Contra o tempo

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- Quatro horas? - Olhei pro relógio- Mas já são mais de sete da noite. Ele ainda não chegou em casa. Como ele ia voltar? O senhor sabe?
- Ele me disse que ia de carona num caminhão que ia passar àquela hora, mar depois disso ele num vortô mar não! - O terror estava estampado no rosto de Mirna, ao mesmo tempo que a dor - A perda de uma mãe; ela me lembrou a mãe do Matt quando recebeu a triste notícia - Eu não tinha certeza de nada. Não sabia se Pee ainda estaria vivo, e se estivesse, estaria bem? Não sei, e com tudo o que já tinha acontecido tudo o que vinha à mente era a imagem de Peter. Pendurado. Naquela árvore.
- Vem Mirna! Não vamos desistir. Sei que vamos conseguir! - Falei enquanto a puxava pelo braço.

Estávamos voltando pela mesma estrada, só que mais devagar. Minha cabeça começava a doer de tanto eu chorar. Mas uma coisa boa - e ao mesmo tempo ruim - aconteceu.

Meu celular toca.
- Alô!!
- Amora? Sou eu, Lívia. Peter ainda está vivo.
- Como você sabe? Onde você está?
- Ele me ligou.
- O QUÊ? - Berrei.
- Calma calma. Não foi o Peter. Foi o cara que está com ele. Falou que ele está bem. Por enquanto.
- E você perguntou o que ele quer?
- Ele quer que você até a velha fazenda e... Lembra daquela casinha no bosque?
- Perto...da....Árvore...
- É, . Foi o que ele me mandou dizer.
- Mas e quanto ao... Alô? Lívia? Droga de celular, na hora mais importante o sinal cai.

- Peter. Ele está vivo não é?-Perguntou Mirna esperançosa.
- Sim. Ele está sim. Mas, temos pouco tempo. Não sei o que este louco planeja. E nem sei também o que quer comigo. Ainda bem que Lívia está em casa, e tomara que ela não invente de vir para cá trazendo o Dionatha. - Dei meia volta e fomos em direção à morte certa.

A cerração era intensa na estrada, quase não se enxergava nada à cinco metros de distância. Eram quase oito e meia, e meu coração disparava cada vez mais. Acelerei o carro o máximo que eu podia. Ainda com tudo isso a acontecer, consegui rir, a cara da dona Mirna era muito engraçada. Ela tava com medo da "alta velocidade". Foi bom pra descontrair. Eu tinha que pensar positivamente.
Vi que chegamos na entrada da fazenda porque o a luz do farol bateu bem em cima do portão velho e entreaberto com uma corrente ao redor - alguém esteve ali mais cedo. Ah espera. Ainda estava ''. E eu estava disposta a acabar com a raça desse destruidor de vidas, de amizades e sossêgo.
Abri a porta e saí devagar.
- Amora - disse Mirna numa voz firme e bastante confiante - Pegue isto, e se for preciso, use-o sem medo nenhum. - Quando ponho a mão sobre a luz, um arrepio tomou conta de mim. Que foi dos pés até o último fio de cabelo.
- D..de quem é isso, M..Mirna?
- É do Peter. Quando o pai dele voltou duma viagem da Alemanha, ele trouxe esse canivete pro Peter de lembrança. Já faz dois anos - Ela disse triste. Já ia saindo do carro quando eu a interrompi.
- Não venha!
- Mas Amora, é meu filho, você não pode me imped...
- Eu posso. Tenho motivos. Fique aqui por favor, não.. Não quero que se machuque.

Um canivete alemão. Do Peter. E agora? Tudo o que vinha à minha mente era suspeitar do Peter. Tudo se voltava contra ele.
O Daniel, primeira vítima, estava interessado em mim, talvez seja por isso que ele o matou. O Matt se achegou de mais a mim, e Lisley já se tornava minha amiga. Tudo fazia sentido. Talvez ele fosse obcecado por mim e por isso estava fazendo isso. Mas de quê adiantaria? De nada. De nada.
Olhei para o celular. Pegava sinal, mas oscilava muito. Como sou de um corpo posso dizer light, consegui entrar pela fenda no portão. Do lado tem uma mangueira. Resolvi subir nela pra ver se eu conseguia assim um sinal permanente, mas não deu muito certo.
- A... - Nem falei o "alô" direito e já me assustei. - Dionatha? Cadê a Lívia? Por que você atendeu o celular dela?
- Ela não está aqui faz umas... Eu nem sei dizer, cheguei pouco tempo do trabalho. Acho que ela esqueceu de levar o celular. - Ele disse tranquilamente.
- Dionatha!!! Já esqueceu das ameaças contra a tua irmã? Não sabe que o Peter sumiu?
- Ele sumiu? Como assim, o que está acontecendo?
- AH MEU DEUS. ACHA ELA AGORA!! - Falei com raiva e ao mesmo tempo com medo, horrorizada, tudo de ruim que você possa imaginar.
Eu sou filha única. Lívia é como uma irmã mais velha, assim como Peter. Eu não posso perder os dois de uma vez.
Gosto de pensar que ela foi pra casa daquela prima dela se distrair um pouco.
Desci da árvore devagar e fui em direção àquela árvore, estava muito escuro, precisei ligar o flash do meu celular. Pude ver as árvores altas de pinheiros, e no chão a grama alta e úmida do sereno da noite.
No campo existem vários tipos de animais, só que aquela fazenda não tinha criação humana; enquanto eu andava, eu tinha uma puta sensação de estar sendo vigiada e seguida. Aumentei os passos e parecia que eu não saía do lugar, e o canto da coruja me deixava mais assustada, e a mãe da lua, aquele pássaro que o canto parece um, sei lá o quê, que fica "Uuu, uuuu".Continuei mesmo assim.
Finalmente já estava bem perto, à frente estava a"Árvore Forca", que por enquanto não tinha ninguém pendurado, havia apenas uma corda de prontidão, só esperando. Pensei comigo mesma que, não seria o Peter a estar ali.
Mais alguns metros andando e logo avistei a cabaninha, dava pra ver apenas uma pequena claridade, velas talvez. Não tinha energia lá. À noite parecia mais assustador ainda, como algo mal assombrado.
Caminhei bem devagar pra não fazer barulho. Olhei pelas brechas mas não vi nada, nem o Pee, nem ninguém. Meu coração estava a mil. Até que ouvi um gemido como se fosse um chamado.
- Hhmmm!! - Mas eu não podia falar nada. Apenas empurrei a porta bem devagar e aquele barulho de porta enferrujada me deu calafrios. Teia de aranha pra tudo quanto é lado. E o assoalho de madeira fazia rangidos nada confortáveis.
Finalmente vi bem no canto alguém com um pano preto na cabeça, não vi se era o Pee, era pouca luz. Me aproximei e ao estender a mão para puxar o pano só senti uma forte pancada na minha cabeça, desmaiei e não vi mais nada.

Psicose - A árvore forca [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora