8 _ Mãe é Mãe

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- Ôxi! E como ele voou se não tinha asas? -Perguntou a mãe deitando na cama ao lado de Dona. - Ele caiu na água, foi?

Mãe de Dona já lamentava a morte por afogamento do pássaro sem asas, enquanto ajeitava o travesseiro e se cobria junto à filha. "Já vi bicho com asa não saber voar", ela disse, " mas bicho sem asa voar eu nunca vi!", completou desdenhando a estória da própria filha. O que a mãe de Dona acabara de dizer a fez lembrar de Anita. Sempre que se lembrava de sua galinha favorita apertava seu crucifixo junto ao peito com uma prece curtinha; "Que nosso Senhor proteja Anita em nome do Pai...". Lembrou que nenhuma daquelas galinhas tinham saltado meio metro do chão, aliás, nem dez centímetros! Só sabiam ciscar, cacarejar e botar ovo.

- Mãe, por que galinha tem asas se não sabe voar? - Perguntou.

Então mãe de Dona lançou um olhar terno sobre a filha e com a sabedoria das deusas-mães de todo o universo, disse;

- Pra depois que chocar os pintinho, ajuntar as cria bem debaixo das asas dela.

Disse isso abraçando Dona, como se seus braços fossem uma asa materna cheio de calor e afeto protegendo sua filhinha. Dona derramou uma lágrima e dormiu no aconchego das asas de sua mãe e sonhou com Anita.

Não culpava sua Mãe pelas coisas duras e sujas que havia passado até alí. Sua Mãe era, antes de tudo, sua melhor amiga. Nada mal para uma mulher, nordestina, semianalfabeta, frágil e solitária. Era, antes de tudo, sua Mãe.

Mãe é Mãe.

Unicórnios, Vestidos Vermelhos e um Mar Bem PertoOnde histórias criam vida. Descubra agora