Capítulo 33- O peso do passado

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Eduarda

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Eu vagava por aquelas ruas buscando respostas. Longas horas de procura e eu já estava quase sem esperanças de encontra-la. Uma chuva forte começou a cair do céu e minha preocupação só crescia. Eu não sabia o que imaginar, não era seguro para uma garota grávida sair por ai tão só. Meu medo foi me tomando e a cada nova rua que eu percorria na minha ânsia de encontra-la, mais culpada eu me sentia. Repentinamente, como num relance, lembrei do primeiro dia em que sai com Melissa, a levei para a praia de Boa viagem. Naquela noite, assim como essa, estava chovendo. Uma esperança acendeu em mim. Talvez ela tivesse ido pra lá. Acelerei o carro e segui. Eu precisava encontra-la. 

A neblina causada pela chuva acinzentava a noite.  Desci pelo calçadão e percorri à sua procura. Eu não a encontrava em lugar algum. Já era tarde. - Céus, onde ela está? Se algo acontecer a ela, não vou me perdoar.  - Quando já em mim quase nenhuma esperança existia, vi em um horizonte bem distante a imagem de uma garota sentada na areia. Corri para me aproximar o quanto antes. Estava perigoso demais, pior para uma garota solitária. Ela deveria saber. 

—  Melissa? — Sonorizei seu nome, pondo minha mão sobre seu ombro. 

— Como me encontrou aqui? —  disse virando-se e encarando meus olhos.

— Isso agora não importa. Melissa, vamos pra casa? Se ficar nessa chuva, vai acabar se resfriando. Pense no bebe? 

— Estou pensando nele. Na verdade desde que descobri estar gravida, é tudo no que tenho pensado. — afirmou com tristeza. — Do contrario eu já teria saído sem rumo por ai e ido para longe de ti definitivamente. Eu sei que você não tem responsabilidade alguma sobre essa criança e aceitar em sua casa uma ex garota de programa já é um enorme sacrifício.  Eu imagino que ainda não me mandou embora por ser um ser humano tão incrível ao ponto de não conseguir fazer isso. Sabe Duda?Eu não quero me lamentar pela minha vida e tudo que aconteceu comigo até aqui, mas eu acostumei a fugir e mais ainda, me acostumei com abandonos. Primeiro meus pais, depois o pai desta criança e tudo vai deixando uma marquinha escura num coração que deveria ser vermelho. Eu já te contei minha historia e te falei sobre o abuso que vivi. Eu tenho marcas psicológicas em mim, apesar de que, sempre busquei ser forte. Não me tornei garota de programa por escolha, a vida decidiu por mim. — ela me olhou como se pudesse despir sua própria alma com um olhar e continuou. — Eu te beijei e me sinto envergonhada por isso, não exatamente por te-la beijado, mas por sentir que não basto e que não sou suficiente para uma garota tão incrível como você. Quem namoraria uma ex profissional do sexo? Gravida? Com um passado cheio de marcas? Eu nunca fui e nunca vou ser o tipo de garota que foi sua ex, e não quero e nem posso me comparar a ela. Minha pureza foi roubada muito cedo pela vida. E sabe? Aconteceu da pior forma. Eu nunca consegui amar ninguém, para mim é muito difícil confiar nas pessoas. Por dias morei na rua e acostumei a dormir de olhos abertos. Uma chuva como essa é fichinha perto de tantas coisas que vivi. Em cada homem que eu deitava por dinheiro eu via a imagem do meu abusador, mas eu ia, era a única maneira de me manter e de sair das ruas. Quando finalmente achei um homem que pensei valer apena tentar esquecer minhas cicatrizes, ele me abandonou na primeira oportunidade. Eu me tranquei e desisti dos sentimentos bons, mas dai você apareceu, e tem noção do que é a sua presença em minha vida? Eu cheguei e estraguei sua rotina. Você tinha uma vida, uma namorada e isso me doí e me trás uma culpa terrível.  Mas sabe? Se não fosse você, eu estaria outra vez presa dentro de mim sentindo que a felicidade é um caminho distante demais para mim.

— Mel, não quero te ver assim. Você está tremendo de frio. Vamos para o carro e continuamos essa conversa em casa. — ouvir as palavras de Melissa me doíam e me cortavam fundo. Eu nunca parei para pensar e me por em seu lugar. Passei tanto tempo pensando no meu próprio passado e nas minhas próprias dores, que esqueci de enxergar as dela. 

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora