20. Who am I trying to protect?

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Nada de grande importância ocorreu depois do último acontecimento. Na verdade, era como se aquilo nunca, em nenhum momento sequer, tivesse ocorrido. Como se nenhum daqueles momentos tivessem ocorrido. No dia seguinte, John nunca comentava sobre os movimentos que fazia suavemente com as mãos, ou sobre como ele achava adorável Sherlock tentando segurar sua voz, falhando miseravelmente. Ele também não comentava, de forma alguma, sobre o fato de ambos quase terem feito aquilo. Quase, o pensamento invadia sua mente enquanto observava o aluno adormecido em seu colo, com a televisão ligada ao fundo passado algum episódio aleatório de alguma série. Ele se descuidava demais, abusa demais; precisava parar com aquilo.

Não queria machucar o cacheado, como já havia dito diversas vezes. Não da forma mais óbvia; não queria machucá-lo sentimentalmente. Não queria, em nenhum momento, decepcionar o aluno por algo besta. Queria vê-lo bem, o tempo inteiro, todos os dias da semana. Mas isso parecia um sonho distante no momento.

Sentia que com toda essa indelicadeza estava machucando-o; não estava sendo totalmente franco, como deveria ser, e sabia que Sherlock percebia cada detalhe. Entretanto, não era completamente sua culpa de tudo estar desse jeito.

O diretor da escola realmente estava de olhos nos dois, às vezes. Watson conseguia perceber o olhar do homem o comendo vivo, suspeitando de algo entre o professor e o aluno. Não conseguia conversar com Sherlock normalmente na escola com uma pessoa assim, que aparecia do nada, com alguma desculpa esfarrapada pedindo para conversar com o loiro.

Ainda continuava saindo com o moreno, já que o mesmo insistia em sair de casa quase todos os dias. Já até teve momentos em que John esbarrou em Mycroft, que estava prestes a sair de casa para trabalhar.

— Espero que esteja tudo bem. - o Holmes mais velho sempre dizia, sorrindo, e Watson sempre balançava a cabeça da mesma forma como resposta. Não conseguia abrir a boca para falar uma palavra se quer nesses momentos. Sentia um pingo de culpa.

Entretanto Sherlock também se sentia culpado em parte. Costumava passar algumas tardes tediosas na casa do professor - quando o mesmo não estava trabalhando. -, deitado no sofá claro e aconchegante, enquanto via algum episódio de Doctor Who e bebericava um chá. Conseguia perceber a constante preocupação do loiro, que costumava ficar sentado na cozinha, com milhares de papéis em sua volta espalhados pela mesa. John parecia estar ficando mais distante, isso era evidente. E o garoto de cabelos encaracolados pegava-se pensando se tudo aquilo era sua culpa; se estava apressando demais as coisas, se o relacionamento dos dois não iria mais funcionar. Porque, afinal, ambas vidas são completamente diferentes.

Mas Sherlock esquecia completamente de tais pensamentos quando Watson o beijava, ou falava frases clichês que pareciam ter saído de algum livro de romance infantil. Holmes não queria pensar no pior, mas queria descobrir o motivo de tanta confusão. Precisava descobrir, ou talvez iria acabar se machucando no final de tudo.

...

Como Watson estava ficando distante ultimamente, era praticamente impossível conversar com o mesmo na escola. O moreno só encontrava chances nos horários de aula, porém o loiro sempre disfarçava comentando sobre algum trabalho ou prova para mudar de assunto.

— Você tem um minuto agora? - perguntou, depois que todos os alunos saíram da sala e Watson estava arrumando alguns materiais. Nem esperou a resposta do mesmo para continuar. - Devido à alguns acontecimentos antigos - disse desajeitado, pequenas nuvens rosas aparecendo em seu rosto. Não sabia por quê ainda ficava com vergonha desse tipo de conversa. - eu achei que fôssemos ficar mais, próximos? Sim, próximos, você sabe.

— E nós não somos próximos? - o loiro ergueu uma sobrancelha, olhando o aluno nos olhos.

— Sim, nós somos. É só que... - gaguejou, querendo desistir de tudo e sair correndo de lá. Não queria falar nada que estragasse seu relacionamento. - John, quando algo a mais está acontecendo você simplesmente para com tudo, e se desculpa. Você se sente culpado por fazer essas coisas, eu sei, deve ser complicado manter um relacionamento desses com um aluno. Mas eu estou nesse relacionamento também, e eu não quero que você se sinta mal ou culpado sozinho. Se tem alguma coisa te incomodando, eu quero que ela me incomode também.

The Professor・Student!lockOnde histórias criam vida. Descubra agora