Final - As Flores Que Só Um De Nós Viu -

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Me sentia tonto, quando acordei estava cercado de pessoas vestidas de branco e uma luz forte estava voltada contra meu rosto, quase me cegando. Espremi os olhos e olhei em volta, procurando conhecidos e dei de cara com meu irmão, olhando preocupado do outro lado do vidro. Acenei pra ele, mas ele estava concentrado demais recebendo orientações de alguma das pessoas de branco. Deixei pra depois.

Após conferir se estava tudo ok, saímos do hospital e pegamos um táxi pra casa.

- Ei, Dean.. vi apenas de relance, mas aquele hospital não parece um hospital do lado fora, né? - Comentei, tentando puxar assunto, Dean estava estranhamente sério.

- É assim nas cidades grandes, seu caipira. - Ele respondeu. - Tudo é assim...

Fiquei sem graça e confirmei. Olhando da janela já havia vários canteiros cheios de flores de varios tamanhos, aromas e cores.

- A primaveira finalmente chegou...

Descemos no nosso apartamento e pegamos o elevador, assim que abri a porta um serzinho pulou nos meus braços. Era Thomas.

- Ericm, que saudades, você demorou, tanto tanto tanto, eu tava tão preocupado que achei que ia explodir ou derreter ou...

- Eu to bem, eu to bem. - Respondi sem graça, Dean estava de braços cruzados e ranzinza na porta.

-Vamos logo, se tudo ser certo amanhã vocês já voltam pra nossa cidade natal.

- Pra que....? - Pergunto.

- Ue? Não sabe? Eles lembraram Erick, depois de tanto... - Thomas se pôs a falar, animado, mas logo teve a boca tapada por Dean.

- Vem me ajudar aqui? - Ele pediu"gentilmente", parecia que ia matar um. Thomas ignorou completamente essa aura, ou simplesmente não a notou -nunca se sabe- e o seguiu até lá, aproveitei o meio tempo e fui tomar um banho

Thomas.

Segui o irmão de Erick meio receoso, descobri como tempo que ele não gostava de mim desde que descobriu que fiz Erick "atirar pro lado errado" como o próprio dizia, no auge de toda sua doçura, no começo eu não notava, mas se tornou óbvio até pra mim que Dean me odiava,  as vezes trocamos farpas, mas nunca na frente do Erick pelo menos ele parecia amar e prezar verdadeiramente pelo irmão, apesar de tudo, isso que deve ser... Ter uma família, eu acho...

- Você é um anão muito burro, sabia? Não sei como o Rick que era todo certinho e na dele foi acabar logo com alguém como você.

Dei de ombro, dizem que os opostos se atraem, e eu amo o Erick assim, certinho e na dele, mas eu não era o folgado dessa vez e não sou anão.

- Vocês que são altos demais. - Bufei. - Gigante!

- Vou te mostrar o que é gigante. - Ele disse irritado.

- Não precisa, Erick já mostrou. - Sorri travesso, ele me olhou com desprezo.

- Seu folgado. - ouvi ele estalar a língua.

- Você que foi folgado colocando a mão na minha boca! - Protestei- O que foi aquilo?

- Não exagere... Bem, é só que... Preciso pedir uma coisa...

- Não. - Respondi prontamente.

- Pelo Rick.

- Diga...

- Sabe... Graças ao Instituto, ele não lembra de nenhuma coisa relacionada ao dom... Ele lembra das situações de maneira alterada e está com a mente confusa agora.

O olho surpreso.

- Que horrível!

-É melhor que a outra opção de manter ele sob vigia pro resto da vida. - Dean suspirou, me respondendo.

- Isso é verdade... - concordo.

- E mais... Bem... Ele não pode saber... Ou digamos que coisas ruins aconteceram e destravaram a trava de segurança do cérebro dele... E ele vai enlouquecer... - Ele me entregou um papel tremendo um pouco. - Eles são bem precavidos... Eu não vou poder estar sempre perto do Rick... - Ele desviou o olhar. - Então queria que cuidasse dele enquanto pudesse...

Mesmo desengonçado, bati continência abrindo um pequeno sorriso. - Sim, Major!

- Ah. - Dean coçou o rosto sem jeito. - Também queria pedir desculpas... Pela minha primeira reação... Minhas memórias daquele dia voltaram... - Ele respirou fundo. - Ainda não sei lidar muito bem com tudo... Isso mas não devia ter sido tão... Irracional...

- Tudo bem... Já passou... - olhei pra mesma direção que ele olhava. - E como disse... Erick... "Rick" sempre foi o irmão certinho e na dele, ne... Então você....

- Não me compare a você. - Ele riu e eu senti que talvez, dali pra frente fosse ficar tudo bem.

Ou talvez ele só estivesse emotivo com a transfusão do irmão, nunca de sabe, ne?

E então, exatamente uma volta da terra ao redor de seu próprio eixo, estávamos no mesmo ônibus de qual havíamos partidos há cerca de meia volta da terra ao redor do sol, talvez um pouco mais, mas agora no caminho inverso, olhei pra Erick, os raios de sol ao fundo o iluminavam, como holofotes pra mim olha-lo em queria parar tudo e beija-lo, mas não podia, ele sorriu pra mim, meio canto mostrando a covinha e com os olhos azuis acinzentados entreabertos, daquela maneira que só ele sorria pra mim e sorri de volta, sentamos no penúltimo Banco, logo atrás dos bancos mais altos, que ficam sob a roda, e Dean sentou logo atrás, pra vigiar a gente, certeza! Mostrei a língua pra ele e falei que achei que ele não viria, ele empinou o nariz com um ar de superioridade e disse que precisava cuidar um poucos dos pais, capitei a mensagem, eles deviam estar confusos também, Erick piscou inocente e por algum motivo disse.

- Fico feliz que estejam se dando bem, afinal. - O que foi estranho, ele não perdeu a memória daquele dia, certo? E estávamos claramente brigando, Erick bobo.

Respirei fundo e segurei a mão do meu novo, feliz, eu sou outro bobo, um novo alegre. A mão de Erick era calorosa e confiável assim como o resto dele todo. Olhei da janela admirando o caminho de volta, era como tudo ao contrário, estávamos bem no meio da Primavera, uma estação, que assim como no outono, as árvores tinham a copa coloridissimas. Entre esses dois havia o verão. Queria passar aquele verão com Erick. E muitos outros, muitos invernos, muitas primaveras e outonos. Quero estar sempre ao seu lado, sem um fim ou um começo, apenas continuações, como as estações do ano, que passam, tão divididas e únicas, tão misturadas, tão dependentes entre si. Olhei ao redor, o ônibus estava vazio e ninguém prestava atenção, Dean dormia, olhei pra Erick e lhe dei um beijo no impulso, mesmo sem parar tudo. Lá estávamos nós de novo. Eu e ele - E Dean. Juntos. Correndo pra aquele lugar tão conhecido e nostálgico pra nós, ele atrás da doce e talvez surpreendente lembrança, e eu, de novo, ao bom e velho desconhecido.

O que mais será que só nós vamos ver?

As Folhas Que Só Nós Vimos (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora