Capítulo 24

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Uma semana se passou desde que Ty teve aquela conversa comigo. E sinceramente? Eu não poderia estar pior. Meu humor estava péssimo, eu não estava prestando atenção em nada ao meu redor, e fora a vontade zero de me divertir.

— Tem alguém aí? — Scott me cutucava, talvez pela terceira vez. Olhei para o lado e encarei o moreno me olhando estranho.

— Desculpa. — ri fraco, balançando a cabeça.

— Acho que você está precisando de um café, já volto. — ele falou, saindo em seguida. Balancei a cabeça novamente.

Scott, ultimamente, era a única companhia que eu tinha. Kim estava nas provas finais da faculdade, e não tinha mais tempo para nada. Perrie também tinha arrumado um novo curso, que era justamente nos horários em que eu estava vaga. E Jeremy, depois do acontecido, nunca mais nos falamos.

— Não precisava. — falei assim que Scott voltou com um café em mãos.

— É só para ver se você fica mais esperta. — ele brincou, piscando o olho e virando para ir até sua sala, mas deu meia volta, voltando a atenção para mim. — Izzy... — ele disse e eu o atendi. — Amanhã eu vou ter que ver um projeto que está em andamento em uma casa... Acho que seria legal você vir comigo, para ver como funciona na prática e tudo mais... — ele deu a ideia e eu concordei imediatamente. Estava mais do que animada em saber mais sobre essa profissão.

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Naquela noite, após deitar minha cabeça no travesseiro, eu devo ter demorado cerca de duas horas para finalmente conseguir dormir.

Parei para pensar em tudo o que vinha acontecendo na minha vida, e em como já estava chegando perto do fim o grande sonho. Não sei ao certo como seria quando o intercâmbio acabar. Não me via longe desse país mais, não me via voltando e tendo a vidinha normal que eu tinha no Brasil. Isso não era para mim.

Se antes eu já amava os Estados Unidos, sem nunca ter tido o pé aqui, agora, então, só tinha mais certeza de que era aqui que eu queria passar o resto da minha vida até os últimos dias dela. Sentia, sim, muita falta da minha família. As palavras amigas da minha mãe, o abraço aconchegante do meu pai. Acontece que nem tudo era um conto de fadas, e às vezes você tem que abrir mão, sim, de coisas que são importantes para você, para que talvez você encontre algo mais importante ainda.

— Izzy, vem cá! — ouvi a voz de North na sala.

Pedi para que ela esperasse um instante, pois eu estava arrumando a cozinha, e logo iria. Vida de dona de casa não era nada fácil. Quando eu morava com Leah, ela podia ser o que fosse, mas ela ainda sim era a mulher da casa, e mesmo que ela abusasse de mim às vezes, ainda sim era mais tranquilo. E agora que Ty resolveu ser somente o homem da casa, ele não fazia mais nada. Não estava sendo fácil cuidar de North, cuidar da casa, dar conta do meu estágio e tentar aproveitar a vida nos Estados Unidos, não estava mesmo.

— Oi, minha linda. — falei assim que encontrei a menina na sala com uma enorme caixa na mão.

— Eu esqueci te mostrar... Olha o que a vovó me deu. — ela disse, abrindo a enorme caixa. Era um conjunto, que continha umas três telas de pinturas, e diversas tintas e pincéis. Tinha inclusive alguns moldes de pinturas.

— Uau, que demais, North! — falei, realmente animada vendo o presente que ela tinha ganhado. Pareciam ser equipamentos de verdade.

— Ainda não usei... — ela disse, tristonha, e logo eu tive uma ideia.

— Que tal se nós formos lá para os fundos e fizéssemos alguma pintura? — perguntei e a pequena se animou.

Subimos rapidamente e trocamos de roupa, colocando peças já mais antigas, para caso sujasse.

— Coloca ali. — ela apontava para o local. Armamos tudo nos fundos da casa, perto da piscina, e parecia um pequeno atelier. Ficamos por longos minutos decidindo o que pintaríamos, cada uma com uma tela, e assim passamos o resto da tarde.

— O que é isso no seu nariz, North? — perguntei, olhando a menina marota.

— O quê? — ela passou a mão no nariz, sem entender.

— Isso! — disse, dando uma leve pincelada em seu nariz com tinta azul.

— AH, NÃO. — ela falou, gargalhando e tentando olhar para o próprio nariz. — Meu nariz tá azul. — disse, rindo. Quanto mais ela tentava tirar a tinta, mas azul ficava. — Presta atenção na sua pintura e me deixa quieta. — ela disse, como se desse uma ordem, que eu acatei.

Olhei novamente para a pintura que eu fazia. Era para ser uma paisagem, mas nem eu mesma estava entendendo o que eu tinha feito.

— AI! — falei, assustada, ao sentir uma pincelada em meu braço. — Agora é o meu braço que está azul. — disse, rindo. — Você vai ver... — peguei o maior pincel que tínhamos e afundei na tinta vermelha, dando uma enorme pincelada na bochecha e no ombro da pequena.

— Izzy! — ela gargalhava e olhava para os locais que eu tinha pintado. — Você é que vai ver! — disse, me imitando, e, quando dei por mim, estávamos as duas, uma dando banho de tinta na outra. Nossos rostos, cabelos e roupas estavam todos coloridos, eu não aguentava mais correr e rir.

— Espera, por favor. — implorei, deitando no chão e encarando o céu.

— Eu também não aguento mais. — a menina disse, rindo e deitando também. Respiramos fundo e conseguimos finalmente descansar da guerra de tinta que tinha acabado de acontecer.

— North! — ouvimos a voz de Ty e North imediatamente levantou correndo para ver seu pai, que estava de pé na porta que dava para a piscina.

— Vem ver minha pintura. — ela disse, puxando a mão do pai.

— O que aconteceu aqui? — ele perguntou, olhando ao redor. Havia tinta em todo o chão, e, claro, em toda sua filha.

— Eu e a Izzy começamos a fazer umas pinturas, mas aí acabou tendo uma guerrinha de tinta. — ela disse, rindo e passando a mãos em seus cabelos, que antes loiros, agora coloridos.

— Tem tinta até na minha parede, Isabella, pelo amor de Deus, né. — ele falou, já me encarando, ainda deitada. Levantei-me rapidamente e fui ao encontro de Ty, que olhava tudo sem gostar nem um pouco.

— Desculpa, Tyler, nós só estávamos brincando e...

— Mas você não está aqui para brincar... E olha o estado da North, olha a roupa dela. — Ty estava furioso. Olhei para ele, incrédula com o show que estava dando por tão pouco.

— Nós pegamos roupas velhinhas, papai... — North falava, já tristonha.

— Não me interessa...

— Eu vou limpar tudo isso, Tyler, e vou ajudar North a se limpar também, não precisa ficar nervoso por isso. — falei, olhando séria para ele.

Ty era outro homem. Nunca tinha ligado para isso, muito pelo contrário. Se fosse há um tempo, tenho certeza de que se juntaria conosco na brincadeira, e, no final de tudo, acabaríamos todos dentro da piscina.

— Você está aqui para me poupar trabalho, Izzy, e não para me dar mais trabalho... Então, por favor, né. — falou, pegando a mão da filha e indo para o interior da casa.

— Não fala assim com ela não, papai... — ouvia North me defender e, mesmo com raiva, consegui sorrir.

Respirei fundo e rolei os olhos. Era só o que me faltava. Tyler estava irreconhecível. E não estava sendo nada fácil conviver com ele desse jeito. O conto de fadas que eu estava vivendo de uma hora para outra se desmanchou, e nada me deixava mais triste naquele momento do que ser destratada por Tyler.

Au Pair | Elizabeth Olsen & Sebastian StanOnde histórias criam vida. Descubra agora