Capítulo 3

1K 75 21
                                    

— Você sabe que vai foder com meu dia com esse ataque ridículo, não sabe? — ouvi a voz de Tyler assim que desci em direção à cozinha. Eu tinha acabado de acordar e ia preparar o café da manhã das crianças.

— Quer saber, faz o que você quiser... — era a vez da voz de Leah acompanhada da porta da geladeira fechada brutalmente. — Minha opinião nunca valeu de nada mesmo, não é? — ela dizia. Eu encostei-me à parede e cessei minha respiração.

— Francamente, Leah, você é patética. — o baque da porta de entrada foi estrondoso e, por fim, ouvi Leah soltar um xingamento qualquer, como se Tyler pudesse ouvir já de dentro do carro a caminho de seu trabalho.

Subi as escadas novamente e voltei para o meu quarto, com medo de que ela percebesse que eu havia escutado a discussão matinal, e preferi esperar um pouco para descer novamente. Desde que cheguei, não presenciei momento algum de carinho entre Tyler e Leah. Ambos só conversavam quando o assunto eram as crianças ou a casa. E isso era algo muito estranho ao meu ver. Apesar de que os americanos são bem mais reservados. Não que eu espere os encontrar pelos cantos da casa se agarrando. Mas, definitivamente, se eu não soubesse que eles eram um casal, eu não os julgaria como tal.

Já fazia um mês desde a minha chegada aos Estados Unidos. Eu ligava para meus pais uma vez por semana, já que agora eu tinha um telefone com uma operadora americana que me permitia ligação para o exterior. A agência da qual eu vim fazia uma vez por mês um encontro entre todas as au pairs que estavam nas cidades próximas. Havia jovens de todo o mundo. Isso era ótimo para tirarmos dúvidas e compartilhar as experiências que estávamos tendo. A coordenadora da agência era um amor de pessoa. E estava disponível a qualquer momento se caso nós precisássemos dela.

Era sexta-feira à noite e eu estava em um pub maravilhoso da cidade, junto com Perrie e Kim. Perrie também era Au Pair e eu a havia conhecido no encontro que a nossa agência havia feito. Ela também tinha vinte um anos e era da Inglaterra. Estava em uma casa com duas crianças, e os pais já eram um pouco mais velhos. Kim era a filha mais velha da família, de vinte dois anos. Ambas acabaram se tornando amigas e eu invejei um pouco aquilo. Seria ótimo ter alguém da minha idade na minha família. Não que minha host family seja ruim. O problema é que, desde que cheguei, eu não tenho contato com ninguém mais a não ser a professora de North, os vizinhos, ou o entregador da pizzaria mais próxima de casa. Longe de mim reclamar, afinal, eu estava nos Estados Unidos.

— E como você tá aguentando um mês no país dos sonhos sem sair? — Kim perguntava indignada.

Apenas dei de ombros. O que eu faria? Não conhecia ninguém, e eu que não sairia por aí sozinha pelas ruas a procura de um pouquinho de diversão americana.

— Eu acho que você tem que se juntar a nós. — Perrie dizia cerrando os olhos com um sorriso tentador no rosto.

— Sem dúvidas. — Kim falava se levantando. — A partir de hoje eu vou te carregar para todas as festas da minha faculdade, e aí sim você vai começar a realizar seu sonho. — ela disse por fim, piscando o olho.

Perrie era muito bonita. Seus cabelos até o ombro eram platinados, cinzas. Isso mesmo, cinzas. Mas combinava tanto com o tom de pele claro dela, quem sou eu para julgar. Já Kim era morena, com os cabelos quase até a cintura. Seus lábios pareciam o da Angelina Jolie.

— Agora, se vocês não se importam... — Kim falava se levantando. — Algo me diz que aquele moreno ali de trás não tirou os olhos de mim desde que cheguei. — disse arrumando seus cabelos e puxando seus seios visivelmente siliconados. — Hasta la vista. — ela falou para Perrie, abanando as mãos, e foi ao encontro do tal moreno.

Algo me dizia que se meter com essas duas era loucura. Porém, uma loucura boa e que eu não via hora de cometer. Depois de uma noite divertida com as meninas, eu voltei para casa. Estacionei em frente à garagem, deixando o carro ali mesmo. Entrei na casa e fui recebida por Leah completamente nervosa.

— Ah... Achei que fosse o Ty. — ela disse, virando seu corpo e retornando a sala. Fiquei parada por um momento com a mão na maçaneta até acordar do meu transe e finalmente entrar. — Deve ser a décima vez que eu ligo e o celular só dá desligado, e ele ainda me pede para ter paciência com ele. — falou, tacando o celular no sofá assim que eu entrei na sala de estar. Leah passava a mão em seus cabelos loiros freneticamente. — Já estou farta disso. — completou. Eu estava parada com os dentes trincados. Não sabia o que falar nem o que fazer.

— Você precisa de algo? — ameacei uma aproximação de Leah e fui surpreendida com sua atitude.

— Não! — ela falou com o braço esticado para que eu não chegasse mais perto.

— Ok. — falei com os olhos um pouco arregalados e corri para o meu quarto, com medo de que a qualquer momento ela pudesse descontar sua raiva em mim.

Depois de ficar um pouco na internet com meus amigos, fui tomar um banho. Lavei meus cabelos e fiquei longos minutos desembaraçando o mesmo debaixo d'água. Coloquei uma calça de moletom e um top confortável preto. Já fazia mais de uma hora desde que eu havia chegado e a casa já estava toda silenciada. Antes de me deitar, preferi passar no quarto das crianças para ver se estavam bem. Independente de eu estar ou não no meu horário de trabalho, eu já sentia um apego enorme por elas, e a preocupação era enorme.

Vi que ambas dormiam calmamente e dei meia volta, indo em direção a cozinha pegar um copo d'água. Meus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, o que fazia com que meu colo e ombros ficassem molhados. Depois de despejar o resto do liquido na pia, ouvi um barulho vindo dos fundos da casa. Lavei o copo e fui curiosa até os fundos dando de cara com Ty sentado em uma das espreguiçadeiras que haviam em volta da piscina.

Encarei-o por um momento e pensei em ir até ele. Porém, já eram quase duas da manhã. Se ele estava ali, não era para simplesmente encarar aquela noite maravilhosa.

— Tem alguém aí? — Ty falou ao ouvir um som qualquer e eu tive que me entregar. Ergui as mãos e fui ao seu encontro. Tyler segurava um cigarro em mãos e estava visivelmente bêbado. Não ao ponto de cair, nem nada. Mas era claro que estava alterado. — Eu não faço isso sempre. — ele disse me mostrando o cigarro. — Na verdade, eu nem gosto. — falou, dando uma leve tossida em seguida.

— Então, por que está fumando? — perguntei sem entender, sentando-me na outra espreguiçadeira bem a seu lado.

— É uma maneira de espairecer quando meu nível de estresse fica mais alto que o normal. — ele disse dando uma tragada e soltando a fumaça lentamente para cima. Acompanhei cada movimento e, independente de não ser nada apropriado no momento, eu achei aquilo um tanto quanto sexy. — O que faz acordada? — ele perguntou me encarando.

— Eu cheguei a pouco tempo de um pub e vim tomar um copo d'água. — falei, forçando minha vista para enxergar Ty. A luz era pouca, mas eu podia vê-lo. E, nesse momento, os olhos castanhos de Ty encaravam sem pudor nenhum meu colo molhado.

— Já conheceu alguém bom o suficiente para te dar um pouco de diversão? — ele perguntou, jogando seu corpo para trás deitando na espreguiçadeira. Enruguei minha testa com a pergunta de Ty. Não entendi qual foi sua intenção e fiquei bastante confusa.

— Erm... — tentei escolher as palavras. — Não sei o que você quis dizer com isso, mas... Eu conheci umas amigas e me diverti. — respondi com o tom duvidoso, como se não soubesse se era aquilo que ele queria ouvir. Ty deu uma risadinha e levou suas mãos ao rosto.

— Cuidado com os caras por aí. — ele falou se levantando rapidamente da espreguiçadeira. — Com esse corpo visivelmente brasileiro, não vai ser nada fácil escapar das garras de um. — falou, já se virando e voltando para dentro da casa.

Minha boca estava entre aberta e eu posso ser a pessoa mais inocente de todas, mas eu realmente não havia entendido o que Ty dissera. E, mesmo assim, como eu já havia dito, ele estava bêbado. E não levamos muito em consideração o que sai da boca de pessoas bêbadas. Sou a prova viva disso.

Au Pair | Elizabeth Olsen & Sebastian StanOnde histórias criam vida. Descubra agora