Primeiro dia de aula

13 3 1
                                    

Acordo com o barulho do despertador, exausta por ter ido dormir tão tarde, já passava das sete da manhã e eu estava caindo de sono, tinha que estar no colégio, as oito e meia em ponto.
Não sabia direito, se o que havia visto na noite anterior realmente existiu. Volto a olhar a cidade pela janela de meu quarto, e está aparentemente tudo normal. Pessoas apressadas para algum compromisso importante e barulhos de buzinas. Nada de sombras ou vultos.

Tomo um banho rápido, seco meus cabelos, acabo ficando mais atrasada e findo com apenas um coque bagunçado. Visto jeans justos, uma regata e um suéter leve por cima, já que o clima está um pouco nublado, típico de Florença, calço meus coturnos e tomo o café mais rápido que posso, solto um beijo para Célia e corro para a garagem do prédio.

Chegando lá, corro para a sala, com os horários já em mãos. Felizmente, o professor me deixou entrar em sua aula, mesmo estando 20 minutos atrasada. Deparo-me com pessoas completamente normais, sim, normais, o que para mim é uma surpresa, pra alguém que veio de um lugar onde as pessoas raramente se falavam, aqui é um lugar completamente normal, e me sinto bem feliz por isso. Era conversa que não acabava mais, risadas, gritaria, até o professor perder a paciência e mandar todo mundo ficar em silêncio.

As três aulas acabaram, e o sinal para o intervalo tocou as nove e meia. Tento seguir alguns alunos que ouvi que iam em direção ao refeitório, já que eu não fazia a minima a onde era. O colégio era enorme! Pego minha bandeja com alguns lanches não muito saborosos, e sento em uma mesa mais afastada daquela multidão de alunos cheios de amigos. Sentia o tempo todo que havia olhares sobre mim. Não sabia se era o natural daqui, mas provavelmente, meu nome deveria estar na boca de todo mundo como a novata esquisita.

Acabo fitando a todos, seus modos, gestos, alguns bem calados, afastados com poucos amigos, outros com vários, como se fossem o centro da atenção. Percebi que olhavam para mim, com reprovação por estar encarando, virei imediatamente meu olhar. Já não basta a má fama por ser de uma cidade totalmente estranha, agora de curiosa também.

- Você está babando. - Ouvi uma voz doce e calma. Fecho a boca no susto, me deparo com uma garota baixa, de cabelos loiros repuxados de maneira preguiçosa para trás em um rabo de cavalo.
- Desculpe.
- Relaxe, você é a garota nova não é? Todo mundo está falando de você. Me chamo Clara Vicent. Vice presidente do conselho estudantil. É dever meu, recepcionar alunos novos!

Ela falava com uma empolgação enorme. Não fazia ideia de como me apresentar. Geralmente as pessoas sabiam minha vida toda, e agora sou uma garota desconhecida, estou realmente feliz. Tenho que dizer algo, começando por onde vim será? Não... Isso ela já deve saber...
Havia me perdido em pensamentos e esquecido que a garota loira, chamada Clara ainda estava ali esperando eu responder, com seus enormes olhos azuis brilhando. Tentei ser o mais simpática possível.

- Sou. Meu nome é Melinda Black, mas pode me chamar de Mel. - Respondo tentando não transparecer meu nervosismo.
- Você é Grenville, certo? Nunca pensei que chegaria a conhecer alguém de lá, dizem que as pessoas são estranhas, mas você me parece ser legal!

Fico surpresa, aparento ser legal? Não acho que seja uma qualidade apropriada pra mim. Estranha? Sim, melhor.

- Obrigada.
- Precisa de ajuda com alguma coisa? Se quiser conhecer as coisas por aqui, pode contar comigo. Quer dá uma volta mais tarde? Sei que também é nova na cidade.
- Claro, adoraria.
- Ótimo. Vai fazer alguma coisa depois da aula?
- Não, eu acho que não.
- Certo, vamos passar na minha casa antes, tudo bem?

Eu não sei, tudo bem levar uma pessoa que acabou de conhecer, para sua casa?

- Tudo bem ir à sua casa? - Pergunto.
- Claro! Você não tem cara que é uma assassina, ou uma ladra. - Clara começa a rir de sua própria piada sem graça. - Não precisa se preocupar.
- Não... Eu não faço isso. - Ela me olha com surpresa, estava brincando comigo, então começo a rir também, sem jeito.
- Encontro você no portão, tudo bem?
- Claro - Respondo.

O sinal para voltar às salas toca, e então voltamos a nossas respectivas salas. No fim da tarde, espero Clara conforme o combinado. Mas depois de ter esperado exatas meia hora, Clara não apareceu, o que me deixou muito chateada.

Mais que um lugar.Onde histórias criam vida. Descubra agora