"- Você achou estranho? Tudo aquilo ter acontecido tão rápido?" - eu estava ouvindo as vozes, sabia de quem se tratava. Era Clara. Eu não conseguia me mexer e nem abrir meus olhos, então resolvi apenas escutar.
"- O que você acha? Nunca que esperava que nos atacassem quando estivéssemos com ela. Está começando a ficar mais perigoso a cada dia que passa. Temos que arranjar logo, uma maneira de protegê-la melhor." - a voz era de Klaus. Do que estavam falando?
"- O que vamos fazer? Cris nos contou que aconteceria. Mas não pensávamos que seria tão rápido. Eles já estavam daquela forma, isso quer dizer que ela já os via, como não me contou?
- Você já a contatou? Cris deveria saber.
- Não. Acho que primeiro Mari deveria saber de tudo.
- Tudo bem. Vou buscar café, vai querer?
- Sim Klaus, seria ótimo."-
Acordo um pouco tonta. A onde eu estava? O sentimento de conhecimento havia brotado. Eu estava em um hospital. Mas por quê? Vi Clara encostada na minha maca, de cabeça baixa, como se estivesse dormindo. Eu não lembrava de como havia parado aqui. O que tinha sido toda aquela conversa?
- Clara? - eu a cutuquei, queria respostas. Ela levantou, havia tomado um susto.
- Mel!? Que bom que acordou... Eu estava ficando preocupada. - ela estava estranha.
- O que aconteceu? Por que estou aqui?
- Bem, você desmaiou... E nós a trouxemos para cá. O médico disse que você estava com a pressão baixa, e que não havia se alimentado quase o dia todo, e então você está tomando esses soros. - enquanto ela falava, desviava seus olhos dos meus, ele estava mentindo.
- Nós?
- Sim, eu e Klaus. Ele também está aqui, tomou uma injeção de insulina para melhorar, e foi buscar dois cafés.Eu não sabia o porquê. Mas não conseguia acreditar em que Clara dizia. Tinha mais uma coisa, algo que ela não estava me contando. Mas não conseguia me lembrar, era como se houvessem apagado, um borrão. Só me lembrara de estar sentada na cama de Klaus, nada mais. Klaus entrou no quarto segurando dois cafés, e entregou um para Clara, sorriu quando me viu acordada. Eu ainda estava magoada com ele, mesmo ele não tendo quase feito nada. Só me confundido.
- Ah, e ai Melzinha. Finalmente acordou. Estávamos preocupados. - ele sim sorria, como se nada estivesse acontecido.
- Sim... (Melzinha?) Mas quero sair daqui, preciso ir para casa. - eu estava chateada. Estavam me enganando. E quem era Cris?
- Tudo bem, você já recebeu alta. Assim que terminar esse soro, iremos.Na casa de Clara, estávamos conversando coisas aleatórias, ela fazia de tudo para não tocar em qualquer assunto do ocorrido. E eu desisti de insistir naquele momento. Quando começamos a falar do colégio, lembrei do garoto estranho de olhos cor de esmeralda que havia conhecido. Perguntei a Clara de quem se tratava, e ela respondeu com surpresa.
- Você conheceu o Kaleb? Que estranho... Ele não fala mais com ninguém a meses... - então seu nome era Kaleb?
- Bom, sim. Foi de uma maneira estranha que o conheci.
- Bem, ele era bem entrosado com todo mundo no início. Era bem popular, mas começou a mudar com todo mundo, passou a usar apenas aquele moletom preto, a cada vez mais falar com menos pessoas, até que não falava com mais ninguém. Fico surpresa por ter falado com ele. O que conversaram?
- Nada demais... Só nos esbarramos outro dia no estacionamento e trocamos algumas palavras... Estava chovendo então, foi bem rápido. - menti, estava desconfiada de Clara.
- Deve tomar cuidado andando sozinha, a cidade não é muito confiável. Principalmente a noite. - lembrei-me das sombras, mas logo afastei as lembranças. Não queria que elas aparecessem ali, do nada.
- O que quer dizer?
- Nada, só que deves ter cuidado, há boatos que estão tendo muito sequestros ultimamente. Dizem que as ruas de Florença se transformam de noite. Como se demônios ficassem a solta. Nunca ouviu falar? - Clara estava suspeita, como se quisesse que eu lhe contasse algo.
- Não, só ouvi coisas boas. - eu estava com medo. Com medo de que tudo aquilo que eu via fosse verdade.
- Bem... Dizem que quem estavam sequestrando pessoas, não eram humanos, e sim uma espécie de demônio. Dizem que eles sequestram, e logo depois devolvem a pessoa. E ela fica como se fosse alguém isolado. Falam também que foi isso o que aconteceu com o Kaleb. - Clara percebeu que eu havia começado a suar, mesmo a temperatura estando a baixo de 15°. E então ela começou a rir. - Você não acha que isso é verdade, não é? Foi só uma história que inventaram, essa cidade não é lá muito cheia de novidades.Eu não estava entendendo, ela estava brincando com isso? Ou era eu que estava levando a sério demais?
- Mas como assim? Acha que roubaram a alma de Kaleb? - eu estava perplexa.
- É o que dizem. Mas ele só deve ter passado por uma experiência muito ruim, não sei. São invenções, não deve sentir medo disso. Além do mais, acho que demônios não pegariam a alma de alguém assim, a não ser que a entregassem...
- Acha que ele entregou sua alma? Por que ele faria isso?
- Mel, é só uma história. Eu acho mesmo é que você deveria ir para casa, já está tarde, e você não deu notícia alguma para Célia. - e era verdade. Eu havia saido de casa de manhã, e já estava tarde da noite, estava cansada. O dia tinha sido longo.
- Tem razão. Preciso descansar.
- Consegue ir só? Ou quer que eu ou Klaus a leve para casa? - a imaginação de ter ele novamente a sós me perturbou.
- Consigo sim. Quando chegar, eu aviso. - Despedi-me dos dois e fui para casa.
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Mais que um lugar.
FantasyMelinda pensava que após mudar de cidade, tudo iria mudar, apesar de ingressar já no 2 ano do ensino médio, seria uma nova escola, poderia ter amigos. Principalmente amigos, esperava que pudesse finalmente, ter amigos. Mas tudo mudou a partir de sua...