m. Procura homem para casamento, a quem se interessar, entre em contato através do e-mail: sonhadoraangelical@gmail.com".
Onde eu estava com a cabeça? Com certeza receberia e-mails de pervertidos, ou idiotas, mas quem está na chuva é para se molhar, então vamos lá.
Acendi um cigarro e andei de um lado para o outro, liguei o notebook e entrei no e-mail. "Nada ainda" - pensei alto.
Comecei a preparar a aula que daria na segunda, mas meus pensamentos estavam a mil, não conseguia me concentrar.
Estava sentada de frente a janela da sala, observava as folhas das árvores se movendo com o vento e isso me deixou nostálgica. Coloquei um pouco de café na xícara e comecei a beber, de repente, ouvi o barulho da mensagem chegando e levei um susto, isso me fez derrubar café na camiseta que estava vestindo.
- Droga! - Esbravejei.
Quando abri o e-mail, comecei a ler e não acreditei.

De: seuhomem@gmail.com
Para: sonhadoraangelical@gmail.com
Data: 9:53am 21/09/2010

"- Sonhadora, achei interessante seu anúncio e mesmo achando loucura e até desesperador de sua parte, resolvi responder". Peço para que não responda mais nenhum e-mail, creio ser a resposta para seus pedidos. Procuro uma noiva, preciso me casar em menos de dois meses e espero que possamos nos encontrar. Meu nome é Igor, não há necessidade de falarmos de sobrenome, até porque nem seu primeiro nome eu sei.
Encontro você na terça-feira às seis da tarde no café Burbom. Abaixo está o mapa com o endereço. Aguardo a senhorita, peço que use um vestido vermelho e o cabelo preso, assim saberei quando a vir.
Atenciosamente, seu homem.

-------Mensagem encaminhada-------
De: seuhomem@gmail.com
Data: 21 de Setembro de 2010 9:53
Assunto: Você agora me pertence
Para: sonhadoraangelical@gmail.com

Fiquei relendo o e-mail e imaginando constantemente como seria o cara tão cheio de si, como alguém responde a um anúncio, colocando como assunto "Você agora você me pertence", que esdrúxulo!
Sorri lendo e imaginando como seria, talvez, sem amor possa dar certo, quem sabe? Não custa conhecer, só espero que não seja um velho babão, que me fará ter nojo quando me encostar. E se for um psicopata? Eu estou pirando, só pode.
Ele disse que precisa casar em menos de dois meses, porque será? Não adiantaria ficar tentando adivinhar, precisava conversar com alguém sobre isso, talvez, alguém que pudesse me chamar para a realidade.
Peguei o telefone e liguei para a única pessoa em que poderia confiar.
- Alô! - Disse assim que atenderam.
- O que foi? Caiu da cama? - Fabiula perguntou sabendo que era eu.
- Fabi preciso desabafar. Pode vir aqui? - Perguntei choramingando, como costumava fazer quando queria chantageá-la.
- Para me ligar tão cedo num domingo, deve ser muito sério. Daqui a pouco estarei ai, mas já aviso, quero bolo de fubá - respondeu devolvendo a chantagem.
- Não demore - falei desligando em seguida.
Fabiula, era minha prima, quando saí de do interior, fui morar com ela por um tempo, brigávamos demais, mas só tínhamos uma a outra, nossa família morava a quinhentos quilômetros de nós. Então meia hora depois de brigarmos, começávamos a conversar. Quando consegui um emprego melhor, me mudei e começamos a nos ver nos finais de semana para ir a "caça", mas na maioria das vezes acabávamos bêbadas na casa uma da outra.
Fabiula, sempre foi a mais ajuizada da família, se formou em direito de família e trabalhava em uma empresa grande na Paulista. Não tinha namorado, mas estava bem com isso, para ela relacionamentos a desfocam do trabalho. Para ela o que mais importava era um bom sexo, fora isso, para ela estava fora de cogitação. Ela reprimia uma paixão incontrolável por um dos advogados com quem trabalhava, mas ele tinha se casado a pouco tempo e isso a destruiu por dentro, a deixando ainda mais frustrada.
Coloquei o bolo no forno e coloquei a mesa para o café.
Quase uma hora mais tarde, Fabiula chegou e eu a abracei forte.
- Que bom que chegou - disse a apertando.
- Me liga de manhã e ainda demonstra carinho excessivo, estou com medo - ironizou.
- Não vem com essa Fabi. Liguei e é código vermelho - falei usando nosso código para situações extremas.
- Desembucha - disse sentando-se à mesa e colocando os pés na cadeira da frente.
Me sentei e comecei a contar, observava sua testa franzir e seu jeito boquiaberto com o que ouvia. Respirei e fui tirar o bolo do forno.
- Enquanto você desenforma o bolo, vou ao banheiro, preciso de uns minutos, para digerir essa loucura.
Fiquei ali na cozinha pensando na loucura que tinha feito.


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