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-Desde que me conheço por gente fui ensinado sobre os perigos do mundo, quase posso imaginar minha mãe falando pra mim rescém nascido "esse tapa é pra te ensinar a ter cuidado, Erick Bondevik". Mas não posso reclamar, tive uma boa vida, vivia numa fazenda enorme numa cidade minúscula junto a minha mãe, pai, meu irmão mais velho Dean e vários animais, não tinha rádio ou televisão, vivíamos isolados no nosso pequeno mundinho neutro.
Mamãe podia fazer as coisas levitar e era divertido vê-la cozinhar com todos aqueles utensílios indo e vindo pelo ar, para lá e para cá, era raro mais vez ou outra ele me levitava à poucos metros do chão e eu me sentia o máximo, Dean podia voar, e papai podia fazer pequenas alterações na temperatura de pequenos espaços. A vida era feliz, vivíamos nos reunindo pra comer tortas e bolos feitos com aquilo que nós mesmos plantavamos, a minha favorita era a de maçã, a de Dean a de laranja. Íamos a escola bem cedo, na maioria das vezes meu irmão me levava nas costas, voando, escondido entre as plantações de milho, na escola encontrávamos crianças iguais a nós, o que diferenciava era que nós tínhamos poderes e elas não. E eu morria de medo delas por isso, na minha sala tinha eu e mais 6 crianças, na escola toda, eu, meu irmãos e um pouco mais 200 crianças. Eu e meu irmão, até onde eu sabia éramos os únicos com um dom, apesar de na época o meu não ter despertado ainda, menos que 1 pra 100, estávamos em uma diferença enorme de número, e isso sem nem contar os adultos da escola, eu era quieto e no geral me saia bem. Mamãe sempre me ensinava que os humanos não gostavam de diferenças nem mesmo entre si, me contando sobre a caça as bruxas da inquisição, e sobre as guerras sangrentas que travavam, e sobre seu pai, que foi assassinado por um colega humano no trabalho. Foi nessa época que descobri o poder, um dia eu e meu irmão discutíamos sobre que doce a mamãe deveria fazer, ele começou a dizer vários motivos pra ser o tal bolo de cenoura e eu me sentia frustrado, eu não tinha culpa de não ganhar a tal estrelinha dourada, poxa, até que em certo momento a minha mãe que acompanhava tudo segurando o riso simplesmente se virou e começou a pegar maçãs e ingredientes pra torta, e Dean que defendia com unhas e dentes o bolo de cenoura apenas sentou e disse "oba, torta de maçã", depois disso foi um turbilhão, ainda me lembro de contar o que houve ao papai quando ele chegou em casa, ele fez uma cara que eu nunca vi antes, parecia preocupado e com medo, a partir desse ponto meus pais começaram a me tratar de uma maneira completamente diferente, era como se eu fosse um boneco de porcelana de alguma história de terror, mamãe me tirou da escola pra ter aulas em casa, e sempre interrompia as aulas pra falar sobre ética, moral, bondade e valores, meu pai por sua vez me dizia pra controlar minhas emoções, demorei pra entender que eles tinham medo de mim.

Os anos passaram, eu me sentia só, e costumava olhar pela janela e imaginar como estaria o resto do mundo agora, será que era como nos livros, nem internet ou tv eu via, para não sofrer influências externas, mas Dean sempre traziam livros pra mim as escondidas, dizendo que era pra ele, foi o único que continuou a me tratar normalmente, mas um dia teve que deixar a casa pra fazer faculdade, algo que eu também não faria pelas tais influências, pra poder conversar Dean me deu um celular simplezinho e disse pra ligar de vez em quando. Era só. Eu não podia mais ler, tudo que eu fazia era trabalhar na fazenda e ouvir os meus pais. Eu os admirava e respeitava, o mundo que eu conhecia era visto pelos seus olhos afinal, mas um dia, enquanto eu via a vida passar fugaz pela janela, tão perto que eu poderia admira-la sem pudor, mas longe o suficiente pra que eu não pudesse toca-la apenas com o estender da mão, inocentemente desejei senti-la, poder ser livre de correntes que eu não enxergava. Foi o fim, no dia seguinte eles não tinham a menor ideia de quem eu era. Dean ainda lembrava de mim, pelo menos... Fiz de tudo, mas não consegui... Reverter o que eu fiz, eu podia controla-los pra agir como família de novo, é claro... Mas era tudo artificial e sem esperança voltei ao ponto se partida de pais sem memória. Na época ele me acalmou e me instruiu a convencer a eles que era o novo empregado, enquanto procurávamos uma maneira de reverter aquilo e fui vivendo assim, até que... Meu pai... Meu chefe... Sei lá... Me demitiu... Achei que eu amava... Aquelas correntes.... Eram os meus laços, afinal... -Thomas me abraçava num total silêncio, e eu mesmo não me lembrava da última vez em que eu tinha falado tanto.

-Poxa vida... Erick eu... Vou ajudar... Também... - Thomas segurou nas minhas mãos olhando nos meus olhos, com os olhos cheios de lágrimas, que se recusavam a cair. Ele estava se segurando para eu não me culpar.
-Obrigado por tudo....
-Eu não fiz nada... Até agora.... Não posso fazer nada... Quanto o que aconteceu....
-Mas você está... Mudando o agora... E isso... Já é até muito.
-Então... Continuarei assim, né...? - Ele soltou um pequeno suspiro. - Pelo menos, por agora.

A partir desse capítulo será postado semanalmente. Votem e comentem o que acharam :3

As Folhas Que Só Nós Vimos (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora