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Me afastei de Matt por um segundo e respirei fundo, eu jamais tinha perdido o ar tão rápido assim. Seus olhos me desejaram por mais alguns minutos antes que sua língua penetrasse novamente a minha boca e brincasse dentro dela. Matt foi a minha primeira vez em vários sentidos.
- MEU DEUS. - gritei.
- Que foi? - me olhou assustado.
- Nada, me beije, vamos. - me aproximei dele e fiz a junção dos nossos lábios. Matt nasceu para me beijar, cada toque e cada detalhe daquele momento me deixava totalmente molhada. Eu nunca senti isso. Pedi desculpas mentais para meus pais por estar em um carro às dez da noite com um garoto que eu acabei de conhecer. Sei que Deus ia censurar isso agora, por mim.
Senti uma das mãos dele entrar por debaixo do meu vestido curto - eu juro que não fiz de propósito - cruzei as pernas e ele afastou ambas com os dedos. Eu não sabia se estava pronta, senti um medo estranho invadir o meu corpo. Olhando bem, Matt se parecia com alguém. Senti o polegar direito dele acariciar uma de minhas coxas e sem perceber deixei com que um constrangedor gemido escapasse. Oh Deus.
- Melhor a gente parar. - sussurrei.
- Tudo bem. - ele se afastou de mim e pegou as chaves do carro. Espero que ele não tenha se chateado comigo. O motor gemeu e logo começamos a sair do centro de Portland. Ficamos em silêncio, o pior e mais constrangedor silêncio da minha vida.
Matt me olhava em alguns momentos e eu fazia questão de olhar para outro lugar, um lugar seguro que não se cruzasse com seu campo de visão.
- Anna.
- Eu? - não fala nada, por favor.
- Me desculpe se passei dos limites. - sua feição mudou.
- Tudo bem, eu permiti. - eu não sabia o que dizer.
- Prometo não fazer mais, você vai ter a impressão errada de mim. - rodou o volante e olhou pelo retrovisor.
Cala boca, odeio conversas assim.
- Tudo bem. - sorri.
- Eu não sou um puto. - Matt continuou.
- Ta. - revirei os olhos.
- Desculpe. - o tom de arrependimento da sua voz era de cortar o coração.
- Ok, Matt. - alguém fecha a boca desse menino?

Chegamos no hotel e agradeci Matt pelo passeio, disse que me diverti e que aceitaria sair mais vezes - desde que ele calasse a boca depois dos beijos.
Ao descer do carro vi Kyle conversando com um rapaz e logo ele subiu em sua moto e sumiu pela estrada. Aquilo era estranho demais, pensei. Subi para o quarto de hotel e encontrei Hazel comendo um grande balde de pipocas.
- Pipoca com leite condensado, aceita? - levantou o balde e o sacudiu no ar.
- Não, obrigada. - sorri e retirei os saltos, pousei o par ao lado da porta e senti uma explosão de alívio por dentro. Pés livres. Corri até o banheiro e tranquei a porta, me sentei no chão gelado e apoiei meu queixo no topo dos meus joelhos.
- Matt. - sorri. Desenhava círculos no piso branco do banheiro, aliás, percebi hoje que este banheiro é maior que meu quarto em Seattle.
Eu me sentia feliz pela primeira vez depois de tanto tempo, eu jamais tive alguém dessa forma e aquilo me fazia bem. Eu perdi todas as pessoas que eu amava e meus amigos eram os únicos que de certa forma me davam razões para continuar. Eu amava Matt, eu podia dizer isso, não?
Mas de alguma forma eu sentia que tudo na minha vida não me permitia viver esse amor. Pensei em como seria perdê-lo e conclui que seria melhor não ficar com ele. Eu sabia que não apareceria um assassino e mataria todas as pessoas que eu amo como no passado, mas me apegar à alguém e vê-la partir um dia seria exatamente igual.
Eu perdi dois anos da minha vida e perderia mais dez assim.

Era quase madrugada e Kyle não aparecia, resolvi pegar o celular e ligar para ele, mas ele não atendeu nenhuma ligação. Me recordei daquele rapaz da moto que Kyle montou mais cedo e resolvi perguntar para Hazel.

- O quê? - ela mordeu os lábios.
- Ele nunca some e está fora desde ontem.
- Já ligou?
- Já.
- Não atendeu, né? - balancei a cabeça confirmando. Ela se sentou e passou a mão no rosto. Tentou pensar em alguma explicação para o tal sumiço.
- Tinha um rapaz aqui na frente do prédio conversando com ele. - falei.
- Moto?
- Sim.
- Ah, não...

Appear - Livro únicoOnde histórias criam vida. Descubra agora