Capítulo 41 - Ultrassom

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Eduarda

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— Quem era no telefone Eduarda? —  Melissa indagou com um misto de ciumes e curiosidade.   

— Laura. —  prontamente falei.

— O que ela queria? 

— Me readmitir.

— E você aceitou? 

— Estou tentada a aceitar... Não posso bancar a orgulhosa... tenho uma criança a caminho para sustentar. —  rimos juntas. — fiquei de passar lá amanhã para resolvemos tudo. 

— Com toda essa correria nos últimos dias  entre sua demissão, o ocorrido com o Guilherme e todas as outras questões, acabei esquecendo de comentar que marquei o ultrassom para saber finalmente o sexo do bebê. Estou louca de curiosidade.. Até pensei em deixar para sabermos somente após seu nascimento, mas eu quero escolher o nome o quanto antes.

— Eu faço questão de ir com você... — falei euforicamente. — Já pensou em nomes amor? — indaguei abraçando-a enquanto eu acomodava sua cabeça em meu peito, na cama.

— Pensei em alguns, mas queria escolher junto de ti. Não faz sentido eu escolher sozinha.

— Quais são as opções? 

— Pensei em Matheus, Pierry ou Thiago para garotos... Se caso for uma menina, pensei em Sophie, Emma ou Lara. — ela disse maravilhada!

  — Eu adorei as opções, todos muito lindos, mas Pierry e Lara foram os que mais me chamaram atenção. — afirmei fazendo uma pausa para respirar profundamente e então continuei... — Lembra quando eu disse que queria ser uma especie de tia para essa criança?

— Lembro... acho tão fofo o modo como se preocupa conosco. — Melissa me apertou ainda mais forte dentro de seu abraço, agindo no auge de sua fofura.

— Eu me arrependi... não quero ser como uma tia.  

— Não? — ela indagou desapontada levantando seus olhos para me encarar. 

— Quero ser a segunda mãe desta criança. Quero cuidar de vocês e mostrar que não estão sozinhas. — conclui minhas palavras acariciando seu rosto e beijando-a. Em cada vez os os lábios de Melissa tocavam os meus, meu coração voltava a dar sinal de vida. Era maravilhosa a sensação de voltar a estar feliz. Eu não me sentia assim há muito tempo... Era como se eu estivesse voltando finalmente a viver. 



(...)

02/01/2016 - Hospital São Marcelino Camilo Dias - 08:30 AM

Melissa

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O Ultrassom morfológico fetal é um dos mais importantes de toda a gestação e todas as mães deveriam fazê-lo. Serve para avaliar a anatomia geral do bebê, como o crânio, coluna vertebral, membros superiores e inferiores, ritmo cardíaco, genitália, tamanho de cada membro, tamanho total e peso do bebê, idade da gestação, etc. Também é avaliado todo o saco gestacional, inclusive a placenta, o cordão umbilical e o líquido amniótico. Aprendi isso graças a explicação paciente da médica que me atendeu.

Ao deitar naquela maca e ver através de um pequeno aparelho os batimentos do meu pequeno (ou pequena, já que eu ainda não sabia exatamente, mas já estava prestes a descobrir) meu coração batia com alegria. Era uma alegria que eu jamais antes tinha provado. Como posso amar tanto um ser que ainda nem sequer conheço? Eduarda me parecia tão encantada quanto eu. Seus olhos brilhavam com euforia observando cada detalhe da imagem que o pequeno aparelho mostrava. Sua expressão encantada pelo momento a entregava, ela estava tão caída de amores por aquele pequeno ser que nem sequer veio ao mundo tanto quanto eu.

Doutora Fabiany nos informou que o embrião estava se desenvolvendo de forma excelente e que estava perfeitamente saudável. Todos os níveis do seu corpinho estavam no máximo para a sua idade. Aquela noticia me alegrava e confortava. Eu nunca quis tanto o bem estar de alguém como desejo do meu pequeno. Em mim predomina a necessidade de cuida-lo e protege-lo contra qualquer perigo do mundo.

Logo que a Dr. Fabiany passou o aparelho na minha barriga, e disse:

 "Aqui é a cabecinha ''DELA'".

Meu corpo inteiro gelou e eu fiquei sem reação e sem fala. Era uma menina. Era uma garotinha. Era a Lara... A minha Lara estava a caminho. Tentei segurar as lágrimas, mas minhas emoções me dominaram por completo. O choro foi inevitável. Minha emoção era indescritível. Eu seria feliz se fosse um menino, e o amaria igual, mas ter uma menina sempre foi meu sonho! 

— "O quê? ''DELA''? É uma menina? Jura?" —  Eduarda indagou em festa com a noticia... e só acreditou quando a médica informou que tinha absoluta certeza.

Em um ato de comemoração Eduarda beijou-me, sem sequer importar-se com a presença de Dr. Fabiany... mas sabe quando a felicidade é extrema e não cabe dentro da gente e então sentimos a vontade de gritar ao mundo? Era exatamente isso que estávamos sentindo.

Não posso negar que a cada mês que passa e se aproxima o dia de eu finalmente conhecer a minha pequena, os medos rondam minha mente a todo momento:  " — E se doer? E se eu morrer no parto? E se a Eduarda se cansar e me deixar?" — faço diariamente essas perguntas a mim mesma. Vivo em uma linha tênua entre medo e a realização de um sonho. Mas naquele instante tudo que importava era a alegria que eu estava sentindo em mim. 

Pela minha pequena eu seria capaz de enfrentar qualquer risco, desde o menor ao pior, levando em conta que o grau mais elevado seria não resistir ao seu nascimento. No entanto, prefiro não pensar nessas hipóteses. O momento é de festa, apesar de que para uma mãe de primeira viagem o medo é completamente normal.

  — Parabéns pela garotinha que está vindo à caminho. —  disse Dr. Fabiny sorrindo docemente e me salvando dos meus devaneios.

Eduarda agradeceu em nosso nome, já que a emoção e as lágrimas naquele momento me calavam. Eu tinha idealizado aquele momento milhares de vezes, mas nunca imaginei que a emoção seria tão grandiosa assim. Eu estava vivendo um sonho.



Eduarda

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Durante os últimos três anos senti minha vida sem rumo, a cada dia era como se ela desmoronasse um pouco mais. No entanto, pela primeira vez em muito tempo sinto que as coisas estão voltando finalmente aos trilhos. Eu sempre fui uma garota romântica e intensa, porém nos últimos anos fui aprendendo a fugir e me esquivar daquela que sempre fui. Esqueci como era viver amores e mais ainda, esqueci de quem eu era. Comecei a repelir sentimentos e achar que não era boa para amar, mas vendo Melissa e a nossa filha por esse pequeno aparelho televisivo, vejo que chega uma hora que a gente cansa de fugir, de correr. Chega uma hora que até o pior tipo de corredor quer ter um lar, quer ter um porto seguro, um ponto de equilíbrio. Eu a escolhi pra ser o meu lar, meu porto seguro e meu ponto de equilíbrio. Ela trouxe de volta para mim uma Eduarda que eu pensei que nem mais existia. Trouxe de volta a minha paixão pela vida e mais ainda, tornou real meu sonho de ser mãe.

O ultrassom morfológico fetal durou cerca de 30 minutos. Os 30 minutos mais emocionantes da minha vida. Saímos do hospital com nossas forças renovadas e à alegria que não cabia em nós. Eu estava com medo de acordar e a qualquer momento perceber que estava vivendo um sonho. Eu nunca em toda a minha vida tive a felicidade de forma tão palpável. 

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora