Um estranho no Velório

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Naquele início de domingo, o sol despontava brilhante no horizonte, da janela do meu quarto- feitas de vidro- os raios refletiam nas gotas de orvalho. É uma coisa muito bonita de se ver. Nem parece que há algumas horas mais tarde haveria um velório. Fiquei de ir com Peter, mas acabei desistindo, era muito drama pra uma pessoa só! Já podia ver as cenas seguintes, pessoas chorando pra todo lado.
A família Salker tinha vários parentes aqui Charlestton, primos, tios, etc. Todos vieram ao velório da Lisley. Como eu imaginava. Lágrimas e mais lágrimas. Às vezes acho que não sou muito normal. Não me comovi nem um pouco com tudo aquilo.
- Que coisa triste né Amora? Ela nem tinha se instalado direito. Quem faria isso? Tão linda, tão... - Interrompi.
-Chega Peter! Ela morreu, não tem mais volta. Vê se entende isso. - Peter arregalou os olhos. Me fitou um pouco, boquiaberto.
- Como é isso? Você não tem coração Amora? Se não tem, ao menos finge que tem pois as pessoas ao redor têm sentimentos! - Ele disse e saiu desacreditado.
-Talvez eu não tenha mesmo um coração. - Sussurrei. Sorri. Ironicamente. - Não sei porquê. Mas deu vontade. Eu fiquei um tempo ali parada; olhando para o nada como sempre faço. Então me dei conta de que eu estava"sozinha" ali. Levantei e me aproximei do caixão.
Lisley estava vestida com seu uniforme escolar, ela amou a escola desde o primeiro dia, era uma boa homenagem de seus pais. Mais pro lado estava o "Leon", com algumas lágrimas escorrendo - talvez fossem lágrimas - Ele virou-se para os pais dela:
- Eu sinto muito.- disse choramingando- Eu não queria que isso acontecesse. Eu devia tê-la levado em casa, me perdoem, jamais pensei que isso pudesse acontecer - E abraçou o sr. e a sra. Salker. 
As horas se passaram. Fiquei ali um bom tempo, olhando a tristeza dos outros. E de vez em quando lembrava de minha música preferida "Ghost Town". Que diz "meu coração é uma cidade fantasma - Talvez fosse mesmo. Tudo correu bem. Agora já era hora do enterro mesmo. Todos fomos em direção à cova, O pai da Lisley ia na frente ajudando a levar o caixão, estava com os olhos inchados de tanto chorar. - Homens. Parecem ser tão fortes, e são os que mais choram.
Começaram a descer o caixão, jogavam flores de todas as cores - eram lindas as flores- vermelhas, brancas, amarelas, lilás.. Eu via cada flor sendo jogada ali, podia ver em câmera lenta. Neste momento o clima começa a mudar.
- Acho melhor irmos para casa! - Peter disse.
- Sim. Só vou me despedir dos pais da .... Lisley.- falei um pouco triste.
Eles estavam do outro lado da casinha sem paredes. Começou a chover - toda vez chove em enterros? - e um forte vento veio com a chuva. Olhei para o chão gramado, agora já inundado pela água, levanto o olhar e vejo alguém que desconheço. Estávamos a mais ou menos uns 35m da cova e a chuva não deixava que eu visse direito.
- Pee! - Chamei baixinho. - Pee!!
- O que é Amora? - Ele estava ainda chateado comigo.
- Veja! - apontei na direção do estranho. - Quem será?
- Eu não sei, mas, não deve ser boa coisa.
Ele/Ela usava um sobretudo marrom de couro com um capuz, e estava de óculos escuro. Só vi que ele abaixou e deixou lá alguma coisa. Olhou em minha direção - tenho certeza- e deu um tchauzinho. - Eu era a única que, neste momento, o observava. Pee se afastara para também se despedir.
Não tinha corpo másculo, era magro e pude ver sua pele clara. Tinha que ser alguém da escola meu Deus. Agora eu não teria paz, e nem poderia mais confiar em ninguém!!! Quando Pré se voltou para mim eu estava paralisada; olhando para o local em que aquele estranho se encontrava.
- Vamos Mora. Parece que morreu em pé.. - Falou bagunceiro.
- Você não viu? - continuei paralisada
- Viu o quê? Tá ficando paranóica? Têm nada aí pra ver.
- Tinha um cara ali. Quer dizer não sei se era homem ou mulher..
- Vamos pra casa, cê precisa descansar.
Fomos.
                          ***
- Tchau Pee, obrigada por....tudo.- por tudo quero dizer nada. Ele nem sequer acreditava em mim. Achava que eu estava sobrecarregada com tudo o que tava acontecendo. A única pessoa que estaria do meu lado, era a Lívia.
- Mãe?
- Sim?
- Posso ir lá na casa da Lívia? Tenho que ver um trabalho que não anotei.- Menti.
- Tá. Vai lá, mas volta cedo em?
- Pode deixar mãe.

Bato na porta.
-Lívia? - A porta se abre. Era Dionatha. O irmão mais velho dela. Bem parecido com ela, lindo demais, ô pai. Cabelos bem claros olhos bem verdinhos, e de pele bem branca.
- Ah, oi Amora! - ai meu Zeus e que voz, se ele fosse mais novo... Tem 21 anos de idade, e eu agora, ainda dezesseis.
- O...oi Dionatha - falei desajeitada - A Lívia se encontra?
- Sim, sim. Entra aí e fica à vontade. Vou chamá-la
-Líiivia! - gritou.
- Já voou! - disse ela.
O que foi?
- Sua amiga está aqui!
- Atá. Valeu maninho. - Ele sorriu. E que sorriso!
- Oi Lívia..
- Oi mana, tudo bem?
- Não!! Precisamos conversar.. Sozinhas!
- Claro, vamos para o meu quarto! Dio - Dio era o apelido do seu irmão.
- Oi! - Ele disse virando para olhá-la enquanto mexia no pc.
- Vamos para o quarto tá? Qualquer coisa me chama.
- Ok.

Subimos a escada e entramos no quarto. É como qualquer quarto de adolescente, cheio de cartazes e posters de cantores e tals, e, é de cor rosa bebê. É muito infantil.. Fazer o quê.
- Pode falar. O que tá te incomodando amiga? - Lívia perguntou calmamente.
- Ham... Sabe, você não vai achar que eu sou doida não é?
- Claro que não, nunca fiz isso!
- Certo. Hoje teve o enterro da Lisley e..
- Ah é, nem me diga.. Mamãe não deixou eu ir!
- Pois é, começou a chover, aí na hora da chuva alguém não sei se homem ou mulher, foi lá, olhou e deu até um tchauzinho e.. - Parei e pensei um pouco! Caramba!
- Ele colocou alguma coisa no caixão!!! Preciso ir lá! - Saí apressada e desci a escada rapidamente.
-Amooraaa! Espera aí sua doida! - Lívia disse quase gritando. - Você não pode ir lá agora
- Por que não? - Perguntei num tom desafiador.
- Você é de menor, e outra tá tarde. - Ela estava certa. Sou de menor, mas tive uma ideia.
- É, sou de menor, mas seu irmão não! - Sorri.
- Ele tá ocupado - Ela falou entre os dentes.
- Deixa comigo!
- Amora nã...
- Dio? - Falei docemente.
- Oi Amora; Posso ajudar em alguma coisa?
- Sem sombra de dúvidas!

Psicose - A árvore forca [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora