Capítulo 29 - Domingo

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Domingo - Porto de Galinhas - Pernambuco

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Lívia

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— Laura, só mesmo você para me fazer sair de casa quando tudo que mais quero é deitar na minha cama e chorar até esquecer meu próprio nome. — pontuei. 

— Liv, olha seu corpo? Olha esse bumbum perfeito? Olha essa cinturinha de barbie? Olha essa cor de pele? Acha mesmo que iria te deixar gastar esse belo domingo chorando? Pior por aquela garota? O mundo precisa ter a chance de ver a mais bela obra de arte já esculpida por Deus. —  falou dando-me a mão e me girando no meio da praia. —  Você nasceu para andar de biquíni. Esse corpo me causa inveja. 

— Por um momento tive medo que finalizasse a frase com a palavra: "vontade". —  rimos juntas. 

— E por que não? Me deu a chance de repensar e reformular.  

— Sem gracinhas senhorita Laura, ou ficarei extremamente envergonhada.  — me escondi atrás de um sorriso tímido. 

— Desculpa, mas é que mesmo tendo te conhecido há menos de três dias, já me sinto tão ligada a ti. Eu criei simpatia por você desde o primeiro momento, não sei exatamente por qual motivo. Creio que talvez ver a garota que mais odeio te tratar mal, me fez querer me aproximar e cuidar de ti, ser sua amiga. Ou talvez eu goste de ti sem porquês. — ela sorriu timidamente e continuou. — estou feliz que tenha aceitado meu convite de vir a praia. Seria terrível estar aqui sem você.

 — Me fale sobre você? Estamos aqui, agora, neste lugar, mas ainda somos quase duas completas estranhas. Não sei nada de você, exceto o fato de que é a redatora chefe da minha ex e tem um carro tão lindo que nem parece de verdade. (risos) — continuamos caminhando pela praia, sentindo nossos pés tocando a areia macia e a conversa fluindo. 

— O carro foi presente do meu pai. Nem faz muito tempo que ganhei. Foi um agrado pela graduação. Bom, vou falar sobre mim, mas depois quero te ouvir também. É justo! — ela respirou fundo e deu continuidade. — Sou Laura Scarlett. Tenho 22 anos e conclui minha faculdade de jornalismo há alguns meses atrás. Entrei no jornal fazem quase dois anos, inicialmente como estagiaria e quando conclui meu grau facultativo tomei a posição e a responsabilidade de redatora-chefe. 

— Céus! O jornal te deu a confiança de dirigir toda equipe, sendo que até então era somente uma estagiaria? Não que eu esteja duvidando da sua capacidade... Longe disso, mas é que tem tanta gente lá sonhando com essa vaga. Eduarda mesmo sempre a quis. Lembro que por vezes ela me falou sobre sua vontade se se tornar uma grande jornalista e crescer naquilo que faz.

— Vou te contar algo que quase ninguém daquela redação sabe, além de um número limitado de funcionários confiáveis.

— Diga-me? — a curiosidade já me dominava.

— Sou a dona do jornal. Bom, na verdade sou a filha do dono. O que dá quase no mesmo. Eu não deixo que todos saibam sobre esse detalhe para que não pensem que estou lá apenas por isso. Eu estudei muito para merecer o cargo em que estou e até meu pai confia-lo a mim, eu tive que mostra-lo  que eu o merecia. Meu pai me desafiou a me sustentar sozinha e manter minhas responsabilidades no trabalho apesar com um salário de estagiaria. Disse que se eu passasse um ano sem precisar do dinheiro dele e conseguir crescer no jornal sem que soubessem sobre minha paternidade, eu seria a pessoa a quem ele confiaria toda a redação. E eu consegui. Antes de me tornar redatora, fui estagiaria, colunista. Foi um teste árduo e eu o consegui. Ele não me deu simplesmente por ser sua filha, deu porque eu o mereci. É por isso que não falo do meu parentesco abertamente. Não quero que duvidem da minha capacidade, da minha paixão pelo que faço. Há quem me chame de "megera", "cobra" e entre outras coisas nos corredores da redação, eu mesma já ouvi varias vezes, mas é que sou extremamente exigente, mas não misturo meu profissional com meu pessoal, do contrario, sei que se eu fosse uma daquelas riquinhas mimadas, eu já teria demitido muita gente dali, inclusive sua amada. — ela me olhou como se tivesse tirado um árduo e pesado segredo das costas.

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora