Inglaterra, 1840.
A criada apressou-se com a carta na mão. Segurando as saias do vestido, desviou das carruagens, seguindo apressadamente sua ama.
— Senhoritas! — ela tentou não fazer escândalo. — Senhorita Najla! — as duas garotas, que seguiam mais a frente, viraram-se na direção do som do nome. Voltaram apressadas para alcançar a criada, completamente ofegante pela longa distância que percorrera a pé.
— Senhora Eliza! Pelos céus! O que exige nossa presença tão imediata? — disse uma das jovens, quando alcançou a criada. Seu tom era polido e educado, mas dava para se notar que estava brava, apesar das feições delicadas e macias.
— Perdoe-me, senhorita Daniela, mas minha ama pediu-me que a avisasse assim que a carta do irmão chegasse. — explicou a criada.
— Senhora Eliza, — cumprimentou a outra jovem. — o que tem para mim?
— Uma carta de vosso irmão, milady. Peço que me perdoe, se fiz parecer escandaloso, mas não ia conseguir alcançá-las tão rápido se não chamasse vossa atenção. — Najla estava vidrada no envelope que a criada tinha para ela. Deu um beijo na bochecha da mesma, antes de pegar a carta de suas mãos cuidadosamente.
Najla não dispunha de um instrumento apropriado para a abertura do envelope, e nem precisou. Rasgou cuidadosamente a parte superior do envelope e retirou o papel, dobrado em três partes; abriu-o, virou-o na posição correta e começou a ler em voz alta para que sua melhor amiga, Najla, também pudesse ouvir.
— “15 de janeiro de 1840, Paris. Querida irmã, passaram-se meses e mais meses desde que deixei o lar paterno. Sinto muitas saudades suas, de Lady Catarina, nossa mãe, e de Lorde Júlio, nosso pai. Escrevo a ti porque mamãe não entenderia. Sequer me entendeu quando quis viajar. Não pude mais evitar a saudade que sinto de minha pátria. Sinto falta de tudo: da monarquia, dos belos trajes, costumes e das belas damas, como você.” — Najla pausou para abrir um sorriso — “As viagens que fiz pelo mundo foram magníficas, há enormes coisas para serem descobertas, há lugares que tenho certeza que gostaria de visitar. Levarei uma lembrança para ti, de cada lugar ou castelo que visitei. Comprei alguns livros franceses também, sei que é apaixonada pelos romances, espero que goste. Eu os enviarei antes de viajar, porque acredito que assim chegarão mais rápido para você.” Meu irmão é o melhor! — Najla e Daniela atravessaram a rua, sentaram-se num banco da praça, e assim Najla continuou a leitura. — “Levo também para a senhorita Daniela um livro que acredito que ela gostará. Envio também outro pequeno presente para ela e para você: dois colares que mandei fazer no melhor ourives daqui. Sei que pode ser pouco, dado o fato de ter me ausentado por um bom tempo, e pode não recompensar minha ausência, contudo, acredito que te fará feliz. Morrendo de saudades da minha irmã caçula, despeço-me cordialmente. Abraços, Afonso. PS.: Mande lembranças à senhorita Daniela em meu nome e a seus pais também.” — Najla dobrou o papel e colocou-o dentro do envelope, sorriu ao notar o selo francês.
— Quando ele chegar, mande-me um cartão de visita, que irei a sua casa para cumprimentá-lo. Ele é muito cortês. — Daniela disse, após alguns segundos de silêncio. — Agora, vamos até Madame Clarice, que preciso encomendar um vestido para a ópera que haverá na cidade.

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It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]
Romance[EM PAUSA/HIATUS] Na sociedade vitoriana, a maioria esmagadora dos casamentos é arranjado pelos pais do noivo e da noiva. Com Daniela Lexfinn, isso também não seria diferente, porém, o destino se opõe as propostas que a moça recebe e faz com que a v...