- Vestido preto, salto nude e cachos soltos? - Hazel me fitou dos pés a cabeça.
- O que achou? - forcei um sorriso.
- Ta diferente, adorei. - bateu palmas. - Vai arrasar!
- Eu te comia agora mesmo. - disse ele mordendo um pedaço de sua maça.
- Bobo! - senti meu rosto corar.
Fazia tempo que não me sentia feliz assim e de alguma forma estar ao lado dos meus melhores amigos me fortalecia. Eu estava me transformando em uma mulher de verdade e não podia destruir o meu futuro. Minha mãe costumava dizer que cada um de nós temos nossas estações, haviam pessoas que em seu outono ficavam feias e perdiam toda sua cor, outras ficavam alegres e demonstravam beleza mesmo sem suas folhas. Existia então o inverno, cada com seu jeito, alguns o amavam e não sentiam o frio em seus corações, outros suportavam o mais rigoroso de todos e sem ajuda das outras estações, morriam aos poucos. E eu conheci e convivi com esse inverno em meu corpo por todo esse tempo, sinto falta da minha familía e de tudo que eram pra mim. Eu estive morrendo por um tempo, então Kyle e Hazel me salvaram disso.
Entramos no carro - um Civic preto - e colocamos a nossa playlist. Passamos de Rihanna à Taylor Swift até chegar ao preferido de Hazel, Artic Monkeys. Nós cantavámos juntos, fazia tempo que não fazíamos isso. Eu me sentia tão feliz.
- Anna, olha isso. - Kyle tirou as mãos do volante e fez um sinal com elas. Hazel riu e eu demonstrei estar totalmente por fora.
- O quê é isso?
- Simboliza a sarrada que a gente vai dar hoje. - voltou a dirigir corretamente.
- Você só fala merda? - perguntei.
- Faço também. - olhou para o retrovisor antes de virar uma curva.
- Anna, como está se sentindo hoje? - Hazel deu meia volta no banco do passageiro e se virou para mim.
- Estou 'bla'.
- Bla? - virou os olhos.
- Sim, algo indefinido como o que eu sinto, mas estou bem, talvez, feliz... - tirei o cinto de segurança que já apertava meu corpo o fazendo doer.
- Entendi. - mentiu. - Esqueci de dizer que adorei essa maquiagem. - sorriu.
- Obrigada! - olhei para a tela do celular. - Onde vamos? - perguntei novamente.
- Você vai conhecer pessoas novas e vai se divertir muito. - Kyle respondeu rapidamente enquanto dirigia.
Ficamos em silêncio ouvindo apenas o som baixo do rádio. A paisagem pela estrada era realmente bonita e me lembrava um pouco as viagens que fazia com meus pais quando era mais nova. No fundo eu adorava o clima de estar em outro lugar.- Chegamos! - tocou no meu ombro. - Você dormiu.
- Dormi? - esfreguei os olhos com cuidado. - Nossa, acho que dormi mesmo.
- Sim, cuidado com a maquiagem. - sorriu. Estendeu a mão e me ajudou a descer do carro, agradeci e olhei ao meu redor. Uau.
- Que lugar é esse?
- Uma das 20 casas do pai do Kyle. - Hazel pegou minha mão e me puxou indo em direção à entrada.
- 20 casas? - pensei alto.
- Na verdade são 17, Hazel exagerou na contagem. - Kyle nos alcançou e guardou as chaves no bolso do jeans.
- Nossa, só isso?
- Para de sarcasmo, ein. - piscou para mim. - Bem vinda à minha casa, hoje você vai se divertir e digo isso com muita certeza.
A casa era incrivelmente grande e bem iluminada, a maior parte era em vidro, o que deixava visivel a parte interior do luxuoso imóvel. Havia algumas palmeiras distribuídas em vasos dourados que combinavam propositalmente com os detalhes das fechaduras das portas. O sobrado parecia ocupar 2/4 do terreno e o resto era toda a área de lazer.
Ao atravessar o harmonioso jardim na entrada ouvi um som distante de risos e desconfiei de uma possível festa surpresa. Olhei para ambos que não expressavam nenhuma reação ou emoção. Meu Deus.
Ao pisar com o salto de 15cm no piso impecável da casa de Kyle e olhar para a sala principal vi quase que três dezenas de pessoas desconhecidas sairem de seus esconderijos e dizerem alegres "Feliz Aniversário, Anna Smith!".
- MEU SENHOR. - tapei o rosto envergonhada.
- Festa surpresa. - Hazel correu para dentro e começou a dançar feito louca.
- Espero que faça amigos aqui, sei que não conhece ninguém, mas eu queria que você entrasse um pouco no mundo e saísse dessa deprê. - me abraçou carinhosamente. - Amo você, agora vou pegar uma vodka. - saiu andando e me deixou ali.
O ambiente era agitado, várias garotas dançavam e riam descontraídas e muitos outros rostos bonitos andavam por ai. Ao fundo tocava um remix de Calvin Harris e admito que aquilo me deixou animada.
- Olá. - olhei para trás e vi o garoto que esbarrei na rua da boate. Meu coração pareceu subir até a minha garganta.
- Olá. - tentei sorrir.
- Então nos encontramos novamente? - bebeu um gole de sua cerveja gelada deixando-a findar em seu estômago.
- Acho que sim. - não sabia o que dizer. Malditos olhos.
- Entendi, qualquer coisa estou ali. - apontou para o balcão de bebidas. - E bem, se quiser me acompanhar, vou adorar. - sorriu.
- Eu quero. - parecia desesperada. - Quero beber algo. - tentei mudar o rumo da vergonha que passaria se ele soubesse o quanto sou atrapalhada.
- Vamos então. - pegou minha mão e me levou até o balcão, sempre dando goles em sua bebida.
- E então, qual seu nome? - seu cotovelo estava apoiado no mármore frio.
- Anna Smith e o seu?
- Matthew Kick. - olhou em meus olhos de uma forma intensa. - Mas pode me chamar de Matt. - abriu um pequeno sorriso.
- Pode me chamar de Anna. - não acredito que falei isso.
- Ok, é a única opção, Senhorita Smith. - levantou-se e pousou a cerveja na mesa. - Já volto, Anna.
- Ta bem. - peguei um dos copos que estavam ali e coloquei um pouco de alguma bebida que encontrei no mesmo lugar.
- Eu vi tudo. - Hazel sentou-se ao meu lado e ria maliciosamente.
- Viu o que? - fingi não entender.
- Vi esse gato dando mole pra você, só espero que de mole só tenha essa de dar em cima. - tapou a boca antes de rir loucamete. - Desculpa, estou bêbada.
- Parece sóbria, porque de ambas as formas você fala merda. - bebi um pouco do líquido do meu copo.
- Ok, vou sair daqui que o gatinho ta voltando. Boa sorte, amiga. - piscou pra mim e deixou algo na mesa.
- Uma camisinha? - Matt olhou para mim sem jeito.
- Oh meu Deus, desculpa, foi minha amiga que deixou aqui. - peguei a camisinha e a escondi na bolsa. - Hazel... - murmurei irritada.
- Entendi. - riu sem humor.
Olhei para trás, algo me pediu para fazê-lo e então vi nitidamente o rosto de Harry ou de alguém incrivelmente parecido com ele.
- Droga. - meus olhos se encheram de lágrimas.
- Aconteceu algo? - Matt me olhou preocupado.
- Aconteceu tudo.
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Appear - Livro único
RomanceAos 17 anos, Anna Smith presenciou o assassinato de sua família e desde então se tornou uma garota fria e infeliz. Dois anos depois durante uma viagem para uma cidade vizinha com seus dois melhores amigos, Anna conhece Matt e descobre pela primeira...