22 - Stumbling

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Hoje levantei como todos os dias, cheia de energia e com vontade de fazer algo bom pela minha vida e pela dos outros.
Mas nunca imaginaria, que eu, amante de aventuras, excêntrica até não poder mais, e curiosa para conhecer coisas novas, que encontraria algo nesse dia, aliás, algo não, alguém. E alguém que mudaria minha vida por completo. Cuidado com o que deseja, uma advertência que eu diria a mim mesma se pudesse viajar no tempo.

Ainda moro com meu pai, conseguimos reconstruir nossa casa, e isso graças aos nossos vizinhos, os amáveis Weasley, que nos ajudaram com a reforma. E Ginny continua sendo minha melhor amiga. Papai continua dirigindo o Pasquin, e eu, bom, tento sobreviver a universidade mágica. Ser "diferente" é algo difícil quando se é uma adolescente, ou quase adulta, e na universidade é ainda pior do que quando era criança, sou uma negação social. As pessoas me olham como se fosse alguma criatura mágica bizarra. Enfim, não mudemos de tema.
O fato é que, quando estava em Hogwarts não me importava em absoluto ser "ninguém", mas quando cheguei a uma certa idade,isso começou a me importar. No colégio tinha meus amigos, Harry, Ginny, Ron,Hermione, com quem discutíamos várias vezes sobre temas que não concordávamos, aliás que eu não via como eram em realidade. E por ultimo mas não menos importante, Neville. Eles fizeram com que esse período chamado adolescência fosse mais fácil para mim, sendo que eu era motivo de piada em toda Hogwarts. Mas depois do final da guerra, com minha pequena, mas valiosa participação, tudo voltou à normalidade. Por assim dizendo, solidão. Cada um seguiu sua vida como achou melhor. E eu, continuei sendo Luna Lovegood, estranha, diferente, no mundo da lua, "lunática" e por aí vai...
O fato é que alguns meses depois de entrar na universidade, me dei conta de que todos me olhavam pelos corredores quando usava meus brincos de rabanetes, e me senti pela primeira vez na vida um pouco ....estranha. E foi aí que cometi a primeira traição contra mim mesma, parei de usar meus brincos, e os guardava em um bolsinho de minha mochila, colocando-os apenas quando saía da universidade. E comecei a percorrer o longo caminho para a aceitação. Chorei por várias noites durante meses, não queria deixar de ser eu e me tornar alguém "normal" para ser aceita.
Tentei por vários meses, mas parei o processo de mudança e então veio a calmaria, novamente voltei a ser indiferente ao que os outros pensavam , ou ao que eu pensava que os outros pensavam. Minha crise existencial, aquela pela qual todos os jovens passam, ao que parece chegou um pouco atrasada, mas felizmente, eu passei por ela. Hoje continuo sendo Luna, a mesma pessoa rara, um pouco mais alta do que era, na verdade não, sou bem mais alta do que era, tenho 1,80, meus cabelos loiros continuam bem compridos e chegam até o final de minhas costas, sou uma mulher de 22 anos, com o corpo extremamente magro, com o corpo como o de um garoto, como diz meu pai, sem nenhuma curva, grandes olhos azuis celestes, e óculos de descanso, que só uso para ler. Continuo sendo Luna Lovegood, sendo fiel a meus princípios, mas já não uso meus brincos de rabanetes, não pela opinião dos outros e sim por serem infantis. Mesmo que ainda precise lembrar meu pai, sou uma mulher adulta. E essa mulher despertou em um dia inesperado, não que eu não seja romântica, mas ser sonhadora e viver no mundo da lua tem suas vantagens, na adolescência eu tive meu momento "despirocada", mas foi uma fase que passou tão rápido como veio, mas nunca fui muito ligada à romances. Tive meus casos em Hogwarts, que sempre foram beijos ou coisas platônicas, mas de alguma maneira eu sabia que sempre faltava algo, e a mulher escondida dentro de mim gritava e veio como um trem quando eu menos esperava. Bom, voltando ao início de tudo, hoje de manhã levantei bem cedo. Tinha uma excursão programada a meses, e precisava da autorização do departamento de Aurores para a expedição. A razão era que alguns trouxas diziam ter visto alguns lobisomens, não os conhecidos metamorfos, uma espécie diferente, e eu iria averiguar, teria que ser o mais discreta possível. Tanta burocracia me deixava louca, mas se eu quisesse terminar minha graduação, tinha que seguir tudo conforme a papelada. Eu não estava preocupada com o perigo, depois da guerra e de ter sido integrante da A.D, sabia que conseguia me defender muito bem de qualquer coisa, ou pelo menos era nisso que confiava. Fui até o ministério carregando vários documentos, quando entrei no prédio, a primeira coisa que me chamou atenção foi um homem moreno, que caminhava de um lado pro outro, definitivamente estava incomodado com alguma coisa. Estava vestido todo de preto, uma calça de alfaiataria preta e um grande sobretudo de veludo. Toda sua roupa era extravagante e parecia ter custado bem cara. Seus cabelos eram escuros e sua pele morena era brilhante, ele inteiro era perfeito. Não consegui evitar pensar nos modelos das revistas trouxas que Ginny tinha, ele era realmente magnífico. Parei de observá-lo e apressei o passo, realmente estava atrasada,olhei meu relógio e caminhei ainda mais rápido, com os papéis apertados contra meu peito, segurando com força para que nenhum papel escapasse dali.
E derrepente, choquei contra algo ou alguém, a única coisa que pude ter certeza, era que meus papeis estavam todos esparramados no chão, assim como eu.

- Puta que pariu, olha por onde anda - uma voz rouca e profunda ecoou por meus ouvidos. Eu estava atordoada pela queda e minha bunda estava dolorida. De onde estava, o chão, apenas pude enxergar um par de pernas masculinas e botas militares.

- Me desculpe - foi o único que consegui dizer. E levantei minha vista para cima, e senti como se algo forte tivesse me golpeado. Não acredito em flechadas do cupido, mas senti que foi exatamente isso que aconteceu nesse momento, quando meus olhos se encontraram com os profundos olhos azuis de Theo Nott. O reconheci de imediato, essa cor de olhos, azul anil, é algo impossível de esquecer. Sabia quem ele era, Sonserino, ex-comensal, um garoto que no colégio tinha passado tão desapercebido como ela, tinham conversado por alguns dias quando estiveram na Mansao Malfoy. Eu era praticamente uma Grifinoria honorária, não tinha amizades com as pessoas de minha casa e ele, era um Sonserino, simples assim. Mas de alguma forma, nesse tempo que pudemos conversar, senti uma grande solidariedade para com ele.

- Senti minha boca secar e não conseguia desviar os olhos dos seus, quase como hipnose. Observei como seus cabelos compridos e castanhos caiam por seu rosto, e seus olhos ocultos para os demais eram extremamente visíveis para mim. Às vezes não preciso de meus óculos expectograficos para ver coisas alucinantes. Notei que tinha a barba por fazer, mas por apenas alguns dias, sua feição estava irritada, com certeza pela colisão, e seus lábios franzidos, mas ainda assim, bonitos. De fato, ele inteiro era bonito, diferente do que eu me lembrava. Se não fosse por seus olhos, jamais o teria reconhecido. Tinha crescido muito, ainda mais para uma pessoa comum e qualquer, e olha que sou eu que me considero uma girafa que estou falando. Ele era altíssimo, forte e com uma postura séria. Usava um short de couro e uma camiseta desgastada com uma frase que eu não pronunciaria jamais. Ele parecia todo desalinhado, mas ainda assim, não deixava de ser atrativo. Sou uma amante das coisas belas, mas eu realmente não ando pro ai de rabo de olho, examinando o sexo masculino, já disse, sou tímida e distraída. Mas a falta de saliva e o fato de que eu não podia tirar os olhos dele, era um sinal de que esse homem tinha revirado algo dentro de mim, algo que estava dormindo por muito, muito tempo.
Pela primeira vez na vida, estava experimentando aquilo que chamam de atração fatal. Pisquei algumas vezes me concentrando em me focar e esforçando para sair da embaraçosa situação que me encontrava. Levantei agilmente e comecei a sacudir o resquício de sujeira que poderia ter em minhas roupas. Desviei o contato visual com grande esforço. E a Luna responsável estava de volta. Comecei a recolher meus papeis que estava jogados pelo chão com pressa, estava atrasada. Ele deu meia volta quando escutou seu nome ser chamado.

- Theo, anda logo - gritou o bonito homem moreno que estava andando apressado. E lembrei de quem se tratava. Zabini.
Theo fez menção de retirar-se, me deixando só e ocupada, tentando deixar meus papeis o mais ordenados possível.
Nem tive tempo para analisar o quão grosseiro tinha sido comigo, um cavalheiro teria me ajudado a levantar pelo menos. Mas logo se deteve e girou para me olhar, mas eu não percebi, pois estava recolhendo os vários papéis esparramados, com a maior rapidez que eu conseguia. Peguei uma folha quando inesperadamente meus dedos tocaram os seus. Novamente levantei o rosto e choquei com seus olhos. Foi fatal, como se um raio atravessasse meu corpo. E para piorar, sua expressão estava seria. Uma energia emanava entre nós dois, o que eriçou todos os pelos de meu corpo.

- Porra, você deveria ter mais cuidado enquanto anda - Theo me ofereceu uma folha, recolhendo outras para me entregar - você pode sofrer a porcaria de um grande acidente qualquer dia.
- Obrigada - respondi sem desviar os olhos dos seus. Estávamos inclinados um na frente do outro, ambos nos endireitamos, cientes de nossa posição comprometedora. Frente a frente, percebi que ele era pelo menos uma cabeça mais alto que eu, deveria medir uns dois metros, realmente impressionantemente alto.
Por um momento ficamos em silêncio, apenas nos observando, como se nos analisássemos. Ele se inclinou e recolheu o resto de meus papeis no mais absoluto silêncio.

- Theo o que está fazendo ? - gritou de novo o homem moreno e de impressionante aspecto, antes estava só, mas uma morena impressionantemente bela está parada ao seu lado com cara de poucos amigos. É impressionante como são impressionantes.

- Já vou - gritou mal-humorado. Seus olhos continuavam fixos nos meus.

- Obrigada - disse mais uma vez. Vi Harry vindo em nossa direção, e recuperando um pouco a postura, levantei a mão acenando. Harry sorriu abertamente, e caminhou mais rápido. Eu gosto dessa atitude dele, sempre que me vê suas feições se iluminam, gosto de lhe trazer um pouco de alegria.
- Está tudo aí ? - novamente essa voz rouca me chamou a atenção, notei seu tom brusco, mas não está sendo grosseiro.

- Sim - respondi me dirigindo a ele mais uma vez.

Theo assentiu enquanto estávamos os dois de pé e deu meio volta para ir embora.

Nobody's Perfect - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora