14 - Camas aconchegantes & Respiração calma

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Anne

— Mãe. — Gemma chamou quando me viu debruçada sobre a mesa olhando para um copo de café, como se fosse algo realmente a ser estudado.

— Oi. — murmurei virando-me vagoramente para ela.

— Como ele está?

— Na mesma. — respondi com a voz fraca. — Nós... Nos descuidamos por tempo demais, e dessa vez ele está demorando mais do que a outra.

— Mas ele... — Gemma sussurrou e se calou logo em seguida.

— O médico disse que ele não está mais em risco. Nós o negligenciamos tanto, Gemma, onde foi parar aquele amor? Onde ficou a união que tínhamos?

— Eu não sei. — Gemma sussurrou olhando para suas mãos.

— O meu filho, Gemma, está morrendo. Morrendo pouco a pouco a cada dia em que não o olho, a cada dia em que peço que se isole, a cada dia em que não lhe mostro o meu amor. Eu, que mais do que ninguém deveria lutar pela vida dele, estou lhe empurrando para a beira do precipício.

— O erro não foi apenas seu...

— Você já olhou para ele? Já observou como Harry fica quando está com ele? Já reparou que ele não para de sorrir, de conversar, de opinar? Já reparou que ele é... Feliz?

— Vamos mudar isso, mãe. Nós vamos fazer o Harry feliz também. — garantiu Gemma limpando seu rosto manchado pelas lágrimas.

— Já parou para pensar que poderíamos não ter tempo? Dessa vez foi por um fio, ele iria partir porque acha que é uma desilusão para nós.

— Ele nos ama, mãe. E nós o amamos, e a partir de agora teremos apenas que demonstrar.

— Eu vou subir, ficar um pouco com ele antes de Louis chegar. — avisei levantando-me.

— Tudo bem. — Gemma assentiu e eu sai indo em direção ao quarto.

Me aproximei da cama de Harry segurando em sua mão e acariciei seu rosto.

E ali estava, o menino que eu carreguei nos braços, o menininho frágil que me deixava noites acordada, o lindo garotinho sorridente que eu tanto prometi amar e cuidar. Ali estava o meu mundo, que escapava por entre os meus dedos, com a minha permissão.

— Me perdoa, meu filho. Me perdoa. — implorei chorando. — Me perdoa por te fazer sentir menos do que você realmente é, por não te fazer se sentir amado, eu prometo que tudo será diferente agora. Apenas volte para mim, por favor. Volte para casa, meu amor.

Louis

Anne havia acabado ficando o dia inteiro no hospital depois da cena que fez ao meu pés. Ela tinha chorado, depois se desculpado e então, chorado mais um pouco.

Hoje era um novo dia e Harry ainda não havia acordado, fizeram uma lavagem estomacal para retirar todos os comprimidos, ele estava fora de risco, mas não acordava.

Eu sentia falta de sua voz, suas ironias, os seus resmungos e da sua gargalhada. Eu já sentia falta de tudo e me peguei pensando se algum dia eu poderia viver sem isso.

— Ele já foi medicado hoje, o doutor disse que ele teve uma pequena melhora e pode acordar a qualquer hora. — avisou Anne quando entrei no quarto.

— Isso é ótimo! Você está bem? — perguntei olhando sua aparência cansada.

— Sim, eu só acho que preciso de um café.

— Você pode descer um pouco, tomar um café, comer alguma coisa. Não tem problema. — assegurei com um sorriso reconfortante e Anne sorriu fracamente pegando sua bolsa e casaco.

— Muito obrigada, de verdade, Louis. — disse e sorri aproximando-me da cama de Harry.

— Não tem de que. — sorri novamente e Anne sorriu de volta, saindo do quarto.

Olhei para a poltrona que fiquei horas sentado e resolvi ignorá-la, ajeitando-me na cama espaçosa ao lado de Harry. Era realmente aconchegante comparada com as dos hospitais públicos. Repousei minha mão em seu peito que subia e descia tranquilamente em uma respiração calma.

— Ei. — sussurrei pegando sua mão gentilmente para não machucar. — Lembra-se de quando fechamos os olhos, lembrando da praia, do azul do mar? Então, pense agora em um campo, um campo com o clima de outono repleto de folhas caídas e já um pouco marrons. Agora, imagine uma árvore, uma única árvore no meio de tudo e imagine um balanço, daqueles de uma corda e uma madeira velha. Imagine ele amarrado ao galho mais da árvore...

"Agora pense em como aquela árvore forte sustenta com firmeza aquele balanço frágil, mas a árvore está perdendo as folhas, ela está ficando diferente e se sente horrível por isso. Ela não quer mais estar ali, mas aquele balanço precisa tanto dela. Você é a árvore, Harry. E eu o balanço. Eu preciso de você... Então, sim, eu serei egoísta o suficiente para pedir que você fique. Fique por mim, viva por mim, e seja feliz... Por mim."


"Estou apaixonado por seus olhos

Mas eles não me conhecem ainda

E com um sentimento que eu vou esquecer

Eu estou me apaixonando agora."

dark greens ❀ {lwt+hes+mpreg}Onde histórias criam vida. Descubra agora