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Thomas dobrava as blusas do armário, extremamente concentrado naquilo, me perguntei se estava magoado. Eu havia sido covarde e apelado de novo.

- Me pergunto porque o fez esquecer... - ele comenta depois de um longo silêncio, fiquei sem graça pra responder, ou melhor, sem resposta. O que eu poderia dizer? " É mais fácil assim". Os dias se passaram num clima de velório, até o tempo lá fora combinava, tudo estava cinza e branco, e a copa das árvores já havia sumido, se encontrasse alguma folha em uma árvore qualquer, já podia-se se dizer sortudo, o frio simplesmente levou tudo. Dean, apesar de sem memória estava estranho, a primeira vista parecia o Dean animado e divertido de sempre, porém ele estava mais distante e pensativo que o normal, eu me sentia péssimo.

Num dia qualquer Dean preparava café, de manhã, na cozinha, enquanto cantarolava alguma música chiclete, eu estava no quarto, lendo prame distrair quando Thomas me cutucou.

- Ei, Ei... Você não quer... Fugir....?

Arregalei os olhos surpreso, ele continuou. - N-ninguém vai te julgar por isso... Podemos ir pra outra cidade, podemos rodar o mundo... Juntos, só eu e você... Com muito amor e sem sermos julgados... - A oferta, por mais tentadora que fosse me era inaceitável.

- Eu não... Eu... - Recuei, assustado.

- não precisa ter medo... Eu só.... Eu to com medo... - Admitiu fraco. - Desde aquele dia... Se você esquece-los nós...

- SÃO MINHA FAMÍLIA! VOCÊ NÃO ENTENDE!? - respondi, vermelho de raiva, como Thomas podia simplesmente me dizer pra esquece-los?

- Desculpe... Eu realmente não entendo

... - ele respondeu cabisbaixo e se levantou pra se retirar do quarto, enquanto Dean vinha ver o que estava acontecendo.

Me senti mal por ser tão insensível, fui atrás dele e o encontrei indo em direção a porta, me apressei e segurei seu pulso antes que pudesse fugir.

- Thomas, eu...

- Desculpe. - ele disse, ainda com lágrimas nos olhos. - Eu não sou... Nada de incrível... Não sou nada do que você achava... - Ele soluçou, seu rosto estava vermelho e ele tremia um pouco. - Aquele dia... Eu não consegui reagir... Poucas vezes eu fui atacado tão diretamente... E nessas vezes eu.... Eu só fugia.

- Tudo bem... - tentei acalma-lo.

- Não está tudo bem! - ele respondeu irritado. - Nem um pouco! Eu não quero te deixar na mão... Nunca mais! -ele levou suas mãos até minha face, me encarando olho no olho.- Você é tão admirável... Por que não fez ele simplesmente aceitar...?

Era verdade... Meu poder não se resumia a apagar ou alterar memórias, eu podia simplesmente fazer com que fizessem o que eu quisesse... Então por que eu só quis algo tão simples quanto perda de memória?

- Você acredita nas pessoas... Você da à elas uma segunda chance... Você não é covarde, Erick... Você tem um outro dom chamado ternura. Eu não estou à seu nível e não sei como lidar com isso.

- Você não...

- Eu sim... Eu nunca me senti assim com ninguém... Nunca... É estranho... Eu não sei lidar... - ele respirou fundo. - Mas não posso fazer o que sempre faço com o que não sei lidar... Não consigo... - Seu rosto estava ainda mais vermelho.

- O que você faz...?

- Eu fujo... E procuro coisas desconhecidas que ainda não sei se sei lidar ou não... -o envolvi em meus braços, quentes e ternos, acariciando suas madeixas. - Aah, Erick,

Você despertou em mim sentimentos que eu nunca havia sentido antes.

- Deixa que... eu te ajudo... A lidar com isso, ok...? - Tentei dar o sorriso mais confiante que eu podia, mas provavelmente saiu um sorriso trêmulo e impreciso. - Afinal já tomei minha decisão.

-Tomou...?

- Sim.

Na manhã seguinte contei a Dean que eu era gay.

As Folhas Que Só Nós Vimos (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora