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Passei a refletir sobre a proposta quase que o tempo todo. Mais horas, mais dias, mais semanas jogadas em vão, mesmo pra pessoas com poderes como o de Thomas, o tempo é algo muito precioso e fugaz pra ser perdido da maneira que faço, vezes eu chego a me irritar comigo mesmo. Eu sempre penso demais, ou penso, sem agir. As vezes é só uma maneira de adiar o inadiável, é uma decisão complicada quando se analisa tanto, basicamente tudo o que eu deveria decidir é um "sim ou não?" básico. Um sim ou um não.... Sem meio termo, algo que vai mudar minha vida... Chega a ser cômico como a maioria das coisas acaba assim.

- Eriiick? Erick para Terra? - Thomas me chamava insistentemente, balançando a mão sobre meu rosto. - Você tá me ouvindo?

- A-ah. Desculpa! - Onde estávamos mesmo? Ah sim, a cozinha do Dean, Thomas estava fazendo um café estranho com cheiro forte de chocolate e avelã, olhei o relógio digital no cantinho do comodo e ele marcava 14:52, então Dean estava na faculdade pelo horário, meus olhos desviaram paras costas de Thomas que estava concentrado no café que me parecia um tanto doce demais, do que ele estava falando mesmo...? Ah sim, um emprego... Algo assim. Tentei parecer o mais empolgado possível com isso.

- Boa sorte no emprego, Thomas. - Disse sorrindo, e tendo a impressão de que falhei miseravelmente quanto a empolgação.

- Cara, é uma entrevista. - Ele sentou ao meu lado, pondo o café sobre a mesa e me encarando com certa intensidade. Parecia sentir dor, pesar... - Você está bem?

- Sim.... Desculpa, sabe... Te preocupar. Não é nada importante, ok? - Respondi sem jeito, desviando o olhar, eu machuquei o Thomas? É por que ando distante? Ele veio pra cá ficar comigo, não? Como posso o largar sozinho? Ainda por cima... PLECT. Um soco. Sobre a mesa, quase virando o café. Levanto meus olhos assustado, acho que finalmente fui babaca a ponto de irritar Thomas de verdade, ele está vermelho, droga, contraído os lábios e... Chorando.

- E-erick idiota.... - sua voz está trêmula e inconstante. - como assim " Não importa, tá?" você é idiota!?

- E-eu.... - Olho no fundo de seus olhos. Me calo. Não há raiva alguma.... Talvez só.... Tristeza.... Eu sinceramente preferiria que ele estivesse me odiando, do que chorando por mim.

- Você sempre, sempre, sempre tá guardando seus problemas pra você, não é justo, mesmo depois de tudo.... Que passamos juntos.... Você ainda não confia em...

- NÃO É ISSO! - Meu próprio tom de voz me assusta, não sou de gritar, até falo meio baixo, sinto que estou em desespero. - Eu.... Só não queria incomodar... Mais ainda... V-você fez muito por mim... Muito mais do que devia e.... Eu não fiz nada em troca.

Foi aí que Thomas desertou a chorar mais ainda, dessa vez me dando um abraço tão apertado que eu podia sentir na pele o soar frenético e constante de seu coração batendo.

- E-erick burro, não está incomodando! Eu te amo, porra! - Ele encostou a cabeça em meu ombro, agora eu podia sentir também suas lágrimas quentes pingando sem pausa ali. - O que você acha que doi mais? Ver você sofrendo em silêncio ou... Caramba, fazer algo pra mudar isso...?

Foi aí que desabei, deve ser por isso que me apaixonei por essa pessoinha estranha. Minto, foi cada detalhe e cada estranheza que me fez ama-lo mais e mais. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu levantei sua franjinha bagunçada e beijei sua testa como pedido de desculpas. Ele estava tão abraçado a mim que estava praticamente em meu colo.

- Me perdoa...?

- Não precisava nem perguntar... - Ele bufou.

Dei um tempo pra acalmarmos os nervos, o apertei tanto em meus braços que provavelmente daria pra sentir o seu cheiro em mim, eu ainda podia sentir o coração de Thomas bater e confesso que gostava daquilo. Ficamos um tempo ali, eu silêncio, Thomas agora que tinha se ajeitado e estava verdadeiramente em meu colo e se Dean aparecesse em casa agora iria me matar. Ou julgar que estávamos muito bêbados. Nunca se sabe.

Quando senti que ele já estava calmo, no conceito Thomas de calmaria, comecei a contar da proposta de Dean, mas acho que não foi uma boa ideia, ele ficou pálido e se encolheu mais em meus braços, talvez inconscientemente, talvez não.

- U-um deles... Seu irmão é um deles? - "um deles" uma das pessoas que me perseguiam, ele queria dizer, e eu sabia, eu devia ter contado algo importante assim.... Na hora que eu soube.... Sou tão egoísta... Depois de tudo que ele fez por mim.... Só fiz besteira e dei trabalho. No fim tudo que consigo dizer é:

- Calma... Não é sobre isso a situação, erh.... D-desculpa não contar antes.... De novo....

- Estou com medo.... - Thomas confessou. - Eu não sei como ajudar... S-se mesmo lá eles tem uma solução pros seus pais... Vai fundo... Eu acho... - Ele tentou sorrir- Desculpe por ser tão covarde. -Eu finalmente entendi do que ele falava "O que você acha que doi mais? Ver você sofrendo em silêncio ou... Caramba, fazer algo pra mudar isso...? " Acho que é a dor mais profunda a me atingir desde que me entendo por gente.
-

Não.... Não te acho covarde, Thomas... Você é muito destemido... - Thomas não costuma pensar muito antes de agir, ele apenas faz, me pergunto se isso é coragem. - Você sempre está pronto a tentar coisas novas... E ir à lugares novos.... Sem nem pensar duas vezes... Mesmo assim se adapta bem... É uma das coisas que mais admiro em você. - ele sorriu tristemente.
-Isso não é coragem, Erick, é inconsequência... Não é bem uma qualidade. - Respondeu levemente corado, e olhando pra um canto qualquer, mesmo alguém incrível como Thomas pode se sentir inseguro. - Eu sempre estrago tudo, Erick.
- Bem... Agora, não é muito, mas... Mesmo se for... Destemido, ou inconsequente demais pra "estragar tudo", ficarei ao seu lado para te ajuda a reconstruir. - Segurei sua cintura e ele me retribuiu com um sorriso largo e encantador, mostrando as covinhas, me inclinei para lhe dar um beijo, mas parei no meio do caminho. - Você vai se atrasar pra entrevista mocinho. - Tentei parecer duro e responsável depois de todas as coisas sentimentais que havia dito, pelo visto não funcionou pois ele me retribuiu com um sorriso sacana.
- Erick, Erick, é nessas horas que eu agradeço por ter esse dom. - E então ele atritou levemente seu pequeno corpo contra mim e me roubou um beijo apaixonado.

Naquela tarde, no quarto que dividiamos, havia sido nossa primeira vez. A primeira vez naquela cidade.

Eu adoro a ambiguidade da língua portuguesa, o título da história em si é ambíguo se você pensar bem. Não esqueçam de deixar um voto e um comentário, ou mais de quiserem :p eu sempre respondo a todos.

As Folhas Que Só Nós Vimos (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora