XII

98 8 0
                                    

Eu sabia que a Gina ia querer explicações mas pensei que pelo menos ia esperar até eu regressar, não consigo ter esta conversa enquanto o Colin está à minha espera lá em baixo e quando tenho que me preparar para passar um dia com ele a organizar um casamento.


- Não foi isso que eu disse.

- Foi o que deu a entender.

- Bem isso não é problema meu eu disse que tenho a minha família e é isso que eu considero o Simão.

- Tu não estás a ver que esta decisão dele casar com a Penelope agora é por teres aparecido?

- Não fui eu que disse que tinha alguém primeiro. Agora vou embora Gina. Eu estou bem sozinha ele que case com ela.

- MENTIROSA!


Ouço-a gritar quando fecho a porta do apartamento e não me consigo impedir de rir, como se alguma vez eu conseguisse enganar a minha melhor amiga. Desço e dou de caras com um Colin diferente do que se apresentou esta manhã à porta de casa.


- Desculpa a Gina precisava mesmo de mim.

- Não há problema. Onde vamos primeiro?

- À Quinta tratar da decoração.

- OK.


Não me diz mais nada e entra no carro para o qual eu o sigo e por mais que não quisesse conversar este silêncio está a ser ainda pior. Baixo o volume da música que eu sei que ele aumentou propositadamente para evitar o diálogo entre nós.


- Então quando estás a pensar fazer o grande pedido?


Eu devo ser masoquista para estar a querer ter esta conversa, sou uma idiota e pelo olhar dele sei que ele está a pensar exatamente o mesmo de mim, onde quero eu chegar com isto?


- Não precisas fazer isto Francesca.

- Fazer o quê?

- Fingir que somos amigos.

- Autch, pensei que éramos.

- Sabes tão bem quanto eu que não gostas da ideia de eu me casar com ela.

- Vejo que não mudaste muito.

- O que queres dizer com isso?

- Ainda achas que sabes o que eu penso.

- Vais-me dizer que gostas do facto de eu ainda namorar com a Penelope?

- Chegamos!


Colin para o carro e eu evito responder saindo de imediato, mas não vamos ficar aqui o dia todo e sei que vai ser uma conversa inevitável e inexplicavelmente fui eu que comecei com ela, e ele faz questão de me recordar isso.


- Não vais fugir desta vez!


Passamos aqui três horas a falar com responsáveis e a escolher uma decoração que nos agradasse, optamos por o tema de cinema e quando se ofereceram para provarmos os pratos decidimos aceitar e assim resolver tudo no mesmo dia. Vamos dar um passeio pelos jardins enquanto nos preparam a mesa com diferentes ementas.

Tenho ao meu lado um Colin apreensivo e desejoso por terminar a conversa que iniciamos no carro e não quero ser eu a falar sobre isso portanto tento uma manobra de diversão.


- Acho que eles vão gostar do tema.

- Sim também acho, é a cara deles.

- E este jardim vai ser perfeito para a cerimónia.

- Porquê que estás a fazer isto?

- Fazer o quê Colin?

- Fingir que não se passa nada.

- Não sei do que estás a falar, aliás não se passa nada.

- Vais dizer que não sentiste nada quando me viste ontem?

- Claro que senti. Já não nos víamos há anos.

- Sabes bem do que quero falar.

- Não estava à espera de te ver antes do dia do casamento.

- Pois e não eras pra ver.

- Então quando te vi ainda não estava mentalizada, temos uma história, foste o meu primeiro amor, acho que nunca me vai ser indiferente a tua presença.

- Sabes que o que te pergunto é o que sentiste quando me viste.


Ele aproxima-se de mim e preciso levantar ligeiramente a cabeça para conseguir ver-lhe o rosto, os olhos estão fixos nos meus e o intenso azul faz com as minhas forças abandonem o meu corpo e comece a tremer.


- Não me faças isto Colin por favor.

- Fazer o quê?


Coloca a mão direita sobre o meu rosto e as minhas bochechas começam a arder e palavras saem da minha boca sem que eu as consiga conter.


- Eu amei-te Colin. Com tudo que tinha e tu deixaste-me do dia para a noite sem aviso.

- E julgas que eu não te amava? Eras tudo pra mim mas quando me traíste não tive nem coragem de olhar para a tua cara.

- Eu nunca te traí!


Há dez anos que esta história me persegue e continuo sem entender o que realmente aconteceu para ele insistir em acusar-me de o ter traído, é o momento de resolver este mal-entendido mas somos interrompidos pelo ajudante do responsável pelo casamento da Gina com o Tiago.


- Vejo que já conhecem os jardins.

- Sim e adoramos.

- Fazem um casal muito bonito e tenho certeza de que o vosso casamento vai durar.

- Oh mas nós não... - começo por dizer mas o Colin interrompe entrelaçando a minha mão na dele fazendo-me perder a força nas pernas e quase acabar estendida no meio do relvado.

- Obrigado.

- Os pratos estão prontos para vocês provarem e escolherem.


Acabadas as provas e feitas as escolhas dirigimos-nos em silêncio até casa, nenhum dos dois voltou a tocar no assunto da traição nem da Penelope e do casamento, quando chegamos ao prédio da Gina coloco a mão no puxador para abrir a porta e Colin coloca a dele sobre a minha impedindo-me de sair. Evito olhar para ele porque sei exatamente o que acontece se o fizer.


- Não pode ser possível que tivesses mexido tanto comigo Francesca.

- Colin...

- Não. Ouve-me, eu sei que fui um parvalhão em meter-me com a Penelope mas fiquei cego de raiva e ciúme.

- Mas de quê? Eu nunca fiz nada para que me deixasses da forma que o fizeste.

- Mostraram-me umas fotografias de ti aos beijos com outro tipo e eu nem pensei em falar contigo.

- Eu nunca beijei ninguém para além de ti, devias ter confiado em mim.

- Eu sei mas.

- A Penelope.

- Não a Penelope não teve nada a ver com isto.

- Não Colin. A Penelope vem aí.

Eterno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora