Capítulo 13 - Beatriz

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O esconderijo desta vez é embaixo da cama no meu quarto. Fico bem quieta com medo de que ele me ouça e venha me pegar. O monstro está mais bravo a cada dia, e hoje não é diferente.

Mais cedo, eu e mamãe, tomamos um sorvete e rimos enquanto assistíamos a TV, abraçadas no sofá. Mamãe deixou que eu assistisse ao meu desenho favorito e meu coração batia rápido pela animação.

Até que, com um estrondo, a porta da frente foi aberta e o monstro entrou. Seus olhos estavam vermelhos e malvados. Minha mãe saltou como se tivesse levado um choque e olhou para mim com olhos suplicantes.

— Vá se esconder — ela sussurrou; o monstro estava vasculhando a cozinha, xingando alto.

Corri pelas escadas, entrei no meu quarto e tentei abrir o armário, o armário mofado, com animais que rastejavam em mim. Mas eu não conseguia alcançar a maçaneta e a porta estava firmemente fechada. Olhei em volta, os gritos do monstro cada vez mais altos. Meu coração disparou e minhas mãos tremeram, meus joelhos fraquejaram e senti minha pele ficar gelada.

Ouvi minha mãe gritar e o baque surdo da violência que o monstro infligia a ela. Sem outra saída, mergulhei embaixo da cama e permaneci em silêncio. Está frio aqui e minha respiração solta fumaça no ar gelado. Há todo tipo de lixo embaixo da cama: poeira, coisas e até mesmo uma camiseta embolada e fedorenta.

Tento respirar calmamente, a poeira coçando meu nariz me fazendo querer espirrar. Queria estar de volta ao meu armário. Este quarto não é seguro para mim há muito tempo, minha mãe não me deixa dormir aqui se o monstro estiver em casa; então eu fico trancada no armário. Minha mãe roubou dinheiro do monstro e comprou uma fechadura que me prendia por dentro. E apenas assim, trancada no armário, eu fico tranquila e posso dormir.

Um silêncio aterrorizante encheu todos os cômodos da casa e minha respiração saía em rajadas rápidas, conforme eu ofegava de pânico.

Após algum tempo, minha mãe entrou no quarto. Eu apenas podia ver seus pés se arrastando pelo piso de madeira empoeirado. Ela mancou até o meu armário e tentou abrir a porta. As dobradiças rangeram quando a porta cedeu e abriu lentamente. Ao ver o armário vazio, minha mãe ofegou e chamou meu nome. Saí de debaixo da cama, me arrastando na sujeira e sussurrei para ela.

Até aquele momento, eu não conseguira ter uma visão boa da minha mãe e quando me levantei e olhei para ela, senti a tristeza preencher minha alma ao ver os machucados e o sangue que escorria do seu rosto.

— Mamãe — chorei.

Ela cambaleou para mim e, ajoelhando-se, me tomou em seus braços, os soluços sacudindo seu corpo. Ela gemia de dor e segurava suas costelas.

— Shh, nós vamos ficar bem. Tudo vai ficar bem — ela sussurrava em meus cabelos empoeirados.

Não. Nada ia ficar bem, eu já não acreditava nisso, e ali, naquele instante, tive um pressentimento de que as coisas ficariam ainda piores.


Infidelidade #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora