Prólogo

67.2K 3.7K 1.5K
                                    

Era impossível não notar a forma como meus olhos se prendiam nele, como se o mundo ao redor perdesse o foco e ele se tornasse a única coisa que importava. Todos viam isso, menos ele.

Todos perceberam como meu coração ansiava por ele, como se cada batida fosse um grito silencioso de desejo, menos ele.

Todos sabiam, desde que eu era apenas uma criança descobrindo o que era o amor, que meu coração já pertencia a ele, menos ele.

Não é por causa da minha timidez que ele não percebe. Não é porque minhas palavras falham e minha voz treme sempre que ele está por perto. Não é por minha culpa que ele continua cego ao que sinto. Não. Isso é culpa dele, somente dele, por ser incapaz de ver além do que está diante de seus olhos.

Naruto, com sua inocência desmedida, jamais conseguiu perceber o quanto eu o desejava, o quanto cada fibra do meu ser clamava por ele. Todos ao nosso redor podiam ver isso tão claramente quanto o sol que brilha no céu, mas ele... Ele permanecia na escuridão, alheio ao meu amor. Talvez Sakura estivesse certa, talvez ele fosse realmente tão obstinadamente cego quanto ela sempre disse.

E essa cegueira me consome, me tortura em silêncio, enquanto cada dia passa e ele continua a não perceber...

— Por que você não fala com ele? — Sakura me pergunta com um sorriso torto, aquele que sempre carrega um misto de diversão e desafio.
— C-com quem? — Tento me esquivar, fingindo desentendimento, como se o simples ato de pronunciar seu nome fosse demais para mim.
— Não se faça de boba, Hinata. — Ela aponta o dedo em minha direção, como se estivesse me condenando por um crime óbvio. — Com o Naruto!

Eu já sabia, todos sabiam, que o meu amor por Naruto era tão evidente quanto o nascer do sol. Mas o que me corroía por dentro, o que me fazia querer me esconder do mundo, era justamente o fato de todos terem essa certeza. Sentia-me exposta, vulnerável, como uma criança que tem seu segredo mais íntimo revelado. E isso, mais do que tudo, me fazia sentir como uma completa idiota.

Porque, no fundo, eu realmente era uma idiota, não era? Uma tola por acreditar que, talvez, se eu permanecesse em silêncio, se eu guardasse esse amor em segredo, ele algum dia olharia para mim e perceberia... Mas isso nunca acontecia.

— E-eu não sei do que você está falando. — Murmuro, tentando manter a fachada de ingenuidade. Eu precisava continuar fingindo. Se não conseguisse esconder nem mesmo a fachada, como poderia esconder o amor devastador que me consumia? Não queria que ficasse tão explícito, tão evidente, o quanto eu o amava, o quanto ele era a minha fraqueza.

Eu precisava desesperadamente que todos esquecessem isso, que as palavras se apagassem como se nunca tivessem sido ditas. Porque, no fundo, eu sabia que Naruto nunca iria querer ficar comigo. Admitir isso para mim mesma era doloroso, quase insuportável. Era um fardo que eu carregava com uma sinceridade que me esmagava, uma verdade cruel que me obrigava a enfrentar dia após dia.

A ideia de que ele pudesse realmente sentir o mesmo por mim parecia uma fantasia distante, uma ilusão que eu alimentava em segredo, mas que sabia que nunca se tornaria realidade. Era um peso que eu não conseguia ignorar, uma realidade que me atormentava e me fazia questionar minha própria sanidade.

Cada vez que alguém mencionava meus sentimentos, cada vez que a verdade se fazia evidente para os outros, eu me sentia ainda mais exposta, mais vulnerável. Eu queria me esconder, desaparecer, porque aceitar que Naruto jamais me veria da maneira que eu o via era um golpe brutal à minha dignidade e ao meu coração.

— Até quando você vai agir assim, hein? — Sakura inclina a cabeça ligeiramente para o lado e sorri com uma expressão que mistura diversão e uma pitada de julgamento. Ela parecia estar na posição de comentar sobre minha vida como se fosse a especialista em tudo.— Se você não falar, ele nunca vai perceber. Ele é um tapado, Hinata!

Eu sabia disso, é claro. Cada palavra dela parecia uma lâmina afiada cortando mais fundo em minha consciência. Mas a ideia de ir até Naruto e declarar meu amor, de gritar "Naruto, eu te amo!" como uma tola, era algo que eu não conseguiria enfrentar novamente. Eu já era uma idiota por me sentir assim, e não queria aumentar essa sensação. Se ele quisesse algo comigo, se realmente sentisse o mesmo, ele se lembraria daquele dia em que tudo parecia perfeito.

— E-eu tenho que ir para casa! — Levanto-me abruptamente da cadeira, meus movimentos apressados traindo minha urgência em escapar daquela situação. Saio correndo, meus pés batendo rapidamente contra o chão, como se essa velocidade pudesse me afastar da vergonha que me consumia.

Eu sabia que, se continuasse ali, Sakura poderia me fazer encontrar coragem para fazer algo que eu sabia que acabaria em desastre. Ninguém precisava me lembrar de como Naruto era alheio aos meus sentimentos; eu já estava bem ciente disso. Eu não queria ser a primeira a revelar meu amor. Talvez, apenas talvez, ele também pudesse abrir seu coração se eu permanecesse em silêncio.

Será que Naruto me amava?

A simples pergunta fez meu coração acelerar, e eu senti um calor intenso subir pelas minhas bochechas, como se um sol interno tivesse se aceso dentro de mim. Era uma sensação tão inesperada quanto maravilhosa, que me fez sorrir timidamente. O pensamento, ainda que fugaz, era tão audacioso e tão improvável que me pegou de surpresa.

A ideia de que ele pudesse sentir o mesmo por mim, de que o amor que eu carregava em silêncio pudesse ser correspondido, era um sonho que parecia quase surreal. Imaginar o calor do seu afeto misturado com o meu era uma perspectiva tão fascinante quanto aterrorizante. Era como se um novo e brilhante mundo se abrisse diante de mim, oferecendo uma esperança que eu mal ousava aceitar.

Eu me perdi nesse pensamento, na possibilidade sublime e impensável de que ele, talvez, também me amasse. A ideia me envolvia em um misto de excitação e medo, e eu me perguntava se, ao menos por um momento, ele poderia olhar para mim e ver algo mais do que a simples Hinata.

— Oi, Hinata! — A voz de Naruto ecoa com uma firmeza que faz meu coração disparar instantaneamente. O som do meu nome saindo de seus lábios é como um toque elétrico, fazendo minhas bochechas queimarem com uma intensidade que eu mal consigo controlar.

— O-oi! — É a única palavra que consigo balbuciar antes de sentir uma onda de pânico e constrangimento me invadir. Com o rosto ardendo de vergonha, corro dali, como se estivesse fugindo de uma catástrofe iminente. Cada passo é uma tentativa desesperada de escapar do calor que se espalha pelo meu corpo e da sensação de que minha vida está prestes a desmoronar naquele exato momento.

Talvez eu fosse realmente covarde ao evitar encarar Naruto, mas havia uma linha que eu não estava disposta a cruzar novamente. Não seria tola o suficiente para cometer o mesmo erro outra vez. Eu já havia me declarado para ele uma vez, e ele sequer me dirigiu uma palavra sobre o assunto, como se minhas confissões não tivessem importância.

Não estava disposta a passar por isso novamente, a me expor à rejeição e ao silêncio que só acentuava a dor. Eu podia amá-lo com toda a intensidade que meu coração era capaz de suportar, mas não estava disposta a me humilhar mais uma vez. Meu orgulho e meu coração quebrado pediam que eu mantivesse a dignidade e não arriscasse mais um golpe doloroso à minha autoestima.

Estranha Perfeição - NaruHina (CAPÍTULOS EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora