"A guerra é o velho falando e o jovem morrendo"
Aquiles¤¤¤
Dona se deparou em meio a um campo imenso e aberto. Ao longe havia um vale e uma pequena floresta compostas por árvores que pareciam andar entre si. Do outro lado havia um rio que se escondia entre as montanhas.
Olhou ao redor e contemplou um espelho grande, em pé, como se fosse o portal que a havia levado até aquele lugar.
O pássaro sem asas também estava lá, desengonçado, além de horroroso.
Antes que Dona contemplasse a beleza de um novo mundo, sentiu o chão tremer como o início de um terremoto. O tremor se intensificou de tal maneira que não conseguiu permanecer de pé.
Viu uma criatura imensa, forte e robusta, segurando um porrete metálico em uma das mãos, correndo em sua direção; era um Golem de Ferro de mais de três metros de altura. Atrás dele havia um exército inumerável de unicórnios. Cavalgando, sobre alguns deles, haviam uns Drummers que tinham o corpo todo azul, cabelos em forma de pequenas serpentes (como a Medusa) e tocavam uma espécie de tambor pendurado em seus pescoços.
Dona teve medo. Olhou para o outro lado a procura de uma possibilidade de escapar. Mas viu um Minotauro quase tão grande quanto o Golem vindo, também a todo vapor, em sua direção.
Dona apertou seu crucifixo junto ao peito e iniciou uma prece. O pássaro sem asas deu um salto para a borda do espelho. Dona o seguiu com os olhos. Tinha se dado conta que a luz que contemplara há poucos instantes no lixão, havia conduzido-a até o calor de uma batalha prestes a começar. Tentou se erguer e, com a dificuldade de quem tem canelas esguias, tentou permanecer de pé de frente pro espelho. Atrás do espelho o Minotauro e seu exército de Gárgulas gritavam e vinham sem parar. Atrás dela, o Golem e seus Unicórnios também vinham.
Dona fechou os olhos, apertou o crucifixo junto ao peito e fez uma prece. O pássaro sem asas, assustado, desapareceu num salto no espaço e no tempo como um raio de luz desaparece no instante que surge.
O encontro do Golem e seus Unicórnios junto ao Minotauro e suas Gárgulas resultou numa colisão violenta que despedaçou em caquinhos todo o espelho. Dos chifres de marfim dos Unicórnios saiam uma luz que atingiam em cheio as Gárgulas que pareciam ressurgirem das cinzas como a Fênix ressurge. Os Unicórnios não sentiam o efeito das chamas soprados pelas Gárgulas. Pelo menos não no início da batalha. O Golem de Ferro e o Minotauro travavam uma luta particular no meio do campo aberto. Os Drummers batiam seus tambores sem parar e isso fazia com que os ânimos de seus guerreiros Unicórnios se revigorassem, aumentando assim, o poder de seu ataque. O Minotauro, com sua lança, era um selvagem e sua força bruta atingia tanto o seu oponente quanto seu exército de Gárgulas, que àquela altura, já não ressurgiam mais das cinzas. As cinzas, agora, caiam devagarzinho no chão dando um ar mais horrendo ao verde do campo que parecia um vale de pó de Gárgulas. Por ora, vitória dos Unicórnios e seu gigante de ferro. Minotauro, furioso, olhava pra trás e lançava seu olhar venenoso em Golem enquanto batia em retirada arrastando, violentamente, um dos Drummers pela cabeça em uma de suas mãos.
Dona abriu os olhos e sentiu alívio por ainda estar inteira. Diante dela havia um espelho trincado e, espalhados pelo chão, uma boneca encardida e um jogo de dominós incompleto.
Estava de volta ao lixão; viva e respirando.
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Unicórnios, Vestidos Vermelhos e um Mar Bem Perto
Fantasy#Wattys2016 ¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤ Capa por @RodolfoSalles, autor de "Absolutos". ¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤ 'Unicórnios, Vestidos Vermelhos e um Mar bem Perto' Quando uma luz te conduz para um novo mundo... Dias atuais. Zona Sul do Rio de Janeiro, Rocinha. Don...