Desesperada

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Eu cheguei em casa fazendo o mínimo de barulho possível. Mas parece que quando queremos fazer silêncio, é quando mais fazemos barulhos. Célia desceu as escadas atordoada. Eu estava sentada no balcão, com a cabeça baixa, escorada nos meus braços. Não conseguia parar de chorar, tudo aquilo que eu havia descoberto, Klaus, Clara. Estava me perguntando o por quê daquilo ser comigo.
- Minha criança? Está tudo bem? O que está fazendo a essa hora sentada aqui na cozinha? - ela estava preocupada.
- Você sabe não é? - minha voz estava falhando. Mas eu precisava saber toda a verdade. Levantei a cabeça para ver o rosto de Célia. Ela estava branca, como se tivesse visto uma alma, olhei para trás só para conferir.
- Do que está falando minha filha? - ela falou, agora sem intonação nenhuma.
- Por favor Célia, conte-me a verdade. - estava exigindo.
- Do que está sabendo?
- Tudo! Sei que sou uma bruxa, que os "amigos" que me cercam são Nephilins enviados para me proteger, sei que venho de uma linhagem forte, de seres que não são humanos!
- Como soube disso tudo? O combinado era
...
- Me contar depois que eu começasse a ver as sombras? Pois é, eu já as vejo, desde nossa primeira noite aqui. - Célia me olhava assustada. Eu a contei de minha noite turbulenta, e ela me contou a verdadeira face de minha família.
- O verdadeiro propósito de termos vindo morar aqui, é para mantê-la afastada de quem estava de olho em sua família a muito tempo. Esperavam a sua chegada. A chegada de quem poderia mudar o destino de tudo. Enquanto você não via as sombras, estava tudo bem, porque era sinal de que seus poderes não haviam despertado. Apesar de despertarem assim que um bruxo chega a idade de 16 anos. Achamos estranho, você ter demorado tanto. Então percebemos. Era você a escolhida. Por isso resolvi não contá-la logo, achei que estava tudo bem. Mas não estava... - eu não sabia o que fazer. Precisava arranjar um jeito de me proteger. Célia me olhava, como se esperasse eu explodir, mas eu estava cansada, precisava urgente de um banho e de minha cama.

Fui para meu quarto, Célia o tempo todo ao meu lado. Não conseguia falar mais nada, minha garganta estava ardendo e eu estava exausta. Célia preparou meu banho de banheira e me levou até ela, esfregou minhas costas, e lavou meu cabelo. Logo depois o secou, e então me deitou na cama. Só saia lágrimas de mim, o tempo todo. Sem forças, adormeci.

Quando acordei, Célia havia preparado meu café, e o levou na minha cama.
- Não precisa ir a aula, liguei para lá, e disse que estava doente. - apenas assenti com a cabeça. Ainda estava tentando processar tudo o que havia descoberto. E o que mais me repetia era, eu era uma bruxa.
- O que você é, Célia? - ela me olhou, surpresa com a pergunta repentina. Não havia falado mais nada, desde ontem na cozinha. Ela então, sentou ao meu lado na cama.
- Sou uma bruxa anciã. Eu ensino magia. Estou com sua familia a décadas, e fiquei encarregada de cuidar de você. E ensina-la magia, quando despertasse. - olhei para ela, animada. Foi a melhor noticia que havia recebido. Eu iria poder me proteger só.
- E quando iremos começar? - eu estava ansiosa e com medo.
- Você tem que se acalmar primeiro, tome seu café, tome um banho. E depois iremos conversar. - ela se retirou de meu quarto. Terminei de comer minhas torradas, e as coloquei na mesinha ao lado de minha cama.

Sentei-me dentro da banheira, a água estava quente e aconchegante. Meus músculos estavam tensos, e finalmente estavam relaxando. Então eu era uma bruxa? Mas eu nunca havia notado sinal de poder nenhum, como poderia? Então eu tentei. Concentre-se. Tentei mover ou levitar os frascos de sais de banho ao lado da banheira. Mas não obtive sucesso algum. Fiquei decepcionada. Só sendo mesmo, eu? Tenho algum poder? Piada.

Encontrei Célia sentada no sofá, havia mais alguém com ela, mas não a reconheci. Era uma mulher, alta, magra, com um coque ruivo, sardas e olhos azuis. Elas se levantaram ao me ver.
- Ó minha queria Melinda! - seu sotaque dizia que ela não era daqui. Estranhei, ela parecia me conhecer.
- Quem é você? - não quis ser rude, mas não estava com paciência.
- Ó, é claro. Não teria como lembrar de mim... Você era tão pequena... Meu nome é Cristina. Célia me avisou que tinha despertado, e que já estavam atrás de você. Estou aqui para levá-la. - espere, o que?
- Como assim me levar? Célia? Me expliquem! - eu estava assustada, para onde iriam me levar?
- Por favor, se acalme minha filha. - Célia respondeu com toda calma. Era seu dom. - Sente-se, por favor. - me sentei e esperei as duas mulheres me explicarem, foi então que ouvi batidas na porta. Quando Célia abriu, Klaus e Clara passaram por ela, e se posicionaram atrás de Cris. Clara me deu um leve sorriso, e Klaus não olhou em meu rosto. Que nesse momento, provavelmente era de pânico.
- Teremos de leva-la a uma outra escola. - escola? - Uma escola especial, para alunos super dotados. Você terá aula normal pela manhã, com alunos normais e a tarde, terá aula para poder se especializar em bruxaria. Clara irá com você, Nephilins também tem aulas lá.
- Que escola? E Célia? Não virá comigo? - eu estava triste, não queria me separar dela. E Klaus? Não iria vir também? Quis perguntar para ele, mas ele ainda não olhava para mim. Apenas para suas mãos encostadas no sofá atrás de Cris.
- Infelizmente não, minha querida. O colégio que irás, é um internato, não poderei ir contigo. Mas irei sempre visitá-la, para ver como estás, e para ver o andamento de suas aulas especiais. - eu estava olhando para minhas mãos sobre minhas pernas, iria ficar longe dela pela primeira vez em minha vida. Ela era como uma mãe para mim. Espera. Meus pais!
- E meus pais? Eles sabem disso tudo?
- Sabem. Mas seus pais não possuem poderes, apesar de toda sua linhagem ser poderosa. Apenas alguns tiveram esse dom. - Cristina respondeu.
- Ah... - eu estava perplexa com tudo. - Tenho que arrumar minhas coisas agora?
- Bem... Sim, suas aulas começarão na segunda que vem, mas você irá nessa quarta. - Célia me olhava com ternura. Reconhecendo minha tristeza. Assenti e me levantei. Todos ficaram me olhando, mas eu apenas fui em direção ao meu quarto. Eu deveria aceitar tudo tão fácil? Deveria lutar contra? Provavelmente não... Me sinto péssima.

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