Eduarda
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Acordei bem mais cedo que de costume, fiz minha rotina matinal e seguidamente desci até a padaria deixando Melissa ainda mergulhada em seu sono. Comprei alguns pães, geleia e salgados e voltando montei uma mesa farta para o café da manhã. Não sou a melhor cozinheira do mundo, mas morando sozinha durante tanto tempo, aprendi a me virar, principalmente na cozinha. Enquanto eu preparava o café, Melissa ainda dormia esparramada no sofá da sala como um anjo... Pela forma como ela dormia, creio que há muito tempo não tinha uma boa noite de sono como essa. Talvez trabalhar na madrugada seja mais exaustivo do que consigo imaginar. Me aproximando do sofá, vi a imagem de uma doce menina sonolenta que quase me recusei acordar... Suavemente silabei seu nome e toquei em seu braço, enquanto ela vagarosamente abria seus olhos despertando-se intimidada. Prendeu seus cachos soltos que estavam armados com uma liga que ela tinha em seu pulso e abrindo um doce sorriso desejou-me bom dia.
— Desculpa ter te acordado assim Mel... Mas eu preparei um lindo café da manhã para tomarmos juntas antes de eu ir para a redação do jornal. E se eu não te acordasse ou eu perderia a hora do serviço ou você tomaria café sozinha. (Risos)
—Vou subi e tomar rapidinho uma ducha para literalmente acordar meus neurônios que permanecem sonolentos e volto para tomarmos juntas. — ela subiu levando consigo a escova de dentes e uma toalha em suas mãos.
Voltei para a cozinha e procurei no armário duas xícaras para colocar o cappuccino, mas antes que eu pudesse encontrar ouvi a campainha tocar ecoando aquele barulho chato por toda a casa. — Céus! Quem pode ser a essa hora da manhã? — perguntei a mim mesma enquanto me dirigia até a porta, buscando em minha memoria uma explicação precisa sobre quem pudesse ser.
— Bom dia minha linda! — saltitou Lívia euforicamente em meus braços me envolvendo num abraço quando abri a porta.
— Lívia? Céus! O que faz aqui há essa hora da manhã? — arregalei os olhos quase sem acreditar no que eles mostravam, após coloca-la no chão.
—Sei que bater em sua porta há essa hora da manhã com uma simbólica flor roubada do quintal do vizinho não é a coisa mais romântica do mundo... Mas eu só queria ser a primeira a te desejar bom dia... E falar também que quase não conseguir dormir essa noite de tanta felicidade em poder finalmente te chamar de minha. Sei que vindo até aqui há essa hora corro o risco que pense que sou uma louca grudenta, mas eu não ia aguentar te ver somente a noite quanto saísse do trabalho. Então vim apenas para depositar um beijo em seus lábios, entregar essa flor em suas mãos e desejar-te um bom dia.
— Por quê não me avisou que vinha Liv? — apesar da atitude fofa que trouxe Lívia até aqui, eu não sabia exatamente porque eu não estava tão feliz em vê-la como deveria estar. Talvez fosse o medo da reação dela ao descobrir que há outra garota morando em meu apartamento.
— Eu quis fazer uma surpresa ué. Fiz mal? Porque está agindo de forma tão recuada? Acaso não gostou da surpresa? Já sei... preferia que eu não tivesse vindo né? — ela indagou cabisbaixa enquanto caminhava pela sala. — Por qual motivo o sofá está tão cheio de almofadas e cobertas? Dormiu na sala essa noite? — indagou Liv arqueando uma de suas sobrancelhas ao notar o sofá desarrumado. Busquei em minha cabeça a melhor forma de fugir dessa pergunta, mas antes que meu cérebro conseguisse pensar em algo, uma voz soou do alto da escada.
— A água estava uma delicia.. Nada melhor que uma ducha na matina para animar os neurônios. Agora finalmente podemos tomar nosso café! — disse Melissa enquanto descia as escadas cabisbaixa, sem notar presença de Lívia na sala. Somente após descer até o ultimo degrau, ao levantar seu olhar, viu em seu campo de visão a imagem de Liv enfurecida.
— Atrapalho alguma coisa? — indagou Lívia encarando-me. Eu sabia que o melhor a se fazer agora seria correr para as colinas se eu quisesse sobreviver a um furação de nome Lívia que estava por vir.
— Perdoe-me! Não sabia que tínhamos visita. — se desculpou Mel.
— Ahh a visita sou eu? Quer dizer que a sua namorada é a visita? E ela quem é Maria Eduarda? — esbravejou. — Querem saber? Já que eu quem está sobrando aqui, vão lá para o maravilhoso café da manhã, pois não vou mais incomodar. — falou Liv jogando no chão a flor que trazia em suas mãos, batendo a porta e indo embora.
— Não vai atrás dela Eduarda? Por favor tenta conversar com ela ou não vou me perdoar sabendo que fui eu quem causei tudo isso. — Suplicou Mel me incentivando a resolver a situação.
— Se eu for, vou me atrasar ainda mais para o trabalho. Sabemos que eu já estou atrasada o bastante. — eu estava dividida e sem saber exatamente o que fazer.
— Depois você vê como fica no trabalho... Mas o sentimentos dela nesse momento são mais importantes. Ela pode estar magoada. Vai lá? — Melissa de fato tinha razão. Peguei a chave do carro que estava sobre a mesa e seguidamente sai correndo a procura de Lívia para tentar consertar as coisas.
Melissa
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Eu me sinto tão mal em estar causando isso, mas eu não posso voltar para a pensão de onde vim. Não quero causar problemas para Eduarda, mas eu também não posso levar a vida que eu levava antes. Eu sei que o certo a se fazer nesse momento seria partir e não causar mais danos do que já causei, mas agora muita coisa mudou. Tomara que a Lívia ouça a explicação de Eduarda sobre toda essa situação e que se entendam, mas será o meu fim se Liv pedir que Eduarda me expulse daqui e ela aceite. Se isso afetasse apenas a mim eu não me importaria, mas há algo maior que eu. Eu não posso voltar para as ruas. Eu não posso simplesmente continuar a agir de forma tão inconsequente. Deus, se puder me ouvir e for capaz de me entender, por favor, não deixe que Eduarda volte atrás em sua decisão de me deixar ficar. Eu sei que nos próximos meses eu terei que encontrar um espaço só meu, mas tudo em minha vida vem acontecendo de forma bastante rápida, e ainda nem tive tempo de digerir tudo que vem acontecendo. Eu sei que quando Duda souber o real motivo pelo qual estou em sua casa, talvez me mande embora, mas eu esconderei até onde der, pois preciso continuar aqui. Então por favor, quebranta o coração de Lívia para que elas se entendam sem que eu precise partir. O senhor conhece meus motivos e sabe que não se trata de egoismo. Não vim para destruir a relação de ninguém, vim apenas por um motivo maior.
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2 - Colorindo uma vida de tons cinzas
RomansaEsse é um livro lésbico que trás a segunda temporada da história: Clara e Duda. Deixo meus grandes agradecimentos a Jullia Athayde, pois me presenteou com idéias incríveis para esse romance.