Capítulo 9 - Jenna

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Abro mais uma gaveta, derrubando seu conteúdo no chão. No meu tour pela minha casa, abrindo e fechando portas, achei um outro escritório de Justin, esse, com a porta displicentemente destrancada, com muito mais cara de que o cômodo é realmente usado.

Mas por mais que seja a última gaveta da mesa de carvalho e todo o resto já esteja espalhado no chão, não encontrei nem um único número de telefone o qual eu não tenha explicação. Nenhum papelzinho. Nada que me diga: olha, Jenna, isso aqui é da amante dele, aquela com as unhas grandes que se enterram nas costas do seu marido em momentos de paixão.

Olho em volta com a visão borrada de lágrimas. Além da mesa, atrás dela, há uma estante com os livros de psicologia e psiquiatria; há muitos livros, ordenados por autor. Do outro lado da mesa, na parede oposta, há uma lareira que, pelo calor que ainda emana, foi acesa recentemente. Acima da lareira há uma foto grande, minha e de Justin, do dia do nosso casamento. Nós dois sorrindo largamente, sua mão me segurando possessivamente, os corpos apoiados um no outro.

Faz muito tempo que não vejo um sorriso destes em meu próprio rosto. Nem no dele, penso com tristeza. Será que ele sorri assim para amante? Será que ele a segura firme como se nunca fosse deixá-la ir?

Limpo meus olhos com a mão, espantando esses pensamentos, pois agora preciso manter o foco. Agora, preciso achar algo que eu possa, sem sombra de dúvida, descobrir a verdade.

Um a um, vou pegando os livros e os folheando, sacodindo e, a cada um, fico esperançosa de que agora vou achar algo. Os livros, já folheados, vão somando a todas as outras coisas e papéis na pilha no chão.

No último livro, faço uma prece silenciosa, e o abro, chacoalhando suas folhas. Um papel dobrado cai ao chão, lentamente rodopiando no ar até pousar em cima da pilha de porcarias no chão. Com mãos trêmulas, pego-o e desdobro lentamente, meus olhos alargando, meu corpo endurecendo.

Leio as palavras avidamente:

Pegar meu smoking na lavanderia;

Passar na loja do Bill e ver se já chegou a nova furadeira;

Comprar material de trabalho para Jenna;

Passar no bazar da Mandy e pedir a Zach que venha dar uma olhada no aquecedor.

Amasso a folha de papel até ela formar uma bola amarrotada em meu punho. Num ataque de fúria, a rasgo em mil pedacinhos e jogo para cima. Enquanto os pedaços rodopiam no ar, fico parada bem no meio, amaldiçoando a minha vida, tão em pedaços quanto essa lista.

Então é isso, penso decidida, é aquela maldita porta trancada. Ali, vou encontrar as respostas que preciso.

Viro-me para sair do escritório e vejo Justin encostado no batente, braços cruzados, rosto inexpressivo. Seus olhos são como duas piscinas quentes que jamais me olharam com fúria, inclusive agora quando praticamente destruí seu escritório.

— Está redecorando? — Ele pergunta casualmente, olhando em volta, passando lentamente seus olhos pela bagunça que criei.

— Eu... — fico sem palavras. Sinto-me exausta, sem forças para discutir ou fazer acusações.

Ele somente me olha com toda a paciência do mundo, anda pelo cômodo com toda a calma, como se apenas estivesse no meio de um passeio, dá a volta na mesa e senta-se na cadeira de couro estofado.

— Bem, — diz ele — acho mesmo que estava na hora de mudar os ares por aqui. — Ele volta seus olhos para mim. — Como se sente, Jenna?

Com raiva, frustrada, com medo, ansiosa, prestes a cair em um buraco sem fundo. Não digo nada disso, é claro; ao invés disso, deixo a raiva me dominar e chuto todas as porcarias no chão.

Infidelidade #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora