Entrei no quarto e bati a porta, eu estava incrivelmente chateada com a minha vida. Comecei a gostar de um cara que é amigo do meu irmão, isso estava se tornando cansativo, todos os lugares que eu fosse agora o encontraria? Isso não é justo.
Hazel conversava com Mike na sala, viam um filme da Marvel e comentavam as partes do tal filme que eu ainda não tinha visto. Ela tinha sorte.
Entrei no banheiro e pousei minha bolsa no chão, me sentei ao lado dela e soltei um longo suspiro. Hoje, Matt e eu íamos ao parque da cidade, ele havia planejado um piquenique, mas infelizmente eu descobri que existem laços de amizade entre o homem que eu gosto e o que eu odeio. O mais incrível é que Harry fugiu dois anos atrás para um lugar muito próximo de Seattle e, se ele estava tão próximo de mim existiam chances de que eu ainda corresse perigo. Eu era a única que sabia de tudo e a policia declarou o acontecido como tentativa de assalto, sem ao menos considerar o meu depoimento.
Peguei o celular e haviam exatas quinze ligações de Matt e uma mensagem, eu não tive coragem de abri-la e guardei o celular novamente na bolsa. Talvez ele não soubesse o que Harry havia feito comigo e com minha familía, talvez eu estivesse sendo injusta com ele ou então sua personalidade era parecida com a de Harry e ele só estava me iludindo sendo um bom rapaz. Eu estava ficando louca.
Admito que sempre acreditei que o homem que apareceu naquela noite em casa estivesse morto; pela aparência senil e pelos cabelos grisalhos. Nunca mais tive noticias ou o vi pela cidade, convivi com o medo diário de encontra-lo e só venci isso depois de um ano de terapia. Na verdade eu odiava mais Harry do que o desconhecido.
O celular vibrou e eu o peguei rapidamente, era Matt, eu sinceramente não me sentia bem para falar com ele, mas atendi mesmo assim.- Anna, o que aconteceu com você? - sua voz estava fraca e triste.
- Não é nada. - eu queria desligar na cara dele.
- Por favor, eu preciso saber e entender, não quero te perder. - parecia sincero.
- Se me quer bem e feliz, me deixe em paz, porque me perder você não vai, eu não pertenço à você. - encerrei a ligação.
Me levantei e peguei a bolsa no chão, deixei-a na pia e me dirigi até a sala, Hazel e Mike não estavam mais. Eles somem sem deixar vestígios de que estiveram ali, pensei. Voltei para o banheiro e liguei o chuveiro, enquanto a água esquentava eu retirava minhas vestimentas, não existia nada que me fizesse melhor agora do que um banho de reflexão.
Senti a água escorrer por todo meu corpo e um alívio se infiltrar dentro de mim. Pensei em como as coisas eram complicadas, pensei em Matt, pensei nos meus pais e em Clary, na toalha marfim de Hazel, no dia em que íamos finalmente embora e principalmente no perigo que eu corria ali.
Passei quase 40 minutos nessa hipnose de pensamentos e pessimismo, então fui acordada dessa transe pelo barulho na porta.
- Espero que seja Kyle ou Hazel. - murmurei. Peguei a toalha de Hazel, que infelizmente era a única ali e a enrolei no corpo. Sai descalça e procurei por alguém.
- Kyle? Hazel? - o silêncio era torturante. Então bateram novamente na porta e eu me aproximei para atendê-la. Ao abrir a porta meu coração parou de pulsar todo o sangue que percorria o meu corpo. Era Harry.
- Posso entrar?
- Não! - eu ia fechar a porta quando senti seu braço a empurrando.
- Você não tem escolha. - entrou e caminhou até a sala. Eu o fitava e não sabia como reagir. - Anna, eu disse que viria e não tive tempo, mas agora eu estou aqui. Sei que está feliz, aliás, você esta bem mais gostosa agora. - riu. Senti vontade de vomitar, ele era nojento.
- Saia daqui ou vou chamar os seguranças do prédio. - minhas pernas tremiam.
- Vamos conversar. - sentou-se no sofá.
- Não!
- Eu quero. - apoiou os pés na mesinha de centro.
- Quem você pensa que é? - fui até ele e apontei o dedo sobre sua face irreconhecível. Aquele não era mais o garotinho de quatro anos que brincava comigo na infância.
- Sou seu irmão e amo você e eu quero que você me perdoe. - nunca que suas palavras me convenceriam.
- Mentira! - disse indignada.
- Eu sabia que você ia fazer essa ceninha. Por isso eu vim aqui preparado para alguns dos surtos que você costuma dar. - levantou-se e cruzou os braços. - Você tem que me perdoar.
- Eu não sou obrigada a nada. - fiquei irritada, quem ele acha que é pra mandar em mim?
- Eu posso te convencer. - sorriu.
- Você não pode nada. Não sente falta dos nossos pais, da sua irmã? Você não sente nada, Harry?
- Pior que não. Talvez sinta falta do macarrão que o papai fazia, mas fora isso, não. - ergueu uma das sobrancelhas, eu odiava aquela sua mania.
- Você é horrível mesmo, não tem coração, não é possível. - eu sentia nojo dele a cada segundo que passava.
- Eu sou isso e aquilo. Você acha mesmo que eu ligo? - abriu um sorriso, Harry tinha ainda os mesmos dentes ruins por falta de aparelho.
- Vá embora. Eu nunca, nunca vou te perdoar. - meus olhos marejaram, mas nenhuma lágrima caiu.
- Eu não vou. - se sentou novamente no sofá.
- Vou chamar a policia, você invadiu o quarto. - ameacei.
- Vamos, ligue, acha mesmo que vão acreditar em você? - se levantou e caminhou até onde eu estava, me encarou de perto e pude sentir sua respiração no meu pescoço. - Ninguém vai acreditar em você, como não acreditaram há dois anos atrás. - senti uma pontada no meu peito e minha pressão caiu. Cambaleei até me encostar no balcão da cozinha e respirar fundo.
- Vai embora. - minha voz mal saía. - Eu imploro.
- Eu só tenho uma coisa pra te falar, Anna. - abaixou o tom de voz. - Se você me delatar para alguém, seja pro babaca do Matt, eu juro que mato os dois e seus amigos também estão na minha lista e na de Fred. - saiu andando sem fechar a porta. Eu cai sobre os joelhos e chorei, chorei até me cansar disso. Fiquei encolhida no canto do balcão, ainda usava a toalha sobre o corpo e não havia notado que também não tinha fechado a porta depois que ele saiu. Eu não tinha forças e nem coragem para me levantar e encarar a vida novamente. Eu sentia medo de que ele ainda estivesse ali.
Fiquei ali durante horas, Kyle ficava ausente a maior parte do tempo e não estávamos nos falando, Hazel com certeza estava com Mike e consequentemente eu era a única que praticamente não aproveitou a viagem. Eu escrevia o nome de Clary no piso com os dedos e logo em seguida dos meus pais, criava um coração imaginário e sorria, mesmo com os olhos cheios de lágrimas eu sorria por saber que eles me protegiam. Eu os amava.
Pensei na possibilidade de fugir do país ou de contar tudo para as autoridades locais, mas que provas eu tinha? Eu precisava disso. Me sentia só e isso me machucava de certa forma, queria ter alguém para me apoiar no momento, mas até mesmo com Matt eu não estou falando e não sabia se ele era confiável.
Com a cabeça apoiada nos joelhos e ainda chorando, rabiscava nomes no piso e planos na mente quando de repente ouço passos no corredor e começo a temer a possível volta de Harry, a sombra estampa o chão perto da porta e vem em minha direção, ele para e abre um largo sorriso, eu o fito por alguns instantes e então retríbuo.
- Eu sabia que você viria.
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Appear - Livro único
RomanceAos 17 anos, Anna Smith presenciou o assassinato de sua família e desde então se tornou uma garota fria e infeliz. Dois anos depois durante uma viagem para uma cidade vizinha com seus dois melhores amigos, Anna conhece Matt e descobre pela primeira...