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Eram quase oito e meia da noite, minhas pernas tremiam e sentia um calor invadindo meu corpo. Eu preciso fugir disso. Jamais namorei ou coisa do tipo, ser apresentada para uma família me causava uma insegurança. Admito que tenho medo de perder todas as pessoas ao meu redor e que isso nunca acaba dentro de mim, é basicamente como se eu tentasse extinguir uma praga que já se alastrou por todo o ambiente. Impossível? Não, mas é difícil.
Hazel e Mike haviam saído para comemorar o bebê que viria, ela já até tinha lhe dado um nome, Madison para menina e Erick para menino. A felicidade de ambos era aparente e me alegrava de certa forma.
Kyle ligou hoje cedo dizendo que seu pai estava melhorando do tal acidente inesperado e que em breve voltaríamos para casa. Eu não sei se sentia falta de Seattle, se sentia da minha tia ou se na verdade sentisse apenas vontade de não ir para lugar algum. Minha vida se tornou um caos.
Matt chegou alguns minutos depois e o recebi com um sorriso nervoso. Ele percebeu e me questionou.
- Se não quiser ir, tudo bem. - segurou minhas mãos com força.
- Eu vou sim, só me sinto um pouco ansiosa. - sorri e pousei um beijo na ponta de seu nariz.
- Vamos?
- Vamos! - nós saímos e descemos as escadas, Matt tinha medo de elevadores e por isso sempre me forçava a fazer um esforço descendo todos os degraus.
Entramos em sua caminhonete, comecei a sentir meu estômago revirando e minhas pernas estavam bambas. Eu estava muito nervosa e assustada.
- Calma, você vai gostar deles. Meu pai é um bom homem apesar de tudo e meus irmãos, bem... são anjos. - será que ele realmente quis dizer anjos?
- Vamos logo. - coloquei o cinto de segurança e fixei meu olhar na estrada. O silêncio era tudo que eu não queria agora.
A noite se mostrava bem mais clara aquele dia, uma bela lua no céu e sua quase inexistente estampa estelar. Era uma bonita noite.
Paramos em frente a uma casa com paredes pintadas de azul claro - eles amam azul - um pequeno jardim na entrada e alguns brinquedos jogados pelo quintal que ficava perto da garagem. Era uma moradia simples, mas confortável quando se olhava assim.
Descemos e Matt trancou a porta, deu a volta no carro e me abraçou. Eu sabia que aquilo significava que tudo ficaria bem, mas eu ainda não engoli o que passaria hoje.
- Eles não chegaram ainda, vamos entrar e esperar na sala. Posso te dar alguns doces para beliscar. - parecia animado.
- Ta bem. - juntei nossos dedos. - Vamos.
Matt me levou para dentro, me apresentou cada um dos cômodos e me entregou um saco de jujubas. Eu adorava, mas pareciam não ter gosto algum. Enquanto me contava algumas aventuras da família e me perguntava mais sobre Harry, esperavámos seus irmãos e pai chegar. Parecia uma eternidade e eu só queria que acabasse logo.
- Uma vez meu irmãozinho comprou uma tartaruga com o dinheiro do seu cofrinho só para soltá-la no mar. Ele adora animais. - aquilo não me interassava muito, porém me distraía um pouco dos pensamentos nada saúdaveis que eu estava tendo. Olhei o relógio na parede e seu ponteiro logo anunciou que já eram dez da noite. Que demora.
- Acho que chegaram! - foi até a porta e eu me levantei, caminhei até ele e me mantive ali ao seu lado esperando ser apresentada para todos.
Primeiro entrou o mais novo e me abraçou. Era uma graça e se chamava Luck, logo veio Henry e seu cachorrinho, ambos eram incrivelmente fofos. Depois de correrem pela sala e me perguntarem mil coisas, ouvi o pai de Matt entrando, ele ria de algo e conversava com uma moça.
- Anna, este é meu pai. - Matt foi até mim e estendeu o braço em direção ao homem que entrava. Ele usava um boné verde com uma propaganda de bilhar e uma jaqueta de couro marrom. - Pai, esta é Anna, minha namorada. - o homem levantou o rosto para me olhar e sorriu, logo o sorriso que eu também lhe daria se transformou em um choque mental para mim. Vieram mil lembranças na minha cabeça, daquela voz, daquele cabelo grisalho, daquela face. O homem me olhou e pareceu me reconhecer também, meu coração deixou de bater naquela instante e eu só senti um vazio tomar conta do meu peito. Meus olhos ardiam e eu tremia, sentia cada parte de mim se quebrando em mil pedaços. Era ele, por que hoje? Por que? O homem que eu amava era filho daquele cujo meu ódio era quase que infinito.
- Boa noite, Anna. - disse ele sorrindo para mim. - Espero que goste de nós, somos uma boa família para você. - colocou as sacolas na mesa e entrou na cozinha. Aquele sorriso em seu rosto combinava com o de Harry. Eu só tive uma opção e sei que seria a pior coisa que faria naquele momento.

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