Capítulo 11 - Liz

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Eu andava de um lado a outro no meu quarto. Uma conversa que tive com Angel mais cedo, não me saia da memória.

— Você é uma covarde, Liz. — Ele dizia, enquanto empunhava sua espada de plástico e lutava com algum inimigo imaginário.

— Eu só... — eu tentava a todo custo justificar o medo que eu sentia em abrir a porta do quarto e me aventurar lá fora.

— É uma covarde! — Ele afirmou, decidido. Seu rosto infantil sério e concentrado.

Ainda agora estremeço quando suas palavras tão sérias me enchem de vergonha. Ele tem toda razão, sou uma covarde.

É claro que já pensei em sair lá fora, me aventurar pelo corredor do hospital psiquiátrico, mas nunca fui forçada a isso. Doutor Thompson jamais me pediu para sair daqui; nem mesmo a enfermeira, que traz minhas refeições, jamais me influenciou a sair e nenhum dos dois, jamais reclamou comigo.

Estanco abruptamente e encaro a porta fechada. O que de mau poderia acontecer? Alguns corredores com piso emborrachado; algumas portas fechadas, outras abertas; talvez eu encontre algum outro paciente. Alguém para conversar que não seja um amigo imaginário, um pirata de dez anos de idade.

Dou alguns passos em direção a porta, mas antes que eu possa ter coragem de tocar a maçaneta, doutor Thompson abre a porta de supetão e entra.

Seguro o grito, colocando a mão no meu peito para acalmar meu coração disparado. Doutor Thompson apenas levantas as mãos e sorri timidamente.

— Desculpe, Liz, não queria assustá-la.

Ele entra no quarto, senta-se na costumeira poltrona, pega seu caderninho, sua caneta, coloca os óculos e me encara.

— Está pronta?

Estou? Provavelmente não.

Com um último olhar para a porta fechada, solto um pequeno suspiro, vou até minha mesinha de cabeceira e pego o diário que ele me deu. Há meses, o doutor me deu este diário e pediu que eu escrevesse tudo o que estivesse sentindo. Há meses, venho ignorando o diário e nunca escrevi nem uma única palavra. Até hoje. Até aquele moleque irritante me chamar de covarde e me empurrar ladeira abaixo.

Então, preenchi algumas páginas furiosas e confusas com meus sentimentos, e antes de perder a coragem, entrego o diário ao médico.

Doutor Justin pega o diário e o folheia calmamente, meu coração retumbava conforme as páginas viravam e os olhos do médico se estreitavam em algumas partes. Por fim, ele suspirou e me deu o diário de volta.

— Gostaria de ler para mim, Liz?

— Ler? — Repeti bobamente. Lutei para engolir, a boca subitamente seca; a pele subitamente quente e arrepiada.

— Sim — ele respondeu, sua voz não mais do que um sussurro calmo e tranquilo, como um lago em dias de verão. — Você pode ler o seu diário, as suas palavras, assim posso ouvi-la ao invés de interpretar erroneamente seus sentimentos. O que me diz?

Fazia sentido, pensei, enquanto o encarava. Doutor Thompson é um homem bonito, olhos castanhos que denotam bondade e paciência; nariz reto, sinal de que nunca se meteu em brigas; uma boca carnuda que quase sempre sorria suavemente, mostrando os dentes muito brancos.

Um homem confiável, as palavras de Angel voltaram à minha mente, e se Angel dizia isso, devia ser verdade. Angel era fruto da minha imaginação, e sendo assim, suas palavras apenas confirmavam o que eu já sabia: que eu podia confiar em doutor Thompson.

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