XVI

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V. Carolina

Quando abro a porta para pedir desculpa à mamã de como lhe falei ouço que falam sobre o meu pai e fico a ouvir, sei que é feio fazer isso e a mamã não me deixa mas eu quero muito saber quem ele é. A mamã contou-me que eles eram namorados e que ele não sabe que eu existo porque a deixou para ter outra namorada e a mamã achou que estava melhor longe e sozinha. Mas eu quero saber quem é, saber porque deixou a minha mamã sozinha.

"Tens de lhe contar. Pelo menos ao Colin.

E como é que lhe vou dizer que não abortei e que a Carolina é filha dele?"

O tio Colin é meu pai. O Colin Laqueiulle. A estrela de futebol. O homem que conheci no parque e que chamei de fraco. Por isso que a mamã não gostou que eu chamasse tio e ficou tão zangada comigo. É ele o rosto nos seus retratos. Afinal ela não desenhava a estrela de futebol, ela desenhava o meu pai.


V. Colin

A reacção da Francesca quando a miúda me chamou de tio e pediu para sair comigo foi exagerada, ela sabe que eu não ia fazer nada de mal com a filha dela, com uma criança as depois da forma como eu a insultei ontem entendo que não me quisesse ver à frente, ainda mais quando acordasse. As palavras daquele amiguinho dela que acabei por descobrir que afinal não é marido não param de ecoar na minha cabeça.

"Como vês não sou eu o pai."

Como se ele não ser o pai fosse mudar alguma coisa nesta embrulhada toda, passei o dia a pensar na situação que aconteceu de manhã e preciso tirar isso rapidamente da cabeça se quero seguir com o plano de esta noite. Está tudo organizado e decorado na lanchonete para pedir a Penelope em casamento, tinha intenções de manter a Francesca longe para evitar dramas, ou sinceramente para não me fazer mudar de ideias mas com esta confusão toda acabei por esquecer de avisar a Gina e o meu irmão para não a trazerem. Passa pouco das dez da noite quando os eles chegam e para meu alivio nenhum dos três vêm com eles.


- Tens a certeza disto irmão?

- Não. Mas também não posso voltar atrás.

- Escusas de olhar para a porta. Ela não vem.

- Quem? O quê? Eu não estou a olhar.

- Claro que não cunhado claro que não.


Eles vão sentar-se e quando a Penelope entra a banda começa a tocar uma música horrível romântica e ela coloca um sorriso e uma cara de surpresa que se eu não a conhecesse diria que estava realmente a ser sincera. Coloco-me com um joelho no chão à sua frente e abro a caixinha preta que trazia no bolso das calças de ganga, quando abro ouço um pequeno chiar e pela tonalidade não se trata de Penelope, é demasiado suave e quando olho na direção da porta trata-se da Carolina que tem no rosto a expressão mais admirada e desiludida que vi no rosto de uma criança, atrás dela está a Francesca que nem se esforça por conter a tristeza e de cabeça baixa volta a sair da lanchonete arrastando a filha com ela. Continuo a olhar esquecendo por momentos do que me trouxe ali mas sou trazido para a realidade pela voz estridente de Penelope.


- Colin então?

- Hummm desculpa.

- ESPERA!


Uma voz que já há muito não ouvia faz-me levantar do chão de imediato.


Eterno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora