Mais um?

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Pela primeira vez, acordei antes do despertador. Era pouco mais das seis da manhã, não aguentava mais ficar bolando na cama. As lembranças da noite anterior ficavam repetindo a todo momento em minha mente. Klaus olhando no fundo de meus olhos, jantando comigo, na minha casa. Aquilo realmente aconteceu? Como pude deixar? Ele tem namorada, e é um mala.

Na sala de aula, o vejo sentado no fundo da sala, rodeado de amigos. Tento não encarar, para que não perceba. Ele nunca vai falar comigo aqui, por que estou tão surpresa? Ele nem sequer olhou em minha cara quando entrei. Que raiva de mim mesma, me permiti apaixonar, logo por ele. Abaixo minha cabeça na mesa, quieta, meu coração novamente se aperta. Quanto tempo isso irá durar?

Sinto meu olho encher de água, balanço a cabeça e pisco repetidamente. Nada disso Mel, nada de chorar por garotos! Olho em volta, para ver se alguém observava minha reação. Infelizmente havia, ele estava olhando pra mim com certa expressão de dor. Eu nunca o havia notado, mas o capuz em sua cabeça, me lembrou que já o tinha visto. Ele quem me salvou das sombras, dias atrás. Seu cabelo era negro, a pele quase transparente de tão branca, e olhos verdes. Era tão lindo, quanto Klaus.

No fim da aula, apressei-me para sair dali, não queria ver ninguém, apenas o silêncio de meu quarto. Chegando no estacionamento, já estava começando a chover, o dia hoje parecia colaborar com meus sentimentos, coloquei o capuz de meu moletom e corri em direção ao carro.

Avistei o garoto da minha sala, sentado ao lado de um dos carros, com a cabeça abaixada. Fiquei curiosa ao ver aquilo e resolvi me aproximar. Parei na sua frente e me abaixei para ver seu rosto, ao perceber que havia alguém a sua frente, ele ergueu a cabeça assustado. Seu olhar era afastado, sombrio. Ao me reconhecer, se levantou, me afastei um pouco e o observei sem dizer nada, seus olhos eram esverdeados como esmeraldas, e sua boca era rosada. Ele me olhou por segundos que pareceram uma eternidade. E saiu andando em direção a rua, me ignorando totalmente. Ventava forte e a chuva aumentava a cada minuto. Acabei indo atrás dele.

- Espere! - gritei, ainda mesmo sem saber o que falar.

Ele parou, por um momento achei que ia continuar seguindo, mas virou na minha direção e esperou que eu falasse algo mais. Seu olhar baixo, vazio. Continuei.

- Precisa de ajuda? - ele me olhou surpreso, virou seu rosto, como se quisesse lembrar de algo. Depois de segundos, ele começou a andar na minha direção, e só parou, após ficar a dois palmos de meu rosto, apesar de minha cabeça estar a altura de seu peitoral.
- Por que estava triste mais cedo, na sala? - ele disse. Como ele percebeu?
- Não estava... - falei envergonhada. Foi quando me toquei que havia me metido demais.
- Tudo bem. - sua voz era doce, e seu hálito fresco. E agora me olhava com ternura. Estávamos encharcados, mas a chuva já havia parado. Ele me olhava no fundo dos olhos, como se visse minha alma aflita. Tão próximos, muito perto. Perto demais.

Senti meu rosto esquentar e dei um passo para trás. Olhei para baixo, para que ele não notasse o quão vermelha havia ficado.

- Eu estou exausto, cansado de tudo, perdi a pessoa que mais amava e agora não sei o que fazer. - olho para ele perplexa, ele estava olhando para outra direção. Seus olhos haviam enchido de lagrimas, e ele procurou disfarçar. Fiquei sem saber o que fazer, apenas tive o impulso de abraça-lo.

Meu coração saltava em meu peito. Envolvi meus braços ao redor de suas costas e pousei minha cabeça sobre seu peito. Ele estava quente, apesar da chuva. E tinha um peitoral duro. Que peitoral! Ele continuou parado, mas depois envolveu seus braços fortes ao redor de meu pequeno corpo. Afastei-me dele rápido.

- Desculpe. - me senti confusa, ele apenas sorriu. Me virei e andei em direção ao meu carro. Quando olhei para trás novamente, não o vi. Estava sozinha.

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