III

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Foi no final do verão que Colin e Francesca falaram pela primeira vez, Colin estava no parque a fazer uns passes de Rugby com o irmão Tiago quando uma dúzia de folhas A4 voaram para junto dos seus pés e ouviu-se uma voz a gritar para não as deixarem fugir, a reação dele foi pisar as folhas com os pés, a ideia teria sido boa se não tivesse acabado por estragar os desenhos que se encontravam nas folhas.

- És idiota? Tira o pé de cima dos meus desenhos vais estraga-los completamente! – ele conhecia aquela voz, aliás já a ouvira várias vezes sobretudo na companhia do seu irmão, Tiago não parava de rir feito um adolescente, Colin não se mexia porque se realmente tirasse o pé os desenhos acabariam por voar e aquela rapariga irritante não os ia ter de jeito nenhum, pelo menos assim sempre os podia recopiar pensou ele. Quando teve coragem de se virar lá estava ela, a amiga mais bonita e irritante do seu irmão, com os cabelos loiros encaracolados muito mal apertados no topo da cabeça com o que parecia ser um lápis, e os olhos castanhos mais furiosos e engraçados que ele já tinha visto, pela primeira vez em 2 anos Colin apercebeu-se que a rapariga afinal até tinha alguma beleza.

- Tu não ouves, tira o pé dos meus desenhos, agora! – ali estava ela ajoelhada aos seus pés a tentar arrancar as folhas debaixo deles. Ele conseguiu se mexer e como as gargalhadas do irmão não sessavam ele pensou que devia estar com ar mesmo ridículo e finalmente conseguiu abrir a boca para falar.

- Tu é que disseste para não as deixar fugir. – ela fulminou-o com um olhar que quase o fez derreter de riso.

- Não deixar fugir, não disse para os estragar, mais valia mesmo os teres deixado aterrar no rio que o resultado era o mesmo.

Ele como se um diabo o tivesse possuído abaixa-se para pegar ele mesmo nas folhas e começa a andar apressada e furiosamente em direção ao rio, seguido por uma Francesca furiosa e ligeiramente histérica que implorava para que ele lhe devolvesse os seus desenhos.

- Dá-me já os meus desenhos!

- Não disseste que era igual a terem aterrado no rio, pois vamos ver.

- Mas agora já lhes puseste o pé em cima não precisam ir para a água.

- Sabes que no mínimo devias agradecer por eu os ter impedido de fugirem.

- Colin...

Ela não acabou a frase e apercebera-se que fora a primeira vez que o tratara pelo seu nome, gostou da sensação que era ter o seu nome nos lábios dela, e ao que tudo indica ele gostou da sensação de ouvir o seu nome ser dito por ela porque ficaram os dois imóveis e ela sentiu a pele queimar com os olhos de um azul intenso penetrarem nos seus simples castanhos avelã.

- Vá lá já chega Colin, dá lá os desenhos à Francesca.

Interveio Tiago e foi como se um balde de água gelada lhes tivesse caído em cima, os dois voltaram os seus olhos para ele.

- Só se aqui a tua amiguinha me agradecer por lhe ter apanhado os desenhos.

- Não vou agradecer teres-me estragado os desenhos! – retorquiu Francesca enquanto olhava para Tiago que estava com ar demasiado animado para ser levado a sério e abanou os ombros em forma de rendição e abandono, Colin fez um pequeno movimento fingindo que ia deixar cair os desenhos na água e a palavra Obrigada saiu dos lábios de Francesca

- Obrigada. Obrigada Colin por teres colocado um pé em cima dos meus desenhos que estavam a fugir com o vento, mesmo se isso fez com que os arruinasses completamente.

Ele devolveu-lhe os desenhos com um enorme sorriso de satisfação no rosto e ela simplesmente virou costas e disse tchau ao seu amigo, apenas ao seu amigo.

§

- Que sorriso mais idiota é esse? – disse Rodrigo trazendo Colin para a realidade, o sorriso era o mesmo que tinha no parque quando aquela loira lhe virou as costas mas o lugar estava muito distante de ser o mesmo e no entanto tinham-se passado apenas dois meses.

- Estás a pensar no nosso encontro de logo à noite tenho a certeza, não é querido?

- Sim Penelope, tenho a certeza que ele está a pensar nisso. – Rodrigo não era parvo nenhum e sabia muito bem onde os pensamentos do amigo estavam e como ele nem respondeu à pergunta de Penelope só acabava por confirmar que tinha razão, então quando viu que Francesca estava a acabar de limpar uma mesa decidiu levantar-se e ir junto dela.

- Rodrigo, precisas de alguma coisa? – tem um sorriso um bocado forçado mas não pode simplesmente mal tratá-lo já que é um cliente como outro qualquer, ela sabia dos rumores que havia de que andavam a encontrar-se e nem se preocupou em desmentir, primeiro porque nunca se preocupou com o que as pessoas podiam falar dela e depois parte dela também gostava de dar o troco a Colin por a ter abandonado pela Penelope.

- Não, só estava com vontade de falar contigo um bocadinho. – Ela tinha de concordar que Rodrigo era lindo de morrer, não tinha uma beleza incomum como Colin que era moreno de olhos claros mas tinha uma sensualidade capaz de fazer várias mulheres suspirar de amores por ele, e até gostava dele, nunca a tratava mal como o resto dos amigos que seguiam as piadas da Rainha Penelope, a verdade é que tinham certa razão, uma filha de presidente trabalhar num lanchonete aos 17 anos não era nada comum.

Colin não parava de observar os dois a falarem no meio do salão e nem se preocupou em ser minimamente discreto uma vez que quer a mesa do irmão quer a dele estavam todos vidrados nele que se preparava para se levantar e provavelmente se intrometer na conversa dos dois quando sente duas mãos apertarem o seu rosto e uma boca faminta colada à sua, não sabe se por instinto ou pura burrice deu acesso à língua de Penelope abrindo a boca no entanto o seu corpo continuava imóvel.

Francesca tentou, tentou não olhar mas o barulho era demasiado para que ela não olhasse para ver o que se estava a passar na mesa de Colin e lá estava ele ao beijos com uma que não ela, sentiu a cabeça rodar, o estômago ferver e de repente todo o seu pequeno-almoço estava a percorrer um caminho muito perturbador em direção à boca, ela teve o tempo preciso para chegar à casa de banho e vomitar tudo que tinha ingerido até ao momento, felizmente ainda só eram 11horas da manhã e não tinha comido muito, sentiu a mão de Gina apoiada nas suas costas e quando o enjoo acabou sentiu o rosto quente e húmido das lágrimas que caíam.

Colin meteu fim àquele beijo ridículo e quando olhou para a sala Rodrigo estava com um sorriso estampado no rosto como se o tivesse à agradecer pelo beijo que deu a Penelope, Francesca já não estava na sala e isso fez o coração de Colin apertar-se a ponto de doer, João saiu da lanchonete furioso seguido por Tiago que dá um olhar de reprovação ao irmão que faz o seu coração doer ainda mais, Colin não sabia como tinha chegado a esta situação, não sabia como se tinha tornado naquela pessoa vingativa mas a verdade é que cada vez que fazia alguma coisa que magoasse Francesca o seu coração doía ainda mais depois.

Eterno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora