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Fiquei uns dias morando com Thomas, enquanto me acalmava, estava cansado de ser um estorvo, eu só passava o dia todo lá, ocupando espaço e ele pacientemente não reclamava, conversávamos normalmente, o que servia de distração, mas eu mal saia da casa.
Tudo na cidade me lembrava algo, e cada lembrança pressionava em uma ferida ainda aberta.

- Você tem lembranças tristes, Erick? - Me perguntou uma vez ao ver meu estado ao entrar, andando meio tonto e sem rumo até ele, e subitamente o abraçando.- Erick...?

- Não... Thomas... As lembranças que mais machucam... São as felizes.

-Eu... Desculpa. - Ele me abraçou de volta, meio inseguro e trêmulo.

- Só não... Vira uma lembrança...

- S-sim... -Senti suas lágrimas caírem.

Os dias passaram ficando mais frios a cada dia, o inverno estava chegando, mas pra mim o dia parecia clarear e eu comecei a me acostumar com a situação, será que o tempo era mesmo o tal do melhor remédio?
Depois do período longo que passei na casa de Thomas, me recuperando e não fazendo praticamente nada, pensei e cheguei a conclusão que era melhor não atrapalhar mais.

Resolvi ser direto, não queria ser ingrato por tudo que me fez... O avisei que queria conversar e prossegui, esquecendo no momento todas as palavras que tinha passado tanto tempo analisando pra dar a notícia decentemente.

- Bem... Você..... R-realmente foi... O máximo.... E eu também... Quero fazer algo, sabe...? Sem ser dependente ou atrapalhar sua rotina... Bem, meu irmão me chamou pra morar com ele... Há um tempo... Acho que vou pra lá, não quero te dar trabalho.

- Ele me olhou realmente chocado, ainda parecia triste e preocupado. Por minha culpa, e aquilo me partia o coração. - E-eu.... Nem tenho... Rotina nenhuma cara. - Pareceu pensativo e logo voltou a típica expressão sorridente, mas dessa vez parecia meio insegura. - Posso me mudar também, eu... Não tem problema...


- Por que você iria?

- Por que eu não iria?

- É uma cidade grande, você pode... Ser pego pelos humanos...

- Que merda! Eu já disse que também somos humanos! - Respondeu, dessa vez bastante irritado, logo em seguida se arrependeu, baixando o tom de voz. - Desculpa...

- Por que defende tanto quem te persegue?

- Erick, quem me persegue são pessoas como nós... Com o... Dom, como você diz. - Disse entristecido.

- Oi...? - Ele suspirou e se aproximou de mim.

- Os humanos nem sabem que algo assim existe, pelo menos a maioria... Mas esse... Esse poder, as outras pessoas com dom... Tem medo de eu parar nas mãos erradas... Por isso querem me manter preso, no mínimo.

- Não entendo... Isso é horrível... Mesmo entre iguais...

- Tudo bem... Eu resistirei bravamente. - Ele sorriu de maneira encorajadora, batendo continência. - Quero que resista comigo.

- Confesso que... Achei que evitava cidades grandes pelo número de pessoas.

- Aí eu poderia viver num deserto. - disse pensativo- Não, não, não, nem aí. Já tem pessoas que vivem em desertos. De uma forma ou de outra, fui criado por pessoas sem dom, sabe? Num orfanato. Lá era divertido. - Disse sorrindo confiante, continuei sem jeito, não queria mesmo ve-lo sofrer, ainda mais por minha causa.

- Sabe, nas cidades tem muitas câmeras e coisas do tipo... Podem achar seu dom em um minuto se eu usar.

- Do que adianta ter todo o tempo do mundo se não ao lado de quem eu amo, Erick... - Ele me encarou, com os olhos arregalados e rosto adoravelmente avermelhado.

- O que...?

E então Thomas sumiu, poderzinho conveniente o dele. E irritante. Que poder irritante, sem dúvidas. Resolvi sentar e refletir sobre a situação. Thomas é um homem. Meus pais me ensinaram que esse tipo de coisas acontecem entre humanos pra diminuir a procriação das espécies, e que entre nós, que temos dom, seria terrível por estarmos tão em menor número. Meus pais me ensinaram muitas coisas que não estavam certas. Thomas continua a ser um homem. Um homem estranho. Um homem legal. Um homem engraçado. Um homem que me ajudou por muito tempo... Que se dane se é um homem. Não é como nos livros, não consigo por o que sinto em palavras bonitas e refinadas. Só sei que o quero por perto, sendo o que for... Estar com ele me faz me sentir... Mais ou menos como quando minha mãe me levitava quando eu era menor. Enquanto... Eu como a melhor torta de maçã do mundo e provo o tal café que ele falou. Não, não é o suficiente. Talvez isso multiplicado por... Algum número bem grande. Comecei a procurar pela casa. Não o achei. Procurei pelos cantos da cidade que eu tanto evitei. Ainda sentindo a dor das lembranças, mas agora não podia me dar ao luxo de me procupar com isso. Acho que eu teria que socar a minha própria cara caso, logo eu, o fizesse sofrer. Olhei dentro das lojas e nada. Comecei a me desesperar. Entrei lembrei do esconderijo preferido dele, e rumei a biblioteca.

-Thomas...? Você tá aí...? - Ele saiu de trás de uma estante meio envergonhado, tentando não me encarar cara a cara.

- Desculpa, eu...

Reuni toda a coragem que ainda tinha. E toda que eu não tinha e tomei seus lábios, inexperiente, li que é isso que as pessoas fazem quando amam, então fiz e me deixei levar. Quando me afastei ele estava mais vermelho do que nunca e mordiscando o lábio inferior nervosamente.

- O que...?

- Finalmente fui eu que te fiz falar isso.


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