Capítulo 2

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Liz

— Pode me dizer seu nome? — A voz do médico ultrapassa minha barreira indiferente.

— Por que sempre me faz a mesma pergunta? — Questiono com um suspiro. — Achei que a essa altura já soubesse meu nome.

Ele sorri suavemente, fazendo anotações em seu caderninho, sentado na cama, com as pernas cruzadas.

— Muito bem, Liz, como está hoje?

Respiro fundo, encarando o doutor, sem responder sua pergunta.

— Fez alguns dos exercícios que sugeri? — Ele ainda continua tentando, apesar da minha má vontade.

— Liz, será que você já está pronta para conversar? — Ele questiona suavemente, sua mão pairando no caderninho à espera de minhas palavras.

Sem sucesso em refreá-las, as imagens do acidente povoam minha mente, todo o ocorrido passando rapidamente como um filme em fast-forward. O filme congela subitamente na imagem dos meus filhos presos às suas cadeirinhas, de cabeça para baixo; mortos.

A culpa me rasga ao meio, e sinto meu sangue correr pelas minhas veias, escorrer pelo meu corpo e manchar o chão. Cravo meus olhos no carpete colorido e por um segundo, fico em pânico por macular a santidade do quarto infantil. Pisco os olhos com força, o chão cinza e feio, sem mancha alguma, zomba de mim. É quase como se ele gritasse: você é louca.

Olho em volta, notando as nuvens pintadas nas paredes, apenas para desaparecerem logo após, dando lugar às paredes brancas.

— Liz? — Doutor Thompson toca meu joelho, olhando para mim calmamente.

Encolho-me na cadeira, afastando meu joelho do seu alcance.

— Vamos, você sabe que pode falar comigo.

— Eu matei meus filhos, o que mais há para falar? — Grito, meu corpo inteiro trêmulo, meus joelhos batendo violentamente um contra o outro, as lágrimas molhando meu pijama.

Doutor Thompson se levanta calmamente, vai até a mesa de cabeceira e retira algo de sua maleta de médico.

— Você está ficando agitada. — Ele afirma, enquanto balanço meu corpo, sacudida pelos soluços. — Venha, Liz, venha para cama. Você precisa descansar.

Ele me ampara enquanto, obedientemente, o deixo me levar até a cama de armar e assim que me deito, ele injeta algo em minhas veias.

Imediatamente fico em um estado muito bem-vindo de torpor e fecho os olhos, deixando que a escuridão me alcance. Sinto uma mão acariciando meus cabelos, mas não tenho força para abrir os olhos.

Por um momento, reconheço a voz do meu marido e sorrio cheia de saudade, me entregando de vez à escuridão.

***

Julianne

Tomo um gole do meu vinho, sorrindo abertamente em um convite sensual para o meu admirador, Justin. É um lindo nome, em um lindo homem. Os barulhos de conversa e risadas no bar chegam aos meus ouvidos, mas a distração é bem-vinda e só faz-me sentir ainda melhor.

— Diga-me, Jenna, o que você faz? — Ele pergunta sorrindo, os olhos brilhando.

— Sou artista plástica — informo, orgulhosa do meu trabalho, enquanto encaro seus lábios, imaginando quão macios são.

Um arrepio eufórico me impulsiona a sorrir. Ele retribui o sorriso, arrastando discretamente seu banquinho para mais perto do meu.

Quando ele leva seu copo de uísque até seus lábios, não posso deixar de notar uma aliança dourada em seu dedo da mão esquerda. Embora congelando por dentro, mantenho meu sorriso largo e finjo indiferença.

Infidelidade #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora