04 - Banhos complicados & Roupas molhadas

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Louis

Folheava uma revista de moda que encontrei em cima da escrivaninha quando deu cinco horas.

Pelo itinerário, essa seria a hora do banho.

— Harry...

— Já sei. — respondeu se levantando da poltrona. O guiei até o banheiro e deixei o necessário para seu banho; sua toalha e o sabonete, dando meia volta. — Aonde você vai? — Harry questionou e virei-me para ele confuso.

— Como assim? — perguntei.

— Você precisa me ajudar aqui. — disse como se fosse óbvio e olhei para ele relutante por alguns segundos antes de me aproximar. Ele tirou sua camisa e o ajudei novamente com os cordões da calça e com todo o meu profissionalismo puxei sua calça para baixo.

Ele passou para debaixo do chuveiro e puxei a cortina do box, mas não antes de ver sua cueca cair no chão. Fechei a tampa do vaso e me sentei para esperar ele terminar. Comecei a assoviar distraído até que escutei um baque e levantei automaticamente assustado. Sem pensar, abri a cortina do box e Harry estava sentado no chão.

— Eu... Pretendia pegar o sabonete. — balbuciou desnorteado e arregalei os olhos ao mesmo tempo que tentava segurar o riso.

— Está tudo bem. — o confortei pegando em suas mãos que tateavam o ar em busca das minhas e o ajudei a se erguer. Assim que ficou em pé me dei conta que Harry estava nu. — Eu...

— Você pode pegar? O sabonete. — pediu e me abaixei para pegar o sabonete e acabei ficando molhado para pegar o maldito.

— Aqui. — falei me levantando rapidamente e acabei batendo a testa no peito molhado de Harry. — É...

— Obrigado. — ele agradeceu subindo sua mão pelo meu braço até encontrar a minha e pegou o sabonete com firmeza para que não escapasse. Sua outra mão subiu até encontrar meu rosto reconhecendo-o com seus dedos enquanto permanecíamos calados apenas ouvindo nossas respirações.

— Harry, onde você está, filho? — ouvi a voz da que deveria ser sua mãe e me afastei subitamente.

— Acho que meu horário acabou. Nos vemos amanhã, Harry.

— Eu ainda não gosto de você. — me avisou com um sorriso contido e apenas sorri de volta saindo do banheiro.

Passei rapidamente pela sala recolhendo minhas coisas e uma mulher morena me parou.

— O que houve com você? Onde está meu filho?

— Oh, ele está no banho. Eu sou o novo cuidador, Louis.

— Sou Anne, o que aconteceu com suas roupas?

— Apenas um acidente com o sabonete, eu trocarei quando chegar em casa.

— Tenha cuidado para não se resfriar. — avisou e assenti conforme saia pela porta.

Respirei fundo já do lado de fora e soltei a maçaneta. 

Para um primeiro dia até que eu não havia sido um desastre total. Harry era uma pessoa boa, ele só precisava descobrir isso.

Harry

Estava deitado de costas na cama apreciando a minha escuridão. Eu não enxergava nada, e meus momentos sozinho eram os mais entediados.

Eu sabia que a luz estava ligada e podia ouvir a TV, mas eu não via nada. Dizendo os médicos, quando o vidro danificou minha retina ainda haveria salvação, mas houve complicações e eu acabei assim.

Nunca fui uma pessoa de valorizar coisas ou pessoas, sempre vi mulheres e homens bonitos e sempre os tratei como meu objeto de prazer. No mundo em que eu vivia beleza era tudo e, parece que deixei de fazer parte dele depois do acidente.

Nos primeiros meses eu odiava tudo, queria simplesmente parar e morrer, tive que passar pela merda de terapia e aprender a me aceitar assim, cego. Todos ao meu redor realmente tem problemas sobre isso. Até minha mãe, evita olhar para mim, eu sinto isso. Ela tinha um filho rico, saudável e que tinha o mundo nas mãos. Agora, eu passo os meus dias esperando que alguém me ajude com isso ou aquilo.

No entanto, Louis parece não se importar com nada disso. Cego ou não, ele brinca comigo, ignora minhas malcriações e me faz sorrir. Um dia ao lado dele e já me sinto mais vivo. Ele parece ser muito bonito, tem um nariz bem desenhado, lábios deleneados e pele macia.

Eu queria muito poder vê-lo.

Me sentei na cama tateando a minha cômoda com a mão em busca da minha bengala para me guiar. Coloquei os pés com firmeza no chão para me sentir seguro e abri a bengala colocando-a no chão ao me levantar.

Comecei a arrastar os pés pelo chão conforme me aproximava na escada e passava a bengala para tirar qualquer obstáculo do caminho.

— Como foi hoje com o novo garoto? — ouço a voz de minha irmã Gemma e parei no meio do corredor.

— Tudo está devidamente limpo e Harry bem cuidado, mas ele saiu daqui completamente ensopado e assustado. Me parece atrapalhado, não sei se é a pessoa mais bem indicada para esse trabalho. — disse minha mãe e me senti estranhamente incomodo.

Algumas horas com Louis me ajudaram a derreter um pouco da minha parede de gelo e agora ele já iria embora?

dark greens ❀ {lwt+hes+mpreg}Onde histórias criam vida. Descubra agora