Capítulo 15

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Eu tinha acabado de sair de mais uma aula do meu curso de inglês. Cada dia que passava, meu inglês ficava mais fluente, e hoje eu já não tinha mais dúvidas. Vez ou outra alguém soltava uma gíria predominante da cidade, e eu não entendia, mas isso era só questão de costume.

— Por que não? Quero uma resposta. — Jeremy insistia. Nós estávamos no Starbucks mais próximo do meu curso, quando ele teimava em querer me levar a casa de um amigo no final de semana.

— Porque não, já falei trezentas vezes. — falei, terminando meu café.

— Izzy, é como amigo, fala sério, você não tem nenhum plano nesse final de semana que eu sei. — ele me encarava com aqueles enormes olhos claros.

— E como você sabe? — perguntei, fazendo cara de boba e cruzando os braços.

— Porque eu já chequei com suas amigas e elas me disseram que você mesmo falou que não tinha nada para fazer... — ri da insistência de Jeremy e prometi que iria, ao menos, pensar, e depois daria a resposta se iria ou não. Jeremy me levou em casa e eu não tive surpresa nenhuma ao entrar e dar de cara com Tyler e Leah discutindo.

— Que bom que você chegou, Izzy! — North vinha correndo e me abraçou.

— O que houve? — perguntei, preocupada, fazendo carinho na cabeça da criança. Ty estava sentado no sofá com uma cara de poucos amigos e Leah em pé a sua frente.

— Leah resolveu do nada mudar de cidade. — Ty disse, se levantando e me olhando. Sua esposa passou a mão em seus cabelos, nervosa, e disparou:

— Isso é um assunto da família, por que diabos você tem que sempre meter essa menina no meio? — ela perguntou com os braços cruzados e North me defendeu, dizendo que a mãe não deveria falar assim comigo.

— Tudo bem... Você está certa, Leah. — falei, ajeitando minha bolsa no ombro. Existem momentos e momentos, e aquele ali realmente era um momento de família e eu não tinha que me meter. — Vem, North, vamos deixar a mamãe e o papai conversarem. — falei, puxando a menina para o andar de cima. Entramos em seu quarto e Nate estava sozinho em seu berço, brincando com um brinquedo qualquer.

— Pair! — ele tentou dizer, já que North andava tentando o ensinar a falar au pair, já que meu nome era muito difícil. Deixei minha bolsa no chão e peguei o pequeno no colo, jogando-o na cama da irmã e mordendo sua barriga.

— Me fala o que aconteceu... — falei, tirando o cabelo de meu rosto depois que parei de implicar com Nate. North sentou-se ao meu lado e começou a falar.

— Mamãe falou que agora ela tem um trabalho em outra cidade... — ela falava, tentando se lembrar. — Ela disse que foi transfusida... — North me explicava e eu ri com o erro da pequena.

— Transferida. — a corrigi e ela concordou.

— E ela quer levar eu e o Nate. — falava, pegando na mãozinha do irmão. — Mas o papai disse que ninguém vai! — terminou. Eu teria que entender isso melhor. Fiquei mais um tempo com as crianças e coloquei North para o banho, enquanto descia novamente encontrando o casal na sala.

— Não tem cabimento isso, Leah! — Ty falava, agora mais calmo. — As crianças tem tudo aqui, eu tenho meu emprego, não é hora para isso. — ele falava, sério.

— Tyler! — ela o interrompeu com os olhos fechados, controlando sua raiva. — Eu deixei de fazer TUDO na minha vida por causa de você e dessas crianças, e o que eu recebi em troca? — ela perguntava com uma cara que eu julgava ser de maníaca. — NADA! NADA, TY! — e sua histeria voltava.

Tentei passar despercebida para ir até a cozinha preparar a mamadeira de Nate e ela, apesar de me ver, nem ligou para minha presença e continuou a atacar Ty.

— Você só pensa em você! Você é um EGOÍSTA!

— Para de gritar, Leah! — era a vez de Ty a interromper. — Qual é a deficiência mental que você tem que não consegue ter uma conversa decente? — ele perguntou, irônico, e eu me segurei para não rir.

— Olha só... — eu dei uma leve olhada para a sala e ela andava de um lado para o outro. — Eu não quero saber a sua opinião, só estou te deixando claro que eu não vou perder essa oportunidade. — falou, indo em direção às escadas.

— VOCÊ VAI SOZINHA! — era a vez de Ty gritar, talvez cansado da imaturidade da esposa. E Leah agora estava descontrolada chorando.

— Meus filhos vão comigo... — ela dizia enxugando as lágrimas. — Eles vão comigo e eu NUNCA MAIS VOU PRECISAR OLHAR NESSA SUA CARA! — ela gritava aos prantos e eu já estava preparada para intervir. Leah parecia querer matar Ty naquele momento.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA TIRAR MEUS FILHOS DE MIM? — ele estava tão vermelho, e eu podia ver suas veias saltarem de tão nervoso.

Aquele relacionamento não tinha mais jeito. Já tinha acabado e eles tinham que enxergar isso. Olha a que ponto ambos chegaram.

— EU SOU A MÃE...

— E EU SOU O PAI! — os gritos não cessavam e eu pude ver a hora em que algum vizinho bateria a nossa porta.

— DA NORTH! SÓ DA NORTH! SEU IDIOTA! O NATE NÃO É SEU FILHO. — e os berros cessaram.

O copo de leite que em minha mão estava foi de encontro ao chão. Leah chorava tanto que, uma hora, se sufocaria com os próprios soluços. Eu estava imóvel, sem expressão, sem reação, assim como Tyler. O coitado estava estático e eu não estava acreditando no que tinha acabado de ouvir.

— O-o quê? — ele gaguejou e engoliu seco. Seu olhar agora não era de raiva, nem de pena, seu olhar era vago e sombrio.

— E antes que você me ataque por isso... — Leah desceu os dois degraus que havia subido. Secou suas lágrimas e encarou Ty, apontando o dedo em sua cara. — Não fui só eu que te traí... — ela cuspia as palavras. Leah, sim, estava com os olhos ardendo em ódio, aquele ali parecia ser o julgamento dela para Ty ir para o inferno. — O Nate é filho do Scott! — ela fechava os punhos com tanta força e Ty continuava ali, parado, a encarando, absorvendo todas aquelas informações.

Minha boca estava caída, literalmente. Eu podia vê-la no chão junto com o leite que eu havia derramado. Leah continuou chorando, virou-se e correu as escadas, indo para o andar de baixo. E Tyler não havia movido um centímetro se quer, eu duvidava até de que ele ainda estivesse respirando. Ele estava em estado de choque.

— Ty... — falei, com a voz amargurada, indo em direção a ele.

Tyler estava destruído. Estava claro em seu rosto o quanto aquelas palavras haviam o machucado, e vê-lo naquele estado era um soco no meu estômago. Ele levou as mãos até o rosto e, em seguida, até seus cabelos. Ty estava atordoado.

Eu abri a boca para repetir seu nome e falar algo que o confortasse, mas ele nem deu tempo. Ty saiu correndo porta afora e eu só tive tempo de vê-lo arrancar com o carro para sabe-se lá o destino. Eu estava eufórica com o que tinha acontecido. Infelizmente, com uma enorme pena de Ty, e com um sentimento indecifrável por Leah.

A única coisa que eu podia fazer era subir e ficar com as crianças, tentar acalmá-las e fingir que tudo estava bem, mesmo quando o próprio teto delas beirava a um inferno.

A única coisa que eu podia fazer era subir e ficar com as crianças, tentar acalmá-las e fingir que tudo estava bem, mesmo quando o próprio teto delas beirava a um inferno

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Au Pair | Elizabeth Olsen & Sebastian StanOnde histórias criam vida. Descubra agora