3. Children are annoying

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— ...Pelo texto que acabamos de ler nesse capítulo, percebemos que o período da "Paz Armada" ocorreu na mesma época da Belle Époque. Alguém poderia encontrar alguma contradição entre os dois movimentos dessa época?

E com isso foi a gota d'água. Se algum adolescente que estava na sala em algum momento achou o novo professor de história legal e até bonito, esses pensamentos já se afastaram de seus cérebros. Que professor já começava explicando matéria bem no primeiro dia de aula? Não lembravam nem de seus nomes depois de passar tantos dias sem aula; na verdade não se lembravam nem mais como se escrevia direito em um pedaço de papel. Seus dedos ainda estavam doloridos de passar tanto tempo digitando em seus pequenos aparelhos, e era até estranho pegar em um lápis novamente.

— Alguém? - perguntou de novo, suspirando e pegando a folha de chamada em cima de sua mesa - Certo, se ninguém quer responder eu vou escolher alguém.

Ah não. Era o pensamento que os alunos tinham em suas cabeças. Enquanto John estava encostado em sua mesa, olhando atentamente para a lista, alguns alunos estavam de dedos cruzados para não serem chamados.

— Tudo bem... - sussurrou para si mesmo - Senhor... Senhor Holmes, poderia me responder essa questão? - ergueu a cabeça para poder observar bem o aluno que havia escolhido. Sherlock Holmes. O nome lhe era conhecido, não era esse o nome do garoto engraçado da cafeteria? Talvez era apenas uma coincidência.

— Sherlock Holmes? - repetiu novamente, vindo que ainda não havia recebido uma resposta.

Todos os alunos viraram para encarar Sherlock, que estava quase virando parte da cadeira, de tanta vergonha.

— Não vai responder o professor, gênio? - sussurrou Anderson enquanto ria. Sherlock não suportava mais aquele menino. Definitivamente iria sentar bem longe dele nas próximas aulas.

— Certo, - se levantou, para que ficasse visível para John - Ao mesmo tempo em que se os europeus defendiam sua primazia civilizatória, sua "bela época", baseada na indústria na ciência e na razão como os únicos caminhos para atingir o progresso e a felicidade, o equilíbrio político da Europa estava em crise. Apesar de estarem vivendo um período de paz, uma guerra em escala continental se anunciava em função das rivalidades econômicas e expansionistas dos países.

Um silêncio ficou no ar. Alguns alunos começaram a sussurrar, provavelmente fazendo comentários maldosos contra Sherlock que, sinceramente, apenas queria que aquela aula terminasse logo. John, por outro lado, estava fascinado. Sherlock respondeu perfeitamente a pergunta que era até surpreendente um garoto de dezesseis anos usar tantas palavras complicadas e responder algo perfeitamente para uma das matérias mais chatas e irritantes - pelo menos era assim que os alunos falavam quando se dirigiam para a História.

— Respondeu perfeitamente Holmes. - sorriu - Pode se sentar. Bem, continuando com a matéria...

Sherlock voltou a se sentar, já recebendo elogios de Anderson. "Muito bem aberração, já conquistou o coração do novo professor". Ah, se pudesse cortar a cabeça de Anderson e colocá-la em um frasco para fazer experimentos e descobrir o que se passa naquele cérebro primitivo, Sherlock seria a pessoa mais feliz do mundo. Mas era contra as regras do colégio 'machucar qualquer colega de classe'. Uma pena.

Assim, a aula de história logo acabou e John subiu as escadas para sair da sala, enquanto o professor de Física entrava. Sherlock podia jurar que quando John estava abrindo a porta ele sorriu para Sherlock, se retirando logo em seguida. Só podia estar ficando maluco.

As aulas de Física foram normais, as mesmas coisas de todos os anos. Aquele professor era tão estupido ao ponto de vista de Sherlock que o mesmo não aguentava ouvir suas explicações e passava a maior parte do tempo escrevendo novas melodias para depois tocar em seu violino. Finalmente o sinal tocou, e um bando de adolescentes desesperados saíram correndo da sala, alguns quase tropeçando na escada que dividia as duas enormes fileiras de mesas e bancos.

Sherlock se levantou e saiu da sala, sem nenhum instinto de onde realmente ir. Podia ficar na sala de música, treinando. Ou podia ficar escondido em algum lugar da enorme quadra para Anderson e seu grupinho não provoca-lo mais do que já provocavam. Mas escolheu apenas andar pela escola, que por sinal parecia mais lotada do que no último ano. Lotada de crianças irritantes correndo pelos corredores do colegial. Sério, deveria existir uma placa para as crianças do sexto até o nono ficarem longe daquele local. Tem um campus enorme do lado de fora, eles têm espaço suficiente para brincar de pega-pega ou sei lá o que eles fazem; mas tem que ser justo nos corredores do colegial?

Sherlock estava com a cabeça nas nuvens quando reparou que havia esbarrado em alguém. Já estava se preparando para falar umas boas verdades se fosse algum desses pestinhas em forma de criança quando reparou que era John.

— Desculpe, Joh– Sr. Watson. - disse, ajudando o professor a pegar os papéis que havia derrubado no chão.

— Sem problemas, Holmes. - respondeu sorrindo - É incrível como o mundo é pequeno, não? Quem diria que eu iria ser seu professor.

É, quem diria que o homem com quem estou apaixonado seria meu professor de história. - sussurrou para si mesmo, sem nem ao menos pensar direito. A frase apenas saiu assim, do nada.

— O quê disse?

— Nada, eu... - Foi interrompido quando algum pirralho do sexto sem querer acertou uma bola de futebol em sua cabeça - Mas que droga?

John olhou um pouco avante de Sherlock e viu quatro crianças prestes a correr percebendo a merda que acabaram de fazer. John pegou a bola do chão e começou a correr atrás das crianças, para perguntar o que estavam fazendo jogando bola no corredor do colegial. Se virou lembrando que havia deixado Sherlock falando com as paredes.

— Me desculpe! - gritou enquanto corria de costas, tomando cuidado para não tropeçar - Depois nós conversamos.

— Certo... - disse mais para si mesmo, enquanto via as crianças e John desaparecendo entre os enormes corredores.

Ótimo. Crianças realmente eram um pé no saco, principalmente nos melhores momentos.

The Professor・Student!lockOnde histórias criam vida. Descubra agora