Frio. Sinto o vento gélido soprar sobre minha pele, parecendo gelar até meus ossos, mas estranhamente sinto que minha alma está aquecida, meus dedos estão guardados em meu casaco grosso e meu passo se dirige ligeiro até aqueles que podem decidir minha vida, é estranho o quão miserável eu penso que deveria estar me sentindo, mas me sinto apenas desconfortável, seguindo a figura familiar a minha frente. Era como estar numa nevasca e parar para admirar a neve fofa, eu devo ser idiota.
O motivo pra eu me apressar tanto em contar tudo para Dean tão abrupto foi por eu já ter me decidido. Dessa vez ele reagiu... um pouco melhor eu diria, apesar de parecer irritado, pelo menos dessa vez ele não partiu pra cima do Thomas... Me pergunto como meus pais vão reagir...
- Você é... Um idiota... - Disse Dean depois de muito tempo. - E dos completos... - Podia sentir o descontentamento em sua voz.
- ... Não vou me desculpar por isso...
- Mas ainda é meu irmão... E agora temos assuntos mais importantes a tratar... - Ele suspirou, formando uma nuvenzinha de ar frio ao redor do próprio rosto.
Fechei os olhos me lembrando de um pouco mais cedo, Thomas havia implorado pra vir junto e eu neguei veementemente. Não havia por que ele se arriscar assim, além disso eu poderia sentir sua presença mesmo de longe, pois sabia que ele estava torcendo por mim. Abri os olhos e por um instante o branco me cegou, Dean já estava bem a frente, parado em frente a um prédio comercial, apressei o passo até chegar a ele.
- É aqui. - Ele disse sério, estranhei, olhando o prédio, era um arranha-céu, como vários outros ao redor, coberto de cima a baixo de janelas espelhadas, como vários outros ao redor, parecia o prédio de alguma empresa importante ou algo assim, e não uma seita de pessoas super dotadas. Dean sorriu, amargo.
- Tá esperando o que? Entra. - ele indicou a entrada.
- É bem diferente do que eu...
- Todo caipira diz isso na primeira vez. - Ele suspirou, acrescentado logo depois, de modo quase inaudível. - inclusive eu...
- Eu ouvi. - Disse rindo nervosamente e afundando minhas mãos nos bolsos do casaco, Dean apenas bufou e entrou no prédio, ele me apresentou na recepção e me entregaram uma ficha e foram me explicando cada quesito. Na lista de restrições a primeira estava bem grande e em negrito.
"NADA DE PESSOAS SEM DOM"
Logo abaixo se seguia
"Nada de híbridos.
Nada de criminosos.
Nada de homossexuais."
A atendente começou a explicar cada tópico, pessoas sem dom era o que evitavamos, assim como híbridos, que seriam parte afetados por apego aos sen dom, criminosos fariam que a empresa de fachada chamasse muita atenção, além de não serem eticamente confiáveis, palavras dela. Engoli em seco. A partir dali voltei ao Instituto várias vezes pra ter aulas (a maioria contava as histórias que já ouvi da mamãe ou incentivava o medo em relação à humanos), também aprendi que existem muitos de nós entre artistas famosos e políticos e aristocráticas influentes, porém estranhamente não há nenhum grande inventor, escritor ou cientista, me pergunto se não temos o dom humano de criar... A teoria do Thomas é que sejamos como os alunos brilhantes e preguiçosos, que por se acomodarem a tirar notas boas com facilidade, deixam os estudos de lado e vão ficando pra trás dos normais, gradualmente. A minha teoria é que Thomas era um aluno assim.
Passei por espécies de exames médicos também, eram chatos e repetitivos. Enquanto isso, lá fora, a primaveira ia chegando suavemente, enquanto as primeiras flores já começavam a desabrochar entre a neve derretendo, com o passar do tempo o coração de Gelo de Dean foi esquentando e ele começou a aceitar, bem pouco a pouco, milímetro por milímetro, eu diria.
Até que como um sussurro em meio ao silêncio mais profundo chegou o grande dia.
Me levaram à uma sala completamente escura e silenciosa, com apenas um ponto vermelho de luz focado em mim, parecia um laser já que a luz do ponto não se propagava, e fora do ponto era só escuro, totalmente sem luz, envolto em sombras acabava por fazer com que até o mais rotineiro e mudano se tornasse uma irreconhecível parte do desconhecido. Eu não conseguia ver nem as partes de meu próprio corpo, mas podia ouvir atentamente o som do meu próprio batimento, eu sabia que a partir dali eu me tornaria uma pessoa completamente diferente.
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As Folhas Que Só Nós Vimos (Romance Gay)
Teen FictionErick Bondevik é um adolescente típico de uma família rígida de interior, tirando talvez, o fato nada típico de ele ter nascido com um dom mágico. Enquanto tenta lidar com sua vida um tanto quanto confusa e com as próprias inseguranças, se vê se red...