1 _ Canalha

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"Dona! Cadê você menina!?", gritava Zé procurando a entiada com uma garrafa de pinga na mão.

- Dona!

Dona ouviu, mas ficou quietinha escondida no galinheiro com Anita no colo, sua galinha favorita.

-Dona! Apareça! Se te acho será pior! - Berrava o bêbado caindo espalhafatoso pelo chão.

A mãe de Dona sempre ia à casa de Madalena, sua irmã mais velha, que estava de cama, pelas últimas e com pouca vida. Era um dia de chão no lombo de um burro. Se voltasse, só no dia seguinte.
A noite vinha vindo. E se a mãe não chegasse o coraçãozinho de Dona se apertava.

Toda vez era assim; a noite caía, sua mãe não chegava e Zé, bêbado, vinha. Na primeira vez Dona não sabia que precisava se esconder. Zé chegou, jantou, bebeu sua cachaça e foi direto pro quarto de Dona. Deitou do seu lado e a menina, muda, parada, respirava. Não lhe restava mais nada a não ser respirar e torcer pro tempo passar de pressa.

- Está gostando, Dona? - Perguntou o canalha.

Nunca dissera nada à mãe. Tinha medo. "Se disser alguma coisa à sua mãe eu mato ela é fico com tu pra mim", ameaçava Zé com um tom de deboxe e poder. Dona não era a única a sofrer com a truculência e os abusos de Zé. Sua mãe também sofria muito. Apanhava todos os dias pelas razões mais absurdas. Pela comida demorada ou por uma resposta mal dada. A verdade é que Zé era incapaz de se olhar no espelho e admitir que ele que era um canalha.

Agora Dona estava alí, no galinheiro, com o coraçãozinho apertado, respirando...

- Te achei! - Gritou o bêbado.

Canalha.

Unicórnios, Vestidos Vermelhos e um Mar Bem PertoOnde histórias criam vida. Descubra agora