Capítulo 29

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A noite anterior parecia ter grudado em minha memória. Eu já tinha feito de tudo para me distrair, mas nada tirava as cenas de ontem da minha cabeça.

— Izzy, esse filme é o pior que eu já vi em toda a minha vida. — Kim me cutucava e eu dei uma risada do comentário da minha amiga.

Estávamos deitadas na sala, com uma barra de chocolate cada e assistindo a um filme qualquer.

— Vamos colocar outro então... — disse, me levantando do chão, e logo escutei o barulho da porta, dando de cara com Ty entrando com seu amigo.

— Josh! — Kim correu ao seu encontro, como uma criança. — Que saudade! — ela falava, dando um beijo no rosto do rapaz.

— Você me abandona, fala que não quer sair comigo, e agora diz que está com saudade? — Josh olhava para ela com uma sobrancelha arqueada.

— Nossa... Ok então. — ela falou, se afastando dele, voltando ao meu encontro.

— Oi para você também, Kim! — era a vez de Ty se pronunciar. O mesmo nem se quer me cumprimentou, ou me olhou. Ba-ba-ca.

— E aí, Izzy! — Josh me abraçou e imediatamente os dois foram para os fundos da casa.

— Vocês não estão se falando ainda? — ela perguntou, me olhando.

— Olha, eu nem sei mais o que está acontecendo entre a gente, sinceramente, não aguento mais. — falei, derrotada.

— Se você quiser, eu posso tentar arrancar alguma informação do Josh...

— Amiga, vocês estão igual ou pior do que a gente... Sério, não precisa! — dei de ombro. — Vamos trocar o filme, vai. — tentei voltar minha atenção para o filme. Mas a única coisa que vinha na minha cabeça era em como Tyler estava sendo escroto.

Kim passou a tarde toda comigo, e, à noite, eu iria para casa dela. Kim havia preparado uma festa do pijama com suas amigas da faculdade, mas, no fundo, eu sabia que ela queria reconciliar Perrie e eu, já que nós não nos falávamos desde a última discussão.

Já eram quase onze da noite quando eu ia sair. Atrasada, por sinal, já que o horário combinado era as dez.

Desci as escadas correndo e fui até a sala à procura da minha bolsa que eu havia jogado por lá na noite anterior. Ty estava na cozinha. Reparei exatamente a hora em que cheguei à sala e o mesmo esticou sua cabeça para ver o que eu estava fazendo.

— Vai sair? — ele perguntou sem mais palavras. Eu estava ajoelhada no chão, e finalmente havia encontrado minha bolsa embaixo do sofá.

— Sim. — respondi, me pondo de pé e arrumando minha roupa.

— Com o Scott? — ele perguntou e eu bufei. Já estava de saco cheio de Tyler ficar insistindo nesse assunto.

— Tyler, me erra! — falei, irritada. — Eu não tenho nada com o Scott, e, mesmo que tivesse, você não tem porra nenhuma a ver com esse assunto. — falei, por fim, arrumando minha bolsa.

— Mas ele está tentando, Izzy. Eu sou homem e sei quando outro homem quer alguma coisa com uma mulher. — ele falou, me olhando.

Ty estava de calça de moletom, sem camisa, descalço e com um copo de achocolatado na mão. Continuava lindo. E eu daria tudo para poder passar a noite com ele, exatamente assim.

— Assim como você quis comigo, né? — perguntei, cruzando os braços. — E se ele quiser algo comigo, qual é o problema, Tyler? — bufei.

— Eu já perdi uma mulher para ele, não quero perder outra. — ele disse.

Senti que Ty havia engolido todo seu orgulho ao dizer aquilo. Estava estampado em sua cara. E eu estava sem acreditar no que tinha ouvido. Isso era muita coisa para minha mente e meu coração. Ty só podia estar de brincadeira.

— Você não vai me perder... — falei, me aproximando de Ty, negando com a cabeça e olhando dentro dos seus olhos. — Porque você não me tem! — falei firme com a expressão fechada. — Você acha que pode ser um idiota comigo, me tratar mal e, quando der na telha, me levar pra cama? — disse a primeira coisa que veio na minha cabeça. Mas era a primeira vez que eu falava o que realmente sentia na cara de Ty. — Você realmente acha que pode fazer isso comigo? As pessoas têm sentimentos, sabia? E eu gosto de você, Tyler, mas não vou admitir que você me trate igual tratava a Leah! — não escutei resposta alguma e saí de casa em uma velocidade inexplicável.

Não sei o que Ty pensaria. Na verdade, não sei por que Ty estava desse jeito ultimamente, não foi ele que havia me dispensado? Dizendo que tínhamos que esquecer tudo e nos tratar profissionalmente? Pois bem.

Andava na rua com pressa, à procura de algum táxi. Em meu coração, uma pontada. E em meu olho, uma lágrima. Eu sempre cresci com um exemplo de casal em casa. Meus pais, além de casados, eram melhores amigos. Aonde um ia, o outro estava sempre. Até que, com o tempo, do nada, tudo acabou. O amor acabou. Meus pais nem se falavam, mesmo morando embaixo do mesmo teto. E esse tal de amor para mim passou a ser como uma lenda.

Uma coisa que todo mundo sempre fala, mas não sabe se é verdade. Eu já tive alguns namorados, mas nunca me apaixonei de verdade. E, para ser sincera, achei que isso nunca aconteceria. Até que eu realizo o meu sonho de vir para os Estados Unidos, e, como se não pudesse ficar melhor, eu começo a achar que esse tal de amor existe.

Senti a lágrima escorrer e respirei fundo para que ninguém na rua percebesse. Não é possível que não houvesse nenhum táxi àquela hora. Eu andava de um lado para o outro e aquela rua escura só fazia com que minha mente viajasse para o rosto de Ty.

Lembrei-me de todos nossos beijos, nossos toques, nossos abraços e carinhos. Por mais que eu tentasse esconder, estava claro que eu precisava de Ty ao meu lado.

Bendita é essa necessidade que eu tenho de senti-lo. Bendito é esse tempo que parece parar quando eu estou com ele. Bendita é essa paixão que me pegou e eu nem sei mais o que fazer.

Funguei ao reparar que eu estava em lágrimas. Lágrimas tristes por não saber o que Ty sentia, e pior, medo dele não sentir nada. Lágrimas tristes por lembrar que provavelmente eu voltaria para o Brasil daqui a pouco, e esse tal amor, voltasse a ser uma lenda.

Avistei um táxi do outro lado da rua e corri para alcançá-lo. Minha vista estava embaçada com as lágrimas, e minha cabeça já doía não sei por qual motivo. Reparei que o motorista iria embora sem passageiro nenhum e apressei minha corrida para que ele não fosse, até que avistei um carro perto de mim, perto demais, tarde demais.

Senti um baque em meu corpo. Um baque tão forte que parecia que eu havia quebrado todos os ossos da minha coluna. Um baque muito forte, mas não tão forte quanto à batida da minha cabeça no chão, me fazendo desmaiar.

Au Pair | Elizabeth Olsen & Sebastian StanOnde histórias criam vida. Descubra agora