Guilherme
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— Quem era no telefone? — Rafael me indagou apreensivo.
— Lívia, avisando que volta ao Brasil em dois dias.
— Elas acharam Clara?
— Ela não disse. Quando perguntei ela apenas desconversou e disse que não podia ficar muito tempo no telefone, mas que explicaria tudo assim que estivesse de volta.
— Não acha melhor contarmos para Eduarda e acabar de vez com essa história?
— Melhor não ainda. Ela está organizando uma festa surpresa para Melissa e inclusive me pediu ajuda. Está animada com os preparativos e não quero encher a cabeça dela com isso agora. Não é o momento.
— Não tem medo que ela acabe descobrindo da pior forma possível?
— Ela só descobrirá se um de nós falarmos. Já que Samantha não é tão próxima dela, Laura e Liv estão fora do Brasil e Bernardo nunca a viu pessoalmente. Sendo assim, ela não tem como saber, a menos que você abra o bocão.
— Você sabe que nem troco muitas palavras com Eduarda. Você quem deveria contar, é o amigo dela.
— Justamente por ser o amigo dela, estou privando-a de sofrer antecipadamente. Só falarei quando Clara estiver devidamente localizada. — falo revirando os olhos. — mudando de assunto, preciso sair... Falando na Eduarda, combinei de encontrar com ela para comprar algumas bebidas e aperitivos para a festa de aniversário. — Você vai né? Ela convidou todos nós.
— Eu? Claro que não. Sabe que Eduarda não me suporta.
— Pare de viver do passado Rafael. Eduarda já esqueceu as diferenças que tinham. Foi ela mesma que mandou que eu convidasse você e sua namorada. Disse também que eu levasse Bernardo no pacote e todos os meus amigos da última social que tivemos. As coisas mudaram, acompanhe essa mudança e pare de se privar de viver.
— Você é o melhor da terra na arte de convencer, hein primo?
— Você não viu nada. — risos.
Livia
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Toquei seu ombro e chamei seu nome sem a menor certeza se de fato se tratava da pessoa que eu ansiava encontrar. Fui vencida pelo impulso e tomada pela coragem. Dr. Pie saiu seguidamente, nos dando privacidade para continuar o assunto a sós.
— Quem é você? — ela me perguntou friamente. Por um momento meu cérebro congelou e cheguei a temer que aquela garota que estava diante de mim de fato não fosse quem eu procurava. Olhei outra vez a fotografia que Guilherme havia anexado na lista e apesar do novo corte de cabelo e de inúmeros traço diferentes em seu rosto, eu ainda sim consegui ter certeza, era ela. Algo gritava dentro de mim afirmando que eu realmente estava diante de Clara.
— Sou Lívia. A melhor amiga da sua ex-namorada, Eduarda! — respondi prendendo o ar, com medo da resposta que eu estava prestes a ouvir.
— Eu não conheço nenhuma Eduarda. — Sua afirmação me fazia repensar se foi certo eu ter vindo do Brasil aos Estados Unidos para encontra-la. Estava óbvio que ela queria apagar Eduarda de seus pensamentos e agir como se nunca tivesse a conhecido em toda sua vida. Eu não deveria estar aqui, agora, diante dela, lembrando-a dos motivos que lhe fizeram tentar tirar sua própria vida.
Clara
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— Clara, é você? — alguém perguntou-me no exato momento em que tocou meu ombro. Meus pensamentos estavam confusos. Quem são afinal essas duas garotas? Como sabem meu nome? Uma forte pontada tomou por completo minha cabeça. Flashes de memórias assombraram minha mente. Aquele rosto que estava diante de mim, não me era estranho. Repentinamente consigo lembrar de uma casa noturna, uma pista de dança cheia, e de duas garotas saindo de mãos dadas enquanto eu permanecia parada as vendo partir, uma dessas era a garota que neste se encontra em minha frente, mas a segunda não é a que lhe acompanha agora.
Estou confusa mais que o normal. Minha cabeça doí, doí muito. Tudo ao meu redor está girando em 360° graus e meu coração por alguma razão está acelerado. Tento forçar um pouco mais da minha memória e volto ao passado para recordar detalhes de onde a conheço, mas é uma tentativa falha. Me limito apenas a perguntar: — Quem é você?
— Sou Lívia. A melhor amiga da sua ex-namorada, Eduarda! — essas palavras me pegaram como facadas. Eduarda? Esse nome não era tão estranho para mim. É tão ruim não conseguir lembrar de coisas importantes do seu próprio passado. Sinto-me dentro de um quebra-cabeça onde cada pequena peça é uma chance nova para montar o desfecho da minha própria história.
— Eu não conheço nenhuma Eduarda. — respondi sentindo incerteza em minhas próprias palavras. Como eu poderia afirmar, se certezas era tudo que me faltava? Eu desconhecia sobre minha própria vida. Desde o acidente, tudo em minha mente é completamente confuso. Tudo que sei sobre a minha história é aquilo que meu tio e sua esposa contam-me. Eduarda? Por que será que ouvi esse nome fez meu coração bater tão rápido? Afinal de contas... Quem é Eduarda?
Talvez essas garotas que estão diante de mim, tenham as repostas que preciso para finalmente juntar as peças que me faltam desse quebra-cabeça, vulgo, a minha própria vida. Nesses últimos meses, vezes e outras, consigo lembrar de fragmentos de coisas que aconteceram comigo, mas nenhuma lembrança vem completa, são sempre fragmentadas. Essa é a minha chance de entender aquilo que minha memória não consegue me explicar. Sinto que estou a um passo de desvendar esse mistério que se chama "passado".
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2 - Colorindo uma vida de tons cinzas
RomanceEsse é um livro lésbico que trás a segunda temporada da história: Clara e Duda. Deixo meus grandes agradecimentos a Jullia Athayde, pois me presenteou com idéias incríveis para esse romance.